(Re)Post | Crítica:"Les Amants du Pont-neuf"
Este (re)poste é dedicado a um amigo que foi hoje para Paris e regressará, com uma lembrança para mim, uma prenda da mais antiga das pontes de Paris: a Pont-neuf.
"Les Amants du Pont-neuf" é um filme que nos deixa divididos entre duas espécies de sentimentos: os negativos e os positivos.
É daqueles filmes que acredito que não é possível gostar totalmente. Há algo que nos trava na hora de dizer: 'Sim, adorei'. O percurso das personagens e as suas ações pouco amistosas fazem com que surja um sentimento, por vezes, de repulsa, em que rejeitamos alguns dos seus comportamentos e opções. Ao mesmo tempo, há momentos em que nos identificamos com situações ou pensamentos, assim como chegamos a ter pena da sua carência emocional. É um filme difícil de digerir num só travo; é forte e reflexivo. Mistura duas personagens sedentas de vida e no entanto incrivelmente mortas em alguns momentos da história.
Juliette Binoche faz um papel admirável, o que já era de esperar. O restante pouco cast também cumpre os seus propósitos em pleno. Algumas pontas ficam soltas, mas penso que não são relevantes para o desfecho do filme. Mas, tal como o realizador confessou durante a masterclass que deu em seguida, a uma dada altura o filme parece ser apressado. Problemas de produção que estiveram na base do filme, realizado em 1991, anteciparam a sua conclusão. Esses problemas, de ordem económica, provavelmente, deveram-se à necessidade que houve de reconstruir o cenário da ponte após a licença para filmar ter expirado, tendo feito deste filme um dos mais caros filmes franceses da altura.
A fotografia é também completamente apaixonante. A escolha de cenários e os jogos de luzes conseguem reportar-nos a um mundo que tem tanto de fantástico como de subversivo. Nele, a protagonista feminina luta contra o seu passado e o protagonista masculino luta contra o futuro, que os pode separar. A banda sonora é também deliciosa. Dá ritmo à deambulação das personagens pela "Pont-neuf", que de nova nada tem, ironicamente, além da personagem de Binoche que acaba por lá ficar, na sua escuridão tanto psicológica como física.
A técnica de Carax, realizador que, para mim, até há pouco era desconhecido, consegue transportar-nos a uma viajem alucinante, alienante que nos faz emergir numa simbiose de sentimentos.
Portanto, nada mais justo do que dizer que o cineasta consegue dar uma visão bastante interessante e introspectiva da vida "de rua", tão incompreendida e misteriosa, tal como precariamente remetida pela sociedade ao silêncio e desprezo.
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