Tela Clássica:"Dom Roberto" e o Novo Cinema Português

15:34:00 Unknown 2 Comments

Os anos 60 foram anos de mudança. Um pouco por todo o mundo, as novas vagas de cinema, em grande parte inspiradas pelo pós - II Guerra Mundial, traziam um ar refrescante ao cinema mundial. A nova vaga mais conhecida, e uma das primeiras a ter lugar, foi a francesa, iniciada em finais dos anos 50. Diz-se que muitas das vagas posteriores foram influenciadas por esta, mas muitas também foram buscar influências ao neo-realismo italiano. Como a vaga portuguesa.

Portugal também teve a sua vaga. O cinema português anterior à década de 60 não era muito criativo. Fora um ou outro filme de Manoel de Oliveira ou Manuel Guimarães, que nesta altura filmavam com grande dificuldade, e predominavam as comédias de costumes, que regra geral eram quase sempre um sucesso do público, porque ao fim ao cabo eram uma espécie de revistas de teatro transportadas para o cinema. Todavia, não me identifico muito com estas comédias.

Foi por volta de 1962/63, que o novo cinema português 'explodiu' com duas obras que reclamam entre si o arranque desta nova vaga de cinema. O primeiro foi “Don Roberto”, de José Ernesto de Sousa. Ernesto de Sousa tinha sido fundador do primeiro cineclube de Portugal, e tinha uma formação cinéfila muito acentuada. Tinha tirado o curso de cinema na Cinemateca Francesa, e no período que viveu em França travou conhecimento com alguns dos futuros nomes importantes daquele cinema - como Truffaut, Resnais ou André Bazin. “Don Roberto” viu a luz do dia em Maio de 1962; uma estreia com grande aparato por ser algo de tão refrescante para o cinema português e foi logo seleccionado para o Festival de Cannes, tendo ganho a Menção Especial do Júri do Melhor Filme para a Juventude. Ernesto de Sousa não pode comparecer, tendo sido impedido pela Pide. Foi perseguido e preso.“Don Roberto” era um filme vanguardista, produzido em pleno auge do Estado Novo, sem qualquer colaboração do Estado, feito com fundos do movimento cineclubista de que Ernesto de Sousa era fundador. "Dom Roberto" marca o início de uma viragem formal, estética e ideológica na história do cinema em Portugal e seria sucedido por “Verdes Anos”, de Paulo Rocha, lançado no ano seguinte.“Verdes Anos” é provavelmente o melhor filme português de sempre e é muitas vezes considerado o primeiro filme do cinema novo português, mas sobre ele falarei noutra altura.

Os anos seguintes seriam dos melhores para o cinema português: "Belarmino", de Fernando Lopes; "Domingo à Tarde", de António de Macedo; "O Cerco", de António da Cunha Telles; "Uma Abelha na Chuva", de Fernando Lopes; "O Recado", de José Fonseca e Costa; "Perdido por Cem", de António Pedro Vasconcelos; "Pedro Só", de Alfredo Tropa;"A Promessa", de António de Macedo; "Brandos Costumes", de Alberto Seixas Santos. Todos eles anteriores ao 25 de Abril, e obras capitais do cinema português.


Pelo convidado: Francisco Rocha.

2 comentários:

  1. Venham mais artigos do Novo Cinema que nunca se falou suficientemente dele.

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  2. Uma Abelha na Chuva é um dos filmes da minha vida.

    É pena que a Nova Vaga do cinema português seja tão desconhecida...

    Bom texto!

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