Crítica: "About Time", o toque britânico sabe tão bem
Desenganem-se pelo cartaz aqueles que pensam que estarão, caso o venham a visualizar, perante um blockbuster cómico-romântico convencional, made in states. Limpem as mentes. Vejam e evidenciem como 'britânicamente' (e desculpem o estereótipo) o humor e romance é tão melhor... Lembrem-se de filmes como "Nothing Hill", "4 Weddings and a Funeral" e "Love Actually". O primeiro e segundo apenas escrito e o terceiro escrito e realizado por Richard Curtis, que parece guardar a fórmula perfeita para uma boa comédia romântica falada em inglês. É indescritível o alto nível global do filme. Cada um dos ingredientes - humor, inteligência, ousadia, perspicácia, sensibilidade, emotividade, qualidade, elenco, argumento - estão presentes do início até ao fim. Para quem não conhece o realizador-argumentista, ou não sabe que tem o dedo no filme, após uns minutos começa a desconfiar que por detrás daquela obra se encontra alguém que sabe o que faz. Richard Curtis hipnotiza-nos com a classe que falta à maioria das comédias-românticas americanas dos últimos anos. Ora vejamos, como mesmo pegando numa cara bastante conhecida como é o caso de Rachel McAdams, o resultado é totalmente diferente de outras comédias da terra do tio Sam co-protagonizadas pela mesma. Aquele requinte típico pode ser justificado pelo alto nível de cultura inglesa, que transparece na forma como evoluíram e continuam a evoluir as várias artes, das quais o cinema, com fortes influencias também do teatro.
Mas voltemos ao filme. "About Time", ou em português "Dá Tempo ao Tempo" (título que contem algum spoiler e como sempre no que toca ao português uma adaptação infeliz), apresenta-nos uma história que poderia ser vulgar, mas que cresce, da melhor forma, com o personagem principal.
Com 21 anos, Tim (Domhnall Gleeson, conhecido de "True Grit")é um rapaz tímido cliché que vive na Cornualha, portanto, o contacto com o mundo 'real' não vai muito mais além do que a sua família, o que faz com que a sua vida amorosa seja inexistente. Até ao dia em que o seu pai lhe revela que pode viajar no tempo, podendo mudar o que aconteceu quase sempre que quiser.. No entanto, nada é perfeito e a 'intriga' do filme surge quando o protagonista decide diariamente 'fechar demasiadas vezes os punhos num local escuro' para melhorar a sua vida (arranjando uma namorada como tanto deseja) e a daqueles que o rodeiam...
De filho a pai, observamos atentamente ao passar dos anos, e de retrocessos no tempo, na vida de Tim. Somos, por momentos, a personagem. Assistimos ao seu crescimento muito bem executado: à primeira paixão não correspondida; 'aos vários encontros' do amor da sua vida; ao auto-sacrifício pelo bem da sua família e amigos, ao ser pai, ao perceber (quase metafóricamente) que depois disso existem certas coisas que não poderá nunca mais mudar na sua vida e que terá de fazer opções; ao aprender a viver de acordo com aquilo que acontece; ao ser saudavelmente egoísta; ao respeitar a lei da vida para que outras vidas possam surgir; e, por fim, talvez a maior de todas as lições, a de aproveitar o que a vida nos avizinha naturalmente, sem ansiedade, sem querer alcançar a perfeição, desfrutando apenas dos pequenos prazeres escondidos no nosso dia-a-dia e agradecer estar vivo rodeado daqueles que ama.
No meio de uma plot que não parece ser nada de estrondoso, como acima foi descrita, ao ver o filme, dificilmente, as gargalhadas são contidas, as lágrimas seguradas e a sensação de empatia com as personagens inexistente. Domhnall Gleeson (Tim) leva-nos numa viagem quase pessoal, que nos faz reflectir sobre o sentido da vida, das nossas acções e nas opções que tomamos. A ajudar tem Bill Nighy (o pai), já repetente de "Love Actually", e que nos parece o melhor pai do mundo, o que vem dificultar o papel de espectador, o de assistir de braços cruzados ao destino deste, enquanto personagem. Também muito bem está Rachel McAdams (Mary), que consegue enquadrar-se no tipo de personagem que parece ser proposto, sem chegar a destoar do excelente elenco britânico. São ainda necessárias mais três menções honrosas: para Lydia Wilson (a irmã, Kit Kat), Richard Cordery (Tio D.) e Tom Hollander (Harry), que, embora apareçam poucas vezes no grande ecrã, têm personagens memoráveis, cada uma delas dotada de uma personalidade peculiarmente incrível. Também uma ressalva merece a excelente banda sonora, não só pela qualidade musical, mas, principalmente, por ser bem escolhida para o momento em que surge. Temos desde Nick Cave às já, esquecidas, TATU.
A película vem também colmatar a mensagem já presente em "Love Actually": a de que o amor deve ser valorizado e respeitado, tendo também em conta que todas as nossas acções contribuem para consequências, muitas vezes menos boas, e que por muito que procuremos um sentido mais além, a vida por si só já 'pede' demasiado empenho da nossa parte.
A película vem também colmatar a mensagem já presente em "Love Actually": a de que o amor deve ser valorizado e respeitado, tendo também em conta que todas as nossas acções contribuem para consequências, muitas vezes menos boas, e que por muito que procuremos um sentido mais além, a vida por si só já 'pede' demasiado empenho da nossa parte.
"About Time" ensina-nos a dar tempo ao tempo. Presenteia-nos, ainda, com uma bela história de amor, que tem como segredo ser o mais próxima de uma relação real possível. Sem rodeios demasiado lamechas, dramas ou personagens femininas histéricas, o filme tem mais que o toque de Midas, tem um conjunto de sensações que normalmente adquirimos depois de passar pelas próprias experiências: seja a morte ou o amor.
O filme faz-nos pensar sobre todas as nossas ambições e reclamações, pois, deixa claro que devem existir, mas, também, que não podemos ser 'deuses', isto é viver obcecados em comandar totalmente a nossa vida e a daqueles que nos rodeiam; há que deixar o destino conduzir-nos àquilo que nos é de direito, dando todos os dias o melhor de nós às pessoas que gostamos, sem calculismos.
Mais que comovente, "About Time" consegue envolver-nos nos nossos próprios fantasmas e tentações, que vão surgindo ao longo do nosso processo de crescimento, para, em seguida, nos dar uma chapada e nos fazer levantar da forma mais convicta que possa existir, com o intuito final de encararmos a vida de frente, em vez de a vermos passar.
Nota: 10/10
Ótima critica, conseguiu captar bem a essência do filme.
ResponderEliminarÓtima critica, conseguiu captar bem a essência do filme.
ResponderEliminarO filme é fantástico! Tem um timing perfeito, surpreendendo o espectador mais e mais, cena após cena, o que é difícil de se encontrar em filmes atuais. Apesar da viagem no tempo, a história é tão natural quanto a vida real que nós levamos, sem tirar nem pôr, e a sutileza e simplicidade britânicas (isso sem falar no sotaque inglês, que é o melhor de todos) transformam a tela na sala da nossa própria casa, como se estivéssemos vivendo aquilo naquele exato momento. Além de tudo isso, impossível não se apegar à mensagem central do filme, que é aproveitar tudo o que a vida nos oferece, dia após dia, desde as coisas mais simples às mais complexas!
ResponderEliminarGostei muito da crítica do site; conseguiste descrever muito bem as sensações do espectador durante o filme. Parabéns!
O filme é fantástico! Tem um timing perfeito, surpreendendo o espectador mais e mais, cena após cena, o que é difícil de se encontrar em filmes atuais. Apesar da viagem no tempo, a história é tão natural quanto a vida real que nós levamos, sem tirar nem pôr, e a sutileza e simplicidade britânicas (isso sem falar no sotaque inglês, que é o melhor de todos) transformam a tela na sala da nossa própria casa, como se estivéssemos vivendo aquilo naquele exato momento. Além de tudo isso, impossível não se apegar à mensagem central do filme, que é aproveitar tudo o que a vida nos oferece, dia após dia, desde as coisas mais simples às mais complexas!
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O filme é fantástico! Tem um timing perfeito, surpreendendo o espectador mais e mais, cena após cena, o que é difícil de se encontrar em filmes atuais. Apesar da viagem no tempo, a história é tão natural quanto a vida real que nós levamos, sem tirar nem pôr, e a sutileza e simplicidade britânicas (isso sem falar no sotaque inglês, que é o melhor de todos) transformam a tela na sala da nossa própria casa, como se estivéssemos vivendo aquilo naquele exato momento. Além de tudo isso, impossível não se apegar à mensagem central do filme, que é aproveitar tudo o que a vida nos oferece, dia após dia, desde as coisas mais simples às mais complexas!
ResponderEliminarGostei muito da crítica do site; conseguiste descrever muito bem as sensações do espectador durante o filme. Parabéns!
O filme é fantástico! Tem um timing perfeito, surpreendendo o espectador mais e mais, cena após cena, o que é difícil de se encontrar em filmes atuais. Apesar da viagem no tempo, a história é tão natural quanto a vida real que nós levamos, sem tirar nem pôr, e a sutileza e simplicidade britânicas (isso sem falar no sotaque inglês, que é o melhor de todos) transformam a tela na sala da nossa própria casa, como se estivéssemos vivendo aquilo naquele exato momento. Além de tudo isso, impossível não se apegar à mensagem central do filme, que é aproveitar tudo o que a vida nos oferece, dia após dia, desde as coisas mais simples às mais complexas!
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Para mim ler a crítica foi como ver o filme: Um deleite. Uma maravilhosa crítica para um maravilhoso filme.
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