Crítica:"Trance", de Danny Boyle

12:53:00 Unknown 1 Comments


E se de repente perdesse a memória e se esquecesse de como é? Bom, mau, vítima, vilão? Em Trance, de Danny Boyle, deparamo-nos com essa situação, que começa com um falso inocente até se tornar o agressor e mudar completamente a perspectiva que tinhamos da história primordial. Como já estamos acostumados, desde Trainspotting a 127 Hours, passando por Slumdog Millionaire ou The Beach, o realizador confronta-nos com um entrelaçar de histórias, tendo por base um personagem bem destacado dos outros. James McAvoy dá corpo ao protagonista, que divide a tela com outros dois actores com grande destaque ao longo do filme: Vincent Cassel e Rosario Dawson.

Crime. Drama. Thriller. E alguma acção. São estes os condimentos necessários para entrarmos em transe ao assistir à película. Se não é uma história que nos marque ao ponto de acharmos um filme intocável, é, no entanto, uma obra que nos cola à cadeira durante as quase duas horas, por não aborrecer e nos lembrar da peculiaridade de Boyle atrás das câmaras, que o distinguiu noutros tempos. Contudo, Transe faz-nos tremer com alguns plot holes, como o facto de não percebermos como a personagem principal fica extremamente afectada durante o choque que sofre no início, mas, ao recordar tudo o que fez depois, deambula sem compreendermos como consegue matar alguém no meio desse processo todo e ainda andar pela cidade um bom tempo. Ou como um carro é apreendido pela polícia e mesmo assim não é revistado ou é sentido o cheiro de um cadáver. Ou, a mais grave de todas, como é que a personagem Elizabeth sabe tanto sobre o percurso de Simon? Mesmo que a hipnose resulte, esta não consegue ler pensamentos nem saber todos os detalhes até ao mais infimo pormenor, ao ponto de retratar o mais pequeno detalhe… São algumas pontas soltas que permanecem mesmo até ao fim do filme. Todavia, isso é o que menos o afecta. O conteúdo está lá e, apesar de não ser super original, tem uma energia, acompanhada por uma interessante banda sonora, que não nos deixa indiferentes.


O desejo de posse entre o amor e ódio pode ser fatal. Este é o mote de uma história que podia resumir-se a apenas isto, mas que procura no final twist algo mais. Pode não ter conseguido por completo, mas ficou próximo. Valeu a pena tentar e o resultado é o de um filme razoável e que nos enche as medidas dentro daquilo que se propõe, ou melhor não propõe, ser.

A história é contada e filmada de um modo interessante, cheia de movimento, que nos faz lembrar algumas peripécias de Trainspotting, embora não tenham qualquer semelhança em todo o resto. A marca ‘boylenesca’ chama-nos a atenção, recorda-nos que o filme não foi feito ao calhas, que existe ali alguma arte impossivel de encontrar nas obras de outros realizadores contemporâneos. É bom perceber que um thriller não tem de ser só um jogo entre suspense gratuito/cliché e alguma acção. É importante constatarmos que ainda existem histórias em Holywood que ganham pelas decisões do realizador que a dirige e pelo engenhoso cast destacado. James McAvoy foi uma excelente aposta. O mesmo que saltou à vista, talvez, comAtonement, e que é hoje valorizado no cinema americano. Com grande mérito o é, reitero.

De repente, na sala escura, entramos em Transe e saímos de lá ainda nele.

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