"Seeking a Friend for the End of the World": o amor está onde menos se espera

09:25:00 Unknown 4 Comments

«O Fim do mundo» é uma expressão que tanto literalmente como metaforicamente desperta o melhor ou o pior das pessoas. O segundo caso é o mais comum em muitos dos filmes estreados nos últimos anos que têm como pano de fundo a profecia dos Maias. Ataques de zombies, desastres naturais, invasões alienígenas, pandemias, armas de destruição maciças, entre outros, são os panos de fundo usados para contar muitas histórias apocalípticas. Todas com abordagens bem dispares, porém todas com esse elemento em comum: o fim da humanidade tal como a conhecemos. São assim filmes que põe o público a pensar, tocando nos seus mais profundos medos. Dos mais recentes temos «4:44», «Melancolia», «Contágio» e de «The Road», que exploram os últimos dias de vida da humanidade. São obras que tratam o assunto de uma forma mais negativa e mostram a pior faceta da sociedade; quando esta é confrontada com a sua luta pela sobrevivência. 

Mas ao contrário destes, «Seeking a Friend for the End of the World» propõe uma receita bem mais optimista e talvez mais real quando se depara com o fim do mundo. Não querendo, por isso, dizer que não tem um tom dramático e desesperante, inerente ao próprio tema, porque o têm. Aliás, não o esconde e nem oculta que não pretende equilíbrios entre os géneros, mas, sim, um filme que flua por si mesmo. Temos comédia: com alguns momentos digno no início do filme (não fizesse Carell parte do elenco), porém vai-se tornando mais gratuita com o desenrolar deste, acabando por perder as gargalhadas do espectador. Temos drama: mesmo que meio mascarado com algum humor negro, há episódios bastante tocantes, que resultam bem. São fortes ao ponto de pensarmos no nosso percurso de vida e de nos comover. Temos romance: dotado de alguns momentos bonitos e até anti-românticos, o que os torna, por ironia, ainda mais românticos. Contudo, a uma certa altura da história existe também um excesso de fofura e melosidade que não sabemos bem de onde veio nem para onde caminha, acabando por manchar o tom descomprometido do filme. Para não falar do restante elenco, que é tão secundário e desnecessário que sem o mesmo o filme teria o mesmo sentido. De tudo, é talvez nestes dois pontos aqui que a realizadora e argumentista Lorena Scafaria condena o filme à mediocridade

Na história de «Até que o fim do mundo nos separe» o mundo tem os dias contados; um meteorito vai cair sobre a Terra dentro de poucos dias. Sem grandes amigos e sem esposa, Dodge (Steve Carell) vê-se sozinho. Enquanto todos optam por aproveita os últimos prazeres da vida, este não o faz. Em vez disso, acaba por conhecer a sua vizinha Penny (Keira Knightley), uma rapariga pouco comum. Com o fim do mundo próximo, ambos decidem entreajudar-se: Dodge ajudará Penny a ir ter com os seus pais e Penny ajudará Dodge a reencontrar a sua namorada de secundário. E é a partir desta premissa que a história ganha contornos.

Mesmo que esteja muito longe de ser um grande filme, tal como aconteceu com «Nick and Norah’s Infinite Playlist», com o argumento também assinado por Lorene Scafaria, o filme que faz de Carell e Knightley um casal consegue surpreender e entreter. Talvez o faça por nunca ter elevado as expectativas durante a sua promoção. Ou por não se ter apresentado ao público como um filme presunçoso: como o melhor do seu género, como muitos o fazem. Vestindo à primeira vista a pele de um road movie, acaba por ser bem mais que isso: É uma história de amor; é uma história de coragem; é uma história caricata tao impossível que se torna possível. Focando-se mais em explorar as vontades humanas e aquilo que as move. Tanto daqueles que fazem de tudo para ter uma ultima experiencia - através de orgias, festas intermináveis e invasão de casas – e que perdem o lado racional, até aqueles que procuram uma última oportunidade para saberem qual o sentido da sua vida e não deixam de ser conscientes – que é o caso da personagem principal do filme, Dodge.

A película aquece-nos a alma com temas como a solidão, a busca do verdadeiro amor, a coragem e a felicidade, que muitas vezes são esquecidos neste género de filmes. Mostrando-nos ainda que quem é bom talvez o continue a ser e prossiga assim até ao fim dos seus dias.


O melhor: O elenco e tom inicial descomprometido do filme, que oscila entre vários géneros sem nunca se tornar pesado.
O pior: O excesso de “mel” em algumas cenas e o restante elenco que pouco tem a oferecer ao público.

Nota: 6/10

4 comments:

May the force be with you!

WOODY ALLEN: O HOMEM DAS MIL ARTES

18:37:00 Unknown 0 Comments


Nascido no dia 1 de Dezembro de 1935, antes de adoptar o nome artístico pelo qual é conhecido, Woody Allen chamava-se Allan Stewart Königsberg. Embora o vejamos como um génio e alguém muito culto, curiosamente, Allen nunca se deu bem na escola. Nunca se chegou a formar, mesmo tendo frequentado a universidade de Nova Iorque.

Não foi pelo cinema que começou a ser conhecido, mas pelas piadas que escrevia e expunha nos seus shows de stand up comedy. Tanto que em 1964 foi nomeado pelas mesmas para um Grammy. A película chamava por si. E não durou mais que um ano até enveredar pelo mundo do cinema. Assim, de apenas comediante, passou a argumentista e actor do filme “What’s New Pussycat?”. Mas não tardou muito a sentar-se na cadeira de realizador. Foi em 1969 que dirigiu o seu primeiro filme, “Take the Money and Run”, sendo que desde aí executou e escreveu mais de 30 filmes. Em média o cineasta faz um por ano, cujo esforço quase inigualável o faz ser admirado por muitos colegas e fãs da área. Realizador, argumentista, escritor, comediante, músico e actor são algumas das suas várias facetas artísticas. Mesmo sendo melhor numas – como é o caso da realização e escrita -, do que outras – como a representação -, Allen nunca parou de evoluir.

Mas foi com “Annie Hall” que este brilhou no cinema, pois foi o filme que fez todos os homens apaixonarem-se por Diane Keaton e todas as mulheres quererem ser como ela. É ainda hoje uma obra admirada, bem premiada na altura, recebendo no total quatro Oscares: três para Allen pelo melhor filme, argumento, realização e um para Diane Keaton como melhor actriz. Também em “Hannah and her Sisters” (1986), o polivalente cineasta foi nomeado para o Oscar de melhor argumento original e mais 18 indicações em outras categorias e festivais. Não esquecendo que ao longo dos anos a mesma virtude foi alcançada com outros filmes. No entanto, como o mesmo admite, nunca fez filmes para agradar os parâmetros de Hollywood, tanto que nunca apareceu em nenhuma das galas, à excepção de uma em 2002 para prestar uma homenagem à cidade de Nova Iorque depois dos ataques de 11 de Setembro.

De Nova Iorque, mais propriamente Brooklyn, onde nasceu, para o mundo, é assim, em suma, a trajectória de vida do cineasta Woody Allen. Foi na cidade que nunca dorme que Allen rodou a maioria dos seus filmes, inclusive um dos seus mais famosos clássicos: “Manhattan” (1979). Pela segunda vez, o artista da sétima arte integrou no elenco de um dos seus filmes Diane Keaton e é com a mesma que acabou por ter um relacionamento. Problemático e polémico no que toca aos seus amores, Allen tem uma extensa lista de relações. Mesmo antes de tornar-se conhecido, o astro do cinema já tinha sido casado duas vezes e divorciado consequentemente também duas vezes com as respectivas companheiras. Talvez seja por isso que tem tantas histórias para contar no grande ecrã, que nos parecem ter um fundo tão real e próximo de episódios que já vivemos. Contudo, a verdade é que por muito óbvio que haja em cada filme um toque pessoal e partilha de experiência é difícil deslindar o que é real e ficção. O que foi vivido ou não por Woody e o que este ainda vai vivendo no seu dia-a-dia são um mistério. A sua vida sentimental e laboral sempre andou de mão dada ao longo da sua carreira. O que mais evidencia isso é o facto de todas as actrizes famosas com quem namorou terem sido as protagonistas dos seus filmes. Além de Keaton, podemos falar de outro caso muito conhecido, o de Mia Farrow, que entrou em vários filmes de Allen. E não foi muito longe desta que encontrou o seu actual amor, com quem é ainda casado, a filha adoptiva de Farrow, a jovem Soon Yi.

«Annie Hall» (1977)
Inspirado por grandes cineastas – como Ingmar Bergman, Groucho Marx, Federico Fellini e Cole Porter -, o pai da comédia-romântica inteligente já trabalhou com muitas actrizes e actores de renome. De diferentes idades, nacionalidades e géneros a lista é imensa, mas ficam aqui o nome de alguns deles: Carrie Fisher, Michael Caine, Madonna, Martin Landau, Gene Wilder, Angelica Huston, Meryl Streep, Sydney Pollack, Judy Davis, Liam Neeson, Juliette Lewis, Alan Alda, Goldie Hawn, Christina Ricci, Leonardo di Caprio, Edward Norton, Drew Barrymore, Julia Roberts, Naomi Watts, Tim Roth, Natalie Portman, Scarlett Johanson, Helen Hunt, Charlize Theron, Dan Aykroyd, Danny DeVito, Oewn Wilson, Jesse Einsenberg, entre muitos outros. Todavia, não foi apenas com actrizes já consagradas que trabalhou. É também conhecido por lançar novas caras; Mira Sorvino foi um desses casos em “ Mighty Aphrodite” (1995).

Sobre a sua carreira não é fácil apontar muitos momentos “baixos”, a qualidade foi sempre presente na sua filmografia. Conquanto, é óbvio que teve algumas super-obras que jamais serão igualadas por obras mais actuais também da sua autoria. Sendo que há quem aponte o ano 2000, altura em que firmou contrato com a Dreamworks, como o seu mais decadente. Dessa fase fazem parte filmes como “Small Time Crooks”, “The Curse of Jade Scorpion”, “Hollywood Ending” e “Anything Else”. Este último é reconhecido como um dos seus filmes mais fracos do género cómico-romântico.

Foi depois de deixar para trás a empresa de Spielberg que Allen voltou a brilhar. “Melinda and Melinda” foi a catapulta que o levou a aproximar-se do drama. Mas foi apenas com“Match Point” que conseguiu realizar esse desejo, sendo aplaudido pela crítica. Todavia, é um dos filmes que menos prezo, por se distanciar muito do seu tipo de cinema e não ter, por isso, a sua marca, que eu tanto gosto. Mesmo que não seja um dos meus preferidos, este filme teve um papel importante na cinematografia de Allen. Associou-o a Scarlett pela primeira vez e atirou-o por uma aventura pela Europa. A qual ainda não terminou a julgar pelo seu mais recente filme rodado em Itália – “To Rome with Love”. Depois do drama com Scarlett, seguiram-se vários filmes: “Scoop” e “Cassandra’s Dreams” (muito mal recebido pela crítica), em Inglaterra; “Vicky Cristina Barcelona”, em Espanha; “Whatever Works”, onde volta a cidade natal; “You Will Met a Tall Dark Stranger”, em Londres; e “Midnight in Paris”, em França.

«Melinda and Melinda» (2004)
Intelectual para uns e artística para outros, Woody Allen é na contemporaneidade um dos melhores realizadores ainda vivos. Continua a cumprir com o proposto: um filme por ano. Não deixando, que os títulos de “cineturista” ou “presunçoso” o travem de fazer mais e mais obras fílmicas. Até porque o próprio admite não gostar da maioria dos seus filmes, nem ter o intuito primordial de agradar à crítica ou público. O que por si é bastante intrigante. E incomum nos dias de hoje.

O realizador-argumentista-actor costuma incorporar personagens neuróticas e judias quando entra nos seus filmes; o que acontece bastantes vezes. Porém o que também é comum nas suas películas é o tipo de assuntos tratados, de foro existencialista e sentimental, que embora tomem várias formas para serem contados, acabam por ser sempre semelhantes. Entre o optimismo e pessimismo, o realizador consegue dar-nos a conhecer belas histórias, cuja mensagem no final torna-se sempre bem clara. Apesar de o seu género mais conhecido ser a comédia-romântica, o drama, mistério e estilo noir também são alguns dos diferentes géneros já adaptados ao cinema pelo mesmo no meio de tantos anos de carreira flamantes.

Texto originalmente escrito por mim para o site Arte-Factos.

0 comments:

May the force be with you!

15:38:00 Unknown 12 Comments

Conseguem adivinhar qual é esta personagem?
-Ao volante é um perigo propositadamente.
-Enfrentou muitas mulheres e no fim foi vencido por elas.
-Teve uma dance lap bem sensual.
- Gosta de dar boleia a miúdas novas.
- O seu carro tem um convoy duck.

12 comments:

May the force be with you!

Frankenweenie (2012)

13:38:00 Unknown 0 Comments

0 comments:

May the force be with you!

Realizadores que entram nos seus próprios filmes

09:36:00 Unknown 6 Comments

Existem os só realizadores, existem os realizadores-autores (aqueles que escrevem também o argumento) e existem os realizadores-actores (aqueles que entram nos seus próprios filmes). No entanto, ao longo dos anos tem surgido uma espécie ainda mais polivalente: os realizadores-autores-actores, como lhes gosto de chamar. Mas, quando falo deste conceito, não falo daqueles que começaram por representar e depois lembraram-se de dar "umas cartas" na realização só porque é giro. Falo de realizadores que frequentemente entram nos seus próprios filmes, os quais, na maioria dos casos são também escritos por eles. Isto é de actores já consagrados neste triplo papel. Desta lista, fazem parte caras bastante conhecidas de Hollywood, que actualmente são reconhecidos pelo sucesso do seu trabalho. Mesmo que na maioria dos casos no que diz respeito à representação não sejam grande coisa, conseguem compensar nos outros dois papéis que desempenham - como realizadores e como argumentistas.

Neste sentido, deixo-vos aqui uma lista de alguns dos nomes mais importantes do cinema contemporâneo, que obedecem a esta prática. Se se lembrarem de mais algum, façam o favor de o indicarem.


Woody Allen 

Além de ter escrito e realizador imensos filmes, um por ano mais exactamente desde 1966, Woody Allen conta com já muitas participações nos seus filmes, ora como co-protagonista, ora como o próprio protagonista. Alguns exemplos disso é o seu afamado "Annie Hall", "Manhattan", "Bananas" e o seu mais recente filme "To Rome with Love".


Quentin Tarantino

A sua filmografia pode não ser tão extensa como a de Allen, mas tem certamente motivos para estar orgulhoso, ou os seus filmes não seriam tão esperados e adorados pelo público em geral. No entanto, mesmo dando um pezinho nas suas películas, Quentin Tarantino opta por ser mais "discreto", aparecendo apenas numa ou outra cena. Não sendo por isso uma das personagens mais relevantes nos seus filmes, arrisco mesmo a dizer que o faz apenas por "gozo" e não por protagonismo. Para terem ideia, basta recordar filmes como "Pulp Fiction", "Reservoir Dogs", "Death Proof", entre muitos outros.

Clint Eastwood

Começou o seu trabalho como realizador em 1971, mas foi bem mais cedo, em 1955, que deu os primeiros passos na representação. Ao longo da sua carreira foi também produtor de vários filmes. Contudo, não é muito dado à escrita e por isso apenas se tem ficado pelo papel de realizador-actor, descurando das funções de argumentista. Mas como é um nome de peso, mesmo que não desempenho o triplo papel, decidi referi-lo nesta lista pela sua elevada qualidade tanto como realizador e tanto como actor. Apesar disso, é bem lembrado pelo seu duplo papel e tem conquistado novos seguidores dos seus filmes. Alguns dos mais polémicos e conhecidos: "Gran Torino", "Million Dollar Baby" e "Unforgiven".

Dennis Hopper

Além de actor, Dennis Hopper foi fotografo, escultor e pinto, antes de dar os primeiros passos na realização. Depois disso, apesar de não ter feito grandes filmes foi fazendo alguns ao longo dos anos. 
É sobretudo conhecido pela sua tripla prestação como realizador, argumentista e actor em "Easy Rider" e "The Last Movie", sendo que nos restantes foi apenas actor-realizador;exemplo: "Out of the Blue". É, todavia, mais reconhecido no papel de actor do que no de realizador, mesmo depois de ser responsável pelo sucesso de "Easy Rider".

José César Monteiro

O controverso cineasta português foi um dos elementos do grupo de jovens que se lançou com o chamado "Novo Cinema". Já falecido, era um homem de muitos talentos no que toca ao cinema: escrita, representação, crítica e realização foram as suas grandes paixões. Foi com a vida que aprendeu a fazer cinema, sendo irreverente e mordaz nas suas críticas integradas nos seus filmes. De muitos filmes, são de recordar alguns como "Recordações da Casa Amarela" e "A Comédia de Deus".

Julie Delpy
Primeiro a francesa foi actriz, depois fez as suas experiências atrás da câmara e apercebeu-se da sua paixão pela realização. Cantora, actriz, realizadora e escritora, Julie Delpy ganhou nome no mundo do cinema nos últimos anos, sobretudo pelo seu estilo cómico-trágico muito próximo do de Woody Allen. Começou por ser conhecida pelos lados de Hollywood pelo seu papel em "Before Sunrise", seguido do de "Before Sunset". Mas foi com outros três filmes que se considera que Delpy se tenha consagrado no papel de argumentista-actriz-realizadora: "Le Skylab", "Two Days in Paris" e "Two Days in New York".

6 comments:

May the force be with you!

CPO:"La Jetée", por João Pires

21:59:00 Unknown 1 Comments

Geógrafo, escritor, fotógrafo, músico e actor. Nasceu nos anos 70 em Valongo, no Norte do país, e divide a sua actividade entre Portugal e a Lituânia, onde reside. Notabilizou-se recentemente na área cinematográfica dando vida a "Bino", personagem carismático da saga "Balas & Bolinhos".

Como muitos dos que pela primeira vez tomaram conhecimento da existência deste filme do realizador francês Chris Marker, o meu primeiro contacto com esta obra-prima deu-se na altura em que visionei o filme “Twelve Monkeys”, de Terry Gilliam, há uns bons 15 anos. Lembro-me de ter ficado impressionado com a história adaptada por David Peoples (conhecido por "Unforgiven" e "Blade Runner") e não descansei enquanto não fui capaz de encontrar o produto que estava na génese deste filme do ex-Monty Python.
“La Jetée” é uma daquelas experiências cinematográficas que não se esquece. Com apenas meia hora de duração e praticamente circunscrito a uma sequência de fotografias a preto e branco, Chris Marker cria um ambiente que é ao mesmo tempo violento e enternecedor, apoiado pela profundidade da voz do narrador, hipnotizando-nos com cada sílaba da sua voz gasta, intensa e aveludada. A narrativa não segue os padrões lineares habituais, lembra-nos que a nossa memória pode também transportar-nos no tempo para o passado, para o futuro, libertando-nos da simples e restrita condição humana da vida no presente. 

Muito poucos filmes inventam uma nova forma de contar uma história. “La Jetée” faz muito mais que isso. Mostra-nos que todos os avanços tecnológicos à disposição do realizador de hoje são inúteis e frios, quando por trás não se encontra um verdadeiro criador. Marker utiliza uma câmara fotográfica, e os seus rolos de 35mm, para nos levar através de uma acção que deambula entre a percepção e a memória, entre o amor e a morte, entre a ficção científica e o romance (10 anos antes de “Solaris”, de Andrey Tarkovsky). 
Esta é uma história de amor. De um amor que se estende literalmente pelos corredores do Tempo, que aniquila qualquer circunstância presente, qualquer catástrofe que possa cair sobre o Homem ou sobre o mundo. E este é um filme que ficará para sempre. 

1 comments:

May the force be with you!

Bill Murray sopra 62 belas!

16:49:00 Unknown 0 Comments

Com uma carreira repleta de interessantes filmes, Bill Murray comemora hoje 62 anos. Os nosso pais provavelmente conhecem-no por filmes como o "Caças Fantasmas", nós, mais jovens, fomos o conhecendo cada vez melhor ao longo dos anos com filmes como "Ed Wood", "O Feitiço do Tempo", "O Amor é um Lugar Estranho" e "Flores Partidas"...Mas não se ficou por aqui, nos últimos anos já entrou em três filmes de Wes Anderson: "os Tenenbaums - Uma Família Genial", "Um Peixe Fora de Água" e "Moonrise Kingdom". E teve uma aparição  bem engraçada, através de um cameo, em "Zombieland", onde fez uma piada à sua integração no elenco de um dos seus outros filmes - Garfield.

Por tudo isto, e muito mais, só temos de agradecer que tenha escolhido ser actor como profissão e desejar-lhe os parabéns!

0 comments:

May the force be with you!

Sobre Breakfast At Tiffany's

19:41:00 Unknown 2 Comments

Porquê o fascínio por este filme? É difícil explicar com apenas um motivo, pois são vários, dos quais alguns um pouco difíceis de expressar através das palavras. Começando pela história, no geral, é maravilhoso como a obra original, que falava de uma mulher que não era muito mais do que uma acompanhante de luxo, se tornou em algo tão clássico e icónico devido à presença de Audrey Hepburn no papel principal.  Fazendo com que até hoje tenha passado ao lado de muitas pessoas, que viram o filme e o idolatram, o que realmente era a personagem Holly. Supostamente, tinham pensado na actriz Marilyn Monroe, ou alguma com o mesmo perfil, para o papel, mas, felizmente, não o fizeram. E o facto de não o terem feito, fez com que "Breakfast at Tiffany's" se torna-se no filme de culto que é hoje. No qual o encanto, presença e graciosidade de Hepburn se sobrepôs ao papel que lhe foi conferido, dando um novo significado, bem mais profundo e sério, à história base.

Mais de 50 anos depois da sua criação, a película de Blake Edwards continua a encantar cinéfilos por todo o mundo. Uma comédia romântica, que também tem o seu qb de dramática. Aliás, em alguns aspectos é extremamente cruel e real, demonstrando algumas emoções transversais a muitas mulheres, quiçá humanidade. Dúvidas, conflitos internos, arrependimentos, medos e autodestruição são alguns dos temas expostos no filme com a ajuda de uma personagem que ficará para sempre nos corações - Holly. Sendo que esta toca e canta uma música verdadeiramente apaixonante chamada Moon River, memorável.

 Além de um belo elenco, que conta também com George Peppard, o filme tem ainda mais predicados. Mas certamente a personagem desempenhada por Audrey é o maior deles. A mulher que escolhe um gato para animal de estimação porque "não pertence a ninguém"; com um animal que se chama Cat por não precisar de rótulos, nomes ou donos; com uma personalidade controversa, neurótica, divertida, apetecível e irresistível, que nos faz esquecer que é humana. Que nos faz sentir ela.
 Quem é que nunca se imaginou na pela desta mulher? Quem é que nunca desejou fugir ao seu destino ou realidade? Quem é que nunca sorriu quando na verdade apenas queria chorar?... Sim, levantem os dedos e acusem-se. Um a um. Porque em "Breakfast at Tiffany´s" temos esta simbiose de sentimentos que começa nas personagens e acaba por invadir o público. Temos momentos cómicos e momentos verdadeiramente tristes, tocantes. Temos cada um de nós a ser projectado naquela tela. Com um grande rol de incertezas que nos fazem, por vezes, não querer dormir para não descobrir como será o dia de amanhã. Mas que, ao mesmo tempo, nos fazem ter curiosidade sobre o que o destino nos reserva ou se realmente este nos reserva algo. Se algum dia viveremos na loja da Tiffany's, ou se ficaremos para sempre presos no nosso interior, à luta com o nosso maior inimigo: nós próprios. É nisto e muito mais que a película nos faz reflectir. Confesso que dificilmente consigo assistir o filme sem ficar emocionada ou chorar. Seja pelo contexto em que o vi pela primeira vez, que já faz parte de um passado que nunca voltará a repetir-se, ou por tudo aquilo que me faz sentir, pensar e lembrar.

Por isso, a todos os que ainda não viram esta maravilhosa película, recomendo, vivamente, a o fazerem o mais depressa possível. Enquanto isso, continuarei a revê-lo até me cansar...

2 comments:

May the force be with you!

Crítica. "To Rome With Love": Todas as relações vão dar a Roma

19:04:00 Unknown 1 Comments


O génio incansável da comédia-romântica, Woody Allen, brinda-nos desta vez com «Para Roma com Amor», a película onde todas as relações vão dar a Roma. O realizador, que se propõe a fazer um filme por ano, repete com esta nova obra a proeza de voltar a apaixonar e encantar o público. Mas, agora, com as cores e música de uma outra cidade – Itália -, acompanhadas por um elenco de luxo com actores de múltiplas idades e nacionalidades. 

Ao contrário do que vimos em «Meia-Noite em Paris» (2011), onde havia apenas uma personagem central, à volta da qual girava toda a história, no novo filme de Allen o mesmo não acontece. Este aposta num conjunto de histórias paralelas – mesmo que tenham espaços e tempos diferentes -, tal como ocorreu em 2010, com «Vais Conhecer o Homem dos teus Sonhos». No entanto, há algo nos filmes com muitas personagens deste realizador que não me consegue agradar. Talvez por descurar outros pormenores mais minuciosos em prol da tentativa de coordenação de uma história mais complicada. Algo que não costuma acontecer nas suas narrativas mais “simples”, que acabam por ser mais fáceis de acompanhar pelo público, a meu ver.


Em linhas gerais o filme mostra-nos as vidas de alguns visitantes e residentes aleatórios de Roma. Tal como os modos muito particulares de lidarem com os seus problemas amorosos e confrangimentos pessoais. Esta película consegue envolver mais o público com a ajuda de um argumento bem inteligente. Temos quatro narrativas principais: um jovem casal romano-americano que resolve apresentar os respectivos pais; o encontro entre o passado/presente e o futuro metaforizados por um jovem arquitecto norte-americano e as suas escolhas amorosas; um homem banal que do dia para a noite se torna famoso sem saber o porquê; um casal italiano recém-casado que numa bela tarde tem novas experiências sexuais. Todas as histórias são desconexas, mesmo que tenham um ponto em comum: o impasse inerente à escolha das opções certas na vida. Esta mensagem é dada através do que vai acontecendo com as personagens de acordo com as suas acções.

Não caindo na tentação de se revelar um filme mosaico, «Para Roma com Amor» apresenta uma grande dinâmica ao expor várias personagens e as suas respectivas histórias. Com uma fotografia incrível e banda-sonora magnífica, a película vale bastante a pena ver e dá-nos vontade de apanhar repentinamente um voo rumo a Itália. Embora não me agrade muito, penso que o saltear de histórias esteja estrategicamente pensado por Woody Allen para dar ao espectador a verdadeira sensação de visitar Roma – devido ao seu ambiente cosmopolita babelesco. E para esse efeito nada melhor do que pegar em exemplos vivos existentes numa das mais célebres e visitadas cidades do mundo, onde há o encontro de pessoas provenientes dos quatro cantos do globo.


Caricata. Mordaz. Burlesca. Anómala. Moralista. São as particularidades desta comédia-romântica, que mistura um pouco de surrealismo, como aconteceu no seu antecessor, «Meia-Noite em Paris». Ainda que toque um pouco em alguns calcanhares de Aquiles subjacentes à política de Itália e aos media, por ela comandada. Mesmo que o faça de forma pouco explicita; Woody não falha. 

É também de não esquecer o interessante elenco aqui reunido: como Jesse Eisenberg, Roberto Benigni, Ellen Page, Penélope Cruz, Judy Davis (entrou nas «Faces de Harry»), Alec Baldwin e até Woody Allen. De diferentes “cinemas”, nacionalidades e gerações, a única semelhança entre eles é o facto de todos já terem feito comédia.

Embora sinta uma certa falta de ver Woody Allen arriscar, como fazia nos velhos tempos, não posso negar que fiquei deliciada com o seu novo filme. Não tem um espírito inovador, é até chamado por muitos de mais um produto de “cineturismo”, porém olhamos e continuamos a ver em cada frame a marca de Allen. O que depois de tantos filmes e anos de carreira é de louvar.


O Melhor: Um elenco de peso e diversificado, acompanhado de uma excelente banda-sonora e fotografia.

O Pior: Várias histórias paralelas, que acabam por confundir o público e limitar o desenvolvimento psicológico das personagens apresentadas.

Nota: Podem  ver esta crítica também  aqui, no site C7nema.


1 comments:

May the force be with you!

Psicopatas do Cinema

20:49:00 Unknown 5 Comments

Tal como na vida real, o cinema não é feito apenas de histórias felizes, heróis ou conto de fadas, mas também de criaturas e personalidades bem doentias. Que certamente inspiraram muitos, ao mesmo tempo, que assustaram outros. E é a estes, com uma grande vénia, que dedico hoje uma lista: aos mais conhecidos psicopatas da história do cinema. Mediante esta lista, qual foi o culpado que já vos causou insónias?

Hannibal Lector ("Silêncio dos Inocentes")

Joker ("O Cavaleiro das Trevas")

John Doe ("Se7en")

Annie Wilkes ("Misery")

Norman Bates ("Psycho")

Patrick Bateman ("American Psycho")

Esther ("A Orfã")

Jack Torrance ("The Shining")


Menções Honrosas :


5 comments:

May the force be with you!

Crítica a "Sweet and Lowdown": Sean Penn e uma guitarra

21:19:00 Unknown 2 Comments


A poucos dias de estreia de "To Rome with Love", hoje, assisti a "Sweet and Lowdown", também escrito e realizado por Woody Allen. O filme é de 99 e é protagonizado por Sean Penn, tendo ainda Samantha Morton, num papel mais ou menos destacado em relação ao restante cast, e Uma Thurman como nunca a vimos antes. 

A narrativa fala-nos de um guitarrista ficcional dos anos 30 chamado Emmet Ray. Este supostamente tem uma grande admiração por Django Reinhardt, que é considerado o melhor guitarrista do mundo, sendo Ray o segundo. Contudo, Emmet tem várias regras pelas quais rege a sua vida, sendo uma delas a de não se apaixonar ou ficar demasiado tempo com nenhuma mulher. Por isso, vai abandonando-as, fazendo isso inclusivamente a Hattie, uma rapariga muda com a qual viveu durante algum tempo. Todavia, quando encontra outra mulher e se casa, esta acaba por o deixar. Tudo isto vai levar a vários episódios, alguns deles que incluem gangsters, traições e a conclusão de que no fim de contas sempre esteve apaixonado pela mulher que desprezou: Hattie.

Apesar desta obra de Allen não ser nada de especial, a meu ver, o realizador continua a conseguir brindar-nos com histórias que têm sempre o seu quê de moralista e fascinante. Moralistas porque transmitem uma mensagem, que neste filme passa por aquele que quer tudo e no fim acaba por não ter nada. Assim como a ideia de que quando abrirmos o coração, as outras paixões também são aprimoradas, e tudo se torna melhor.

"Sweet and Lowdown" é assim um filme que tinha todas as potencialidades para ser bem mais atractivo, no entanto acaba por aborrecer um pouco à medida por ser demasiado previsível e centrado na personagem de Sean Penn, que pouco tem para dar. Além de ser caricata e espelhar um pouco aquilo que todos sentimos às vezes - a necessidade de ser livre -, não passa muito disso e repete até a exaustão a mesma ideia.

2 comments:

May the force be with you!

Crítica a "Funny Face": 3 vezes Audrey

17:28:00 Unknown 0 Comments


Se já é encantador vislumbrar no ecrã uma Audrey Hepburn que apenas representa, imaginem uma Audrey que também canta e dança. Sim, é magnífico e apaixonante só de pensar. Mas a boa notícia é que não é preciso conservarem isso como uma utopia, pois em “Funny Face” (1957), de Stanley Donen, a actriz tem este triplo papel. Ao contrário do seu anterior filme, “My Fair Lady”, Hepburn canta realmente, não havendo dobragens, sendo, portanto, na sua carreira este o seu primeiro filme musical. Ao longo da história, é possível vermos a actriz a actuar, dançando e cantando, a solo e em dueto, várias vezes: pela primeira vez, sozinha, interpreta a canção “How Long Has This Been Going On?”; depois com Fred Astaire (Dick) “S Wonderful”; lado a lado com Kay Thompson (Maggie) “On How you Be Lovely”; e muito bem acompanhada por Astaire e Thompson “Bonjour, Paris!”. No entanto, apesar das performances de Astaire e Thompson serem perfeitas a todos os níveis – falo de dança, canto e representação -, embora me custe admitir, por nutrir um grande fascínio por Audrey, esta é tecnicamente inferior a estes dois gigantes por arranhar um pouco os ouvidos dos espectadores. Contudo, apesar de não sermos comtemplados com uma prestação encantadora como a de “Moon River”, em “Breakfast at Tiffanys”, é impossível não ficarmos embebecidos pela imagem e talento da actriz no que diz respeito à arte de actuar. Mesmo com algumas falhas, não há um único momento em que haja vontade de desviar o olhar. Muito pelo contrário, raras são as vezes em que não sorri enquanto a via dançar ou cantar. Mesmo tendo consciência das suas limitações, Audrey Hepburn continua a ser o punctum, ou seja centro das atenções, durante todo o filme. Seja nas performances musicais ou apenas representando, a sua presença não deixa que Astaire ou Thompson, ou qualquer outra personagem, lhe roubem protagonismo por terem uma prestação artística superior. Aliás, em termos de dança, sendo ela uma ex- bailarina, consegue surpreender. É neste aspecto que uma das letras de uma das canções presentes no filme ganha ainda mais significado – “You can’t blame me for being amorous. S’wonderful, s’marvelous” -, porque sem grandes esforços ou snobismos Audrey Hepburn é realmente no filme e ainda hoje, passados tantos anos, um ícone universal e transversal de mulher. Ainda sobre engenho, não podemos esquecer que Astaire é aquele que ficou conhecido por ser um dos grandes ícones, ao lado de Gene Kelly, dos filmes musicais, numa altura em que era moda o género em Hollywood. E por esta razão, na época, Hepburn impos a presença deste para assinar o contrato de participação no filme. Acredito veementemente que sem ele a obra não seria a mesma coisa.
Similar a muitos enredos de comédia romântica, a história apresenta-nos uma revista de moda que está a tentar fazer uma sessão de fotos com uma modelo banal, mas que rapidamente percebe que falta algo ali. Uma nova cara que represente a revista e inspire as mulheres. Então longe das passerelles, ao acaso, quando invadem uma antiga biblioteca para acabar uma sessão, acabam por encontrar a rapariga perfeita – é ela Jo (Audrey Hepburn). Jovem, inteligente e com algum estigma ao mundo da aparência, a rapariga nega-se a tornar-se modelo. Contudo, isso muda, depois de Dick (Astaire), o fotografo refinado e mais velho, a beijar. É assim que Jo vai conhecer Paris, tornando-se modelo e usando como desculpa a vontade de também conhecer um célebre filósofo, cuja doutrina (o empatismo) é a sua grande inspiração. É daqui para a frente que tudo se complica: entre amores e desamores, sessões fotográficas, ideias adversas, juventude e vivencia, o resultado do filme é um par romântico que pouco têm em comum a não ser os sentimentos que sustentam um pelo outro.
Apesar de ter ficado encantada com “Funny Face”, existem também aspectos menos bem conseguidos no filme. Falta a este alguma coesão no que toca à história. Há um pouco a tentativa de pôr de parte a idade da personagem do fotógrafo, que acaba por causar inicialmente alguma estranheza. É como tapar o sol com uma peneira, algo que não resulta e tem um efeito inverso e um pouco ridículo. Penso que a melhor abordagem para contrariar isto seria algo semelhante ao que acontece em “Sabrina”. Em que é clara a idade da personagem desempenhada por Humphrey Bogart, também mais velha do que a de Hepburn, alimentando assim a problemática do filme. Também é um bocado batida a ideia de “rapaz salva rapariga” como se Jo se tratasse de uma rapariga totalmente ingénua e indefesa. Mas estamos no final dos anos 50 e é algo ainda admissível no cinema americano. Mesmo assim, a presença de Audrey Hepburn, em parceria com Astaire, não deixa de ser encantadora e convincente. Há imensa química sem haver grandes toques ou obscenidade. É um romance clássico e enternecedor que vai de encontro à ideia de “empatismo” tantas vezes apresentada ao longo da história. Todavia, não é só Hepburn e Astaire que fazem um excelente papel, Kay Thompson também o faz: é neurótica, sabe se mexer e fascinar à sua maneira e encarna na perfeição a editora da revista de moda, que parece ter sido um apriori de personagens de filmes mais actuais como a que vemos em “The Devil Wears Prada”.
“Funny Face” foi a quarta longa-metragem na carreira de Audrey Hepburn. Antes desta, apenas integrou o elenco de “Roman Hollyday”,  de William Wyler (1953), de “Sabrina”, de Billy Wilder (1954) e de “War and Peace”, de Henry King (1956). O filme de Stanley Donen foi considerado uma obra um pouco à frente do seu tempo devido à criatividade do realizador na forma como o compôs – split screen, a tela dividida em duas, e até em três partes, grafismos, desenhos no meio da acção e muito cuidado com as cores e fotografia. É de apontar também que foi usada uma alta resolução chamada de VistaVision Technicolor, criada em 1954 pela própria Paramount Pictures. Relativamente ao filme, é ainda fundamental ressalvar que a dedicação, tanto física como psicológica, empenhada por parte de Hepburn foi colossal, uma vez que esta estava a filmar ao mesmo tempo outro filme realizado por Billy Wilder também gravado em Paris – “Love in Afternoon” (1957).
Todavia, o filme tem tantos predicados que é difícil os mencionar. Mas tentarei ser sintética e referir os mais importantes. Como as belas músicas interpretadas ao longo da história, cujos autores merecem uma salva de palmas de tão refrescantes e apropriadas que são. Estas conferem ao filme aquilo que as da versão original homónima, estreada trinta anos antes, na Broadway, também com Astaire no elenco, não conseguiu. Falo de magia e energia e sobretudo intensidade emotiva, aliada a um excelente grupo de actores.
A obra de 1957 é um musical soberbo e apaixonante, que não consegue deixar ninguém indiferente, tendo um uso altamente admirável da cor. Não esquecendo que toca num ponto frágil, a relação de amor-ódio entre franceses e americanos, tal como vários filmes também o fizeram. Falar de semelhanças de “Funny Face” com outras obras em que Audrey marcou presença é fácil. Basta pensarmos em “Sabrina”, na qual a actriz também interpreta uma personagem pobre que ruma a Paris e muda o seu aspecto de “gata borralheira” para uma autêntica “princesa”. Ou ainda podemos falar do facto de em ambos a actriz contracenar com actores mais velhos e ser dona de uma personalidade invejável, que ao mesmo tempo é ingénua, mas também audaz.

Mas não foi apenas a nível técnico e performativo que o filme foi valorizado. Aclamado pela sua irreverencia e eclectismo, a obra que juntou Hepburn e Astaire no grande ecrã foi bem recebida pela crítica em geral, congratulada em pequenos festivais e nomeada em quatro categorias dos Oscares – argumento original, direcção artística, fotografia e guarda – roupa. No entanto, acabou por não vencer nenhum, tornando-se apenas uma obra de culto cinematográfica, que vive até hoje no coração dos cinéfilos e fãs da actriz.
Podem ver também esta crítica no site Arte-Factos, para o qual colaboro.

0 comments:

May the force be with you!

21:13:00 Unknown 13 Comments

Conseguem adivinhar de que personagem estou a falar?
- A música clássica faz despertar o seu lado subversivo e violento;
- Gosta de andar em grupo;
- Não tem grandes valores morais:
- Um dia exagera e a vida corre-lhe mal;
- É submetido a uma experiência behaviorista pioneira;
- O branco fica-lhe bem e não dispensa o chapéu;
- É adepto do eyeliner, mas gostas de mulheres;
- Não dispensa um copo de leite;
- De animal passa a um ser mecânico, domesticado;

13 comments:

May the force be with you!

As 20 escolhas de Tarantino

14:55:00 Unknown 2 Comments


Em 2009, Quenti Tarantino deu uma breve entrevista à Sky Movies, antes da estreia de "Inglorious Bastards". A propósito da mesma, o realizador divulgou uma lista de 20 títulos dos seus filmes favoritos desde 1992, ano em que fez "Reservoir Dogs". No entanto, da lista, apenas "Battle Royalle" é destacado pelo mesmo como estando hierarquicamente colocado como número 1, os restantes estão organizados apenas por ordem alfabética.

Segue então a lista dos 20 favoritos de Quentin Tarantino.

1. Battle Royale (Kinji Fukasaku, 2000)
2. Anything Else (Woody Allen, 2003)
3. Audition (Takashi Miike, 1999)
4. The Blade (Hark Tsui, 1995)
5. Boogie Nights (Paul Thomas Anderson, 1997)
6. Dazed & Confused (Richard Linklater, 1993)
7. Dogville (Lars von Trier, 2003)
8. Fight Club (David Fincher, 1999)
9. Friday (F. Gary Gray, 1995)
10. The Host (Joon-ho Bong, 2006)
11. The Insider (Michael Mann, 1999)
12. Joint Security Area (Chan-wook Park, 2000)
13. Lost In Translation (Sofia Coppola, 2003)
14. The Matrix (Andy Wachowski & Larry Wachowski, 1999)
15. Memories of Murder (Joon-ho Bong, 2003)
16. Supercop (Stanley Tong, 1992)
17. Shaun of the Dead (Edgar Wright, 2004)
18. Speed (Jan de Bont, 1994)
19. Team America (Trey Parker, 2004)
20. Unbreakable (M. Night Shyamalan, 2000)

Quem tiver preguiça de ler, pode sempre ver o vídeo da entrevista:

2 comments:

May the force be with you!

Festival de Veneza 2012: Palmarés

18:40:00 Unknown 0 Comments

Venho-vos hoje aqui deixar os "resultados" do Festival de Veneza, que comemora este ano a sua 69º edição. Bem, o grande vencedor do Leão de Ouro foi "Pieta", a obra do sul coreano Kim Ki-duk. Este é o seu primeiro Leão de Ouro, mas não se ficou por aqui, o seu filme recebeu ainda mais três prémios das secções paralelas.

Mas também de destacar foram os outros prémios atribuídos durante a cerimónia. O realizador Paul Thomas Anderson esticou os braços para receber o Leão de Prata e o prémio FIPRESCI por "The Master", um filme que já vai criando algum burburinho e expectativa pelo mundo inteiro desde o lançamento do seu trailer. Contudo, não foi só a longa-metragem de Anderson que brilhou, também os actores Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman receberam a Taça Volpi, que presenteia as melhores interpretações masculinas do cinema.

A entrega de prémios não acabou sem o realizador francês Oliver Assayas ser congratulado com o prémio de Melhor Argumento por "Aprés mai". Assim, como o novo filme de Terrence Malick, "To the Wonder", apenas presenteado com o prémio SIGNIS que faz parte das secções paralelas do festival.

Para os interessados em mais especificidades sobre os prémios atribuídos durante o festival, segue o Palmarés completo:


Leão de Ouro
Pieta, de Kim Ki-duk

Leão de Prata
The Master, de Paul Thomas Anderson

Prémio Especial do Júri
Ulrich Seidl, por Paradise: Faith

Prémio Coppa Volpi para Melhor ActorPhilip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix, em The Master

Prémio Coppa Volpi para Melhor Actriz
Hadas Yaron, em Fill the Void

Prémio Marcelo Mastroianni (Melhor Novo Actor ou Actriz)
Fabrizio Falco, em Bella addormentata e È stato il figlio

Melhor Fotografia
Daniele Ciprì, por È stato il figlio


Melhor Argumento

Après mai, de Olivier Assayas

Leão do Futuro
Kuf: Mold, de Ali Aydin


Secção Orizzonti

Prémio Orizzonti (Melhor Longa-Metragem)
Three Sisters, de Wang Bing

Prémio do Júri (Longa-Metragem)
Tango Libre, de Frederic Fonteyne

Prémio Orizzonti (Curta-Metragem)
Cho-De, de Yoo Min-young

European Film Awards 2012
Titloi Telous, de Yorgos Zois

Prémio FIPRESCI
Em Competição - The Master, de Paul Thomas Anderson


Secção Orizzonti e Semana da Crítica - L’intervallo, de Leonardo Di Costanzo

Prémio SIGNIS
To The Wonder, de Terrence Malick

Menção Honrosa - The Void, de Rama Burshtein
Prémio Rato de Ouro
Pieta, de Kim Ki-duk

Leão de Ouro de Carreira
Francesco Rosi

Prémio Glory to the Filmmaker 2012
Spike Lee

Prémio Cinema da L’Oréal Paris
Giulia Bevilacqua


Para quem quer ver e ouvir em vez de ler, fica aqui o vídeo da entrega dos prémios:

0 comments:

May the force be with you!

Crítica a "Ruby Sparks": uma história que morre na praia

16:08:00 Unknown 1 Comments



Muitas vezes, no cinema, o “início” ou o “final” de uma história é o elemento essencial para ajudar o público a decidir o que acha de um filme. São dois momentos cruciais para o espectador, que espera nestes o máximo de qualidade: quer pelo facto, no caso do “início”, nos apresentar pela primeira vez a história e personagens, quer, no caso do “final”, por nos mostrar o desfecho destas. E é o duplo falhanço destes dois momentos importantes que condena um filme. O que se aplica a “Ruby Sparks”, de Jonathan Dayton e Valerie Faris («Little Miss Sunshine»). 

A obra conta a história de um romancista, Calvin (Paul Dano), que sofre de um perturbador bloqueio criativo que atrapalha o desenvolvimento de seu novo livro. Com muitos problemas emocionais, este começa a sonhar e a escrever sobre uma personagem feminina, apaixonando-se aos poucos por ela. É aí que surge Ruby Sparks (Zoe Kazan), que inicialmente é a personagem do seu novo livro, mas que pouco depois ganha vida, passando a conviver e a relacionar-se com Calvin e a família. Querem princípio mais cliché que isto? Se querem, então vão ter esse momento no final do filme. O “felizes para sempre” não é poupado. E a história em vez de arriscar e contrariar todas as tendências do previsível, como acontece no final de «500 Dias de Verão», fica-se pela conclusão pressentível.

Apesar de esta ser uma daquelas películas que nos deixa, quando saímos da sala, no limbo – do “gosto” ou “não gosto”/ “bom” ou “mau” –, à medida que vamos reflectindo sobre ela percebemos os vários descuidos presentes na sua narrativa. Não se fica apenas pelo início e final pouco entusiasmante. Ao cair na tentação do uso constante do cliché e da câmara tremida, levando o público como garantido por usar a máscara de filme indie, «Ruby Sparks» não consegue igualar o patamar de outras obras do género - como «Juno» ou, da sua antecessora, «Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos».

Não existe uma visão diferente, mas apenas mais do que já vimos por aí aos pontapés em outras comédias românticas. Aliás, existe um filme de 2006, com a Emma Thompson e Will Ferral, que tem uma base de história muito semelhante, chamado «Contado Ninguém Acredita». Em que uma escritora deprimida e solitária acaba por criar uma personagem e esta ganha vida, tal como o que acontece na película da dupla Dayton-Faris. Logo, é inicialmente aniquilado mais um dos factores que poderia ser um ponto a favor do filme. No entanto, a lista de falhas não se fica por aqui. Não existem personagens com as quais criemos empatia ou soframos conjuntamente à medida que a história se desenrola. Não há muito mais do que um conjunto de juras de amor forçadas e extremamente melosas, que nos fazem torcer o nariz. Provavelmente, problemas que teriam sido evitados por um argumentista mais experiente; o que não é o caso de Zoe Kazan, argumentista do filme e também co-protagonista. Curiosamente, esta tem uma relação amorosa com Paul Dano na vida real, o que pode explicar a sua presença no filme e o exagero de momentos “melosos”, que acabam por enjoar o público. 

Apesar de todas as críticas negativas já assinaladas, «Ruby Sparks» tem algumas qualidades, mesmo que acabem “por morrer na praia”. A mensagem do filme, mesmo que envolta em toda a confusão suscitada por muitas personagens e episódios desnecessários, é boa. Passando pela ideia de que a idealização de alguém, ou o amor platónico, feito à nossa imagem e vontades, é sempre algo perfeito e que nos agrada. Mas, quando se torna real, por muito irrepreensível que nos parecesse, com o tempo, acabamos sempre por encontrara pequenos defeitos e desagradar-nos. É necessário, portanto, aceitar as diferenças para chegar ao amor. E é esta a simples mensagem que nos tenta apresentar o filme, mesmo que use a abordagem errada para isso. O elenco também não é mau, tem algumas caras conhecidas, que dão lugar a personagens caricatas: como Antonio Banderas (Mort) ou Annette Bening (Gertrude). Mesmo que tenha outras sensaboronas como a de Ruby.

A banda sonora e fotografia também estão bem aplicadas, conferindo alguma vivacidade e ritmo ao filme. O que é já recorrente em filmes deste género, que nos últimos anos começaram a ser cada vez mais frequentes. E aos quais não gosto de chamar indie, por em pouco se assemelharam aos que merecem o desígnio original, mas sim “neo-indie” ou “pro-indie”, no máximo.


Mesmo assim, a narrativa consegue surpreender e entreter o público pontualmente - confesso que me levou a dar até umas gargalhadas. A meio do filme, parte em que a história se desenvolve e parece até um pouco prometedora temos humor inteligente e a apresentação de uma família caricata, a de Calvin. Contudo, não dura muito. A aparição dos membros da família proporciona momentos soberbos, mas que acabam por ser mal explorados. 

Existem demasiadas pontas soltas que nunca chegam a ter um nó e vários indícios largados ao longo do filme, que pouco ou nada alteram o seu sentido global. É como um bolo cheio de enfeites, que depois de retirados vemos o quanto é banal. Entre muitos outros aspectos e personagens que são esquecidos com o desenrolar da história, deixando o público confuso. Para não falar, que se prende demasiado à fantasia, procurando sempre o caminho mais fácil e ilógico, muito distante do que acontece na vida real. 

Em suma, «Ruby Spark» nas mãos certas e com uma melhor co-protagonista e argumentista poderia ter dado um belo filme, mas ficou-se pela mediocridade. Talvez no papel parecesse bem, mas na tela não resulta. No entanto, consegue entreter e tem alguns “altos”, que fazem com que o tempo passado à frente da grande tela não seja um desperdício. Agradando provavelmente aos menos picuinhas e fãs do género. 

(Ouçam a soundtrack porque vale a pena)

Nota: 5 

Melhor: A mensagem transmitida pelo filme e o momento em que Ruby conhece a família de Calvin. Dando especial ênfase ao irmão Harry (Chris Messina) e ao padrastro Mort ( Antonio Banderas). 

Pior: O início e o final cliché. Para não falar da base da história pouco original e dos momentos demasiado “melosos”.

Podem ver esta crítica também no site C7nema com o qual colaboro actualmente.

Adeus Michael Clarke Duncan!

21:10:00 Unknown 1 Comments


"John Coffey: You tell God the Father it was a kindness you done. I know you hurtin' and worryin', I can feel it on you, but you oughta quit on it now. Because I want it over and done. I do. I'm tired, boss. Tired of bein' on the road, lonely as a sparrow in the rain. Tired of not ever having me a buddy to be with, or tell me where we's coming from or going to, or why. Mostly I'm tired of people being ugly to each other. I'm tired of all the pain I feel and hear in the world everyday. There's too much of it. It's like pieces of glass in my head all the time. Can you understand?" ("Green Mile")
Apesar de nunca ter ocupado um papel principal num filme, a sua cara era bem conhecida pelo público e vai deixar saudades. Michael Clarke Duncan morreu hoje aos 54 anos no hospital de Los Angeles, três meses depois de ter sofrido um ataque cardíaco. Pelo amigos, Michael era apelidado de "Big Mike" devido ao seu porte físico: 1.96 de altura e 136 quilos.
O actor de porte corpulento era recordado como uma pessoa esforçada pelos seus conhecidos. Antes de entrar para o mundo do cinema, fez diversos trabalhos para sustentar a sua família. Foi limpador de ruas, striper e segurança.

Contudo nunca deixou de tentar seguir o seu sonho da representação. A sorte bateu-lhe à porta logo depois de ter conseguido um pequeno papel em "Armageddon". Papel esse que deixou Bruce Willis (o protagonista) bastante impressionado, que acabou por o recomendar a Frank Darabont. Esta recomendação fez com que Duncan integra-se o elenco de "The Green Mile", onde interpretou John Coffey. A personagem da obra baseada num conto de Stephen King marcou a nossa memória com uma prestação comovente de Michael. Provavelmente a mais importantes da sua carreira como actor, que lhe concedeu a nomeação para o Oscar de Melhor Actor Secundário - perdeu para Michael Caine pelo papel em "Cider House Rules".

No currículo conta com outros filmes como "The Whole Nine Yards", "Planet of the Apes", "The Scorpion King", "Daredevil", Sin City ou "The Island". No entanto, ainda teremos a oportunidade de ver Duncan uma última vez no grande ecrã com o filme "The Challenger", de Kent Moran, que se encontra ainda em fase de pós-produção.

1 comments:

May the force be with you!