Tela Clássica

14:25:00 Unknown 7 Comments

"A Tela Clássica" é um novo espaço que estreará hoje no Cinema's Challenge. Há muito que tenho seguido vários blogues que fogem aos temas habitualmente tratados nas centenas que existem espalhados pela internet, onde o tipo de cinema tratado é muito raro. Falo de blogues que fogem ao comercial actual, que deambulam pelos clássicos, pelo menos banal e pelo cinema mais escondido entre as memórias do passado. São espaços ímpares na blogosfera e cuja importância é colossal para quem quer sempre aprender mais. Por isso, como forma de enriquecer o meu blog e o conhecimento de todos os leitores, tenho a honra de anunciar que convidei o Francisco Rocha do blogue "My One Thousand Movies" a escrever todas as semanas sobre o "seu cinema", um cinema ainda muito misterioso para os mais jovens, para os mais desatentos e os mais 'verdes', mas um cinema que merece igualmente visibilidade e interesse por parte de todos os que amam a Sétima Arte.


Angst vs Henry

Existe um grande paralelismo entre "Angst", de Gerald Kargl, e "Henry - Portrait of a Serial Killer", de John McNaughton. Eu considero-os dois filmes gémeos, que se completam um ao outro. O assunto em questão é o serial-killer, mas ambos fogem dos padrões mais convencionais do género. Não os considero filmes de terror; não existem sustos fáceis, efeitos especiais do outro mundo nem nada dessas coisas. Eles debruçam-se sobre o factor psicológico do assassino: cruel, realista, desprovido de emoções. Eles matam por matar, aparentemente sem razão lógica. Afinal de contas, o que é que move um serial-killer? É sobre esta matéria que se debruçam estes dois filmes. Há um enorme primor técnico por trás destas belíssimas obras. Toda a personalidade dos assassinos é muito bem trabalhada, com um ritmo certo por parte da narrativa que faz com que entendamos melhor o comportamento do psicopata e toda sua ânsia para satisfazer os seus impulsos, até chegar ao clímax que pode parecer um pouco decepcionante para alguns. Contudo, a forma que todas a sequências são trabalhadas reflectem bem o estado psicológico em que os protagonistas se encontravam em tal momento.
"Angst" e "Henry" foram produzidos em plena década de 80, em lados opostos do Atlântico, numa altura em que não havia muito lugar ao cinema alternativo e nem tínhamos os meios de divulgação que podemos encontrar hoje em dia. Por isso mesmo, tornaram-se filmes obscuros, malditos e confinados a serem exibidos em festivais ou mostras de cinema. “Henry”, por exemplo, foi produzido em 1986, mas esteve 3 anos para chegar ao circuito comercial. A comissão responsável por emitir a classificação etária para exibição não conseguiu chegar a uma conclusão sobre que tipo de público que estaria apto para ver tal produção. Teve finalmente estreia em 1990. No ano seguinte, chegava ao Fantasporto, onde foi um dos vencedores mais meritórios até hoje, ao sair do festival com 4 prémios (Melhor Filme, Argumento, Actor e Actriz). “Angst”, produzido em 1983, sofreu muito com a censura. Esteve banido durante vários anos e em vários países, culpa da violência gratuita apresentada. O facto de ter sido produzido na Áustria e numa língua diferente da inglesa também não ajudou muito na sua divulgação. Grande parte do sucesso destas obras assenta nas magníficas interpretações dos dois protagonistas: Erwin Leder do lado de “Angst” e Michael Rooker como Henry. Leder interpreta uma personagem desprovida de diálogos, onde a acção é costurada e entrecortada pelos monólogos interiores do protagonista, gerando uma espécie de "justificativa" psicológica para os seus actos abomináveis. O Henry de Michael Rooker é uma das personagens mais frias da história do cinema - calculista, sádica com uma crueldade poucas vezes vista até hoje. Esqueçam “O Silêncio dos Inocentes” ou “Sete Pecados Mortais”. Estes são o filme, que considero, irrevogáveis sobre serial-killers.

Por :Francisco Rocha

7 comentários:

  1. Caramba pá! Não deixais uma pessoa em paz de alma... quer-se dizer com todo esse discurso e tal, do Francisco (bela exposição de ideias - BOA!)... um tipo fica apara aqui lixado do juizo e em ansias para ver o "Henry". Isto não se faz a um pobre coitado que julga que já viu muitos filmes (e que até suspeita já o ter visto mas... nunca ficar numa memória que começa a falhar).
    Malditos os dois responsáveis por isso (a vil Andreia e o maquiavélico Francisco - ides arder ides!).
    Agora vou até ali dar uma volta, em estado condescendente... e fazer de conta que nunca ouvi falar no "Henry"... e que nunca gostei de filmes de serial-killers... e que nem gosto de ver filmes sequer... e... damn you all!

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  2. Desiludiu-me muito o Henry. Bom texto ;)

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  3. Boa iniciativa. É sempre bom ler o que o Chico escreve... confesso que na maioria das vezes só leio, não comento. O Chico sabe que a realidade cinematográfica dele está "um bocadinho longe da minha". Mas gosto muito de visitar o espaço dele. Gosto muito dele, e gosto sobretudo do facto de que o Chico respeita todos os gostos, sem nunca ter "tendências intelectuais e discriminatórias" para com a malta que gosta de cinema "mais comercial e actual".

    Virei aqui sempre. com muito gosto.

    kiss kiss para os dois

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  4. ArmPaulo: Obrigada, vou continuar a tentar fazer um bom trabalho ;) e com a ajuda do Chico vai ser ainda mais interessante.

    Sofia: Obrigada :)

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  5. Obrigada Sofia. Já tenho muitos planos para os próximos posts ;)

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  6. Tenho de espreitar o Angst que ainda não vi!
    Bom texto!

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May the force be with you!