Discurso Arrasador

19:11:00 Unknown 2 Comments

À semelhança dos anos anteriores o Festival de cinema Fantasporto confrontou-se com vários constrangimentos. Mas este ano, no seu discurso, Mário Dorminsky, o director do festival, teceu duras palavras à imprensa e governo pelas dificuldades que apresentaram à realização desta última edição.
Fica aqui na integra o discurso:

"Boa noite. Good evening to you all.
Cumprimento o público em geral, as personalidades presentes da área da politica, da cultura, da vida empresarial portuguesa e todos aqueles que acederam ao nosso convite para estarem presentes nesta sessão de encerramento e de entrega de prémios da 31ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto.

Cumprimento igualmente, e muito agradeço, aos nossos patrocinadores Unicer e Zon que, através da SuperBock e do Mov respectivamente, garantiram que esta nova e fantástica edição do nosso Fantas se pudesse à última hora realizar. Tudo isto porque existiu um desinvestimento no Festival da parte do Estado e da Autarquia em mais de 120 mil euros, o que representa uma quebra de cerca de 40% relativa a 2010.

Não fossem as parcerias realizadas com muitas empresas que, num autêntico regresso ao século 19...assim vai este país, trocaram serviços connosco, como se de comunalismo se tratasse, e esta edição não se poderia ter concretizado. No fundo, este Fantas “de resistência e contra ventos e marés”, como a Beatriz Pacheco Pereira afirmou no seu discurso de abertura, deve-se à dádiva dos “mais pequenos”. De pequenas e médias empresas que, apesar da situação complicada que vivem no seu quotidiano, quiseram estar connosco e viabilizar este Festival.
Um Festival que voltando a ser um êxito estrondoso, contou com a exibição de mais de 300 filmes, 87% deles inéditos em Portugal e permitiu ao Fantasporto, em parceria com a Universidade do Porto e a Universidade Católica, produzir 17 filmes (que serão, nos próximos anos, imagem da cultura portuguesa e do Fantasporto, em todo o Mundo, através da sua exibição em festivais). No fundo, voltamos a fazer serviço público, substituindo-nos ao Estado e Autarquia, dando de novo a conhecer este Porto, este pais, a nossa cultura ao Mundo.

Uma edição que teve o maior número de sempre de convidados estrangeiros (cerca de trezentos ligados à industria do Cinema e à Comunicação Social Internacional) e que, não fora o apoio do programa Media da União Europeia, não poderiam ter estado por cá, abrilhantado o Festival com a sua presença. Pelo décimo primeiro ano consecutivo e numa percentagem sempre superior a 90% da globalidade dos filmes exibidos, promovemos o cinema europeu que, no Fantas tem sido divulgado, promovido e prestigiado.
Dear friends, dear guests it´s time to say some words in English. We hope you enjoyed our festival (many of you I know, mainly press, love Fantasporto since you continue to come, year after year, to this world heritage city). I hope that you were well received, you slept well in our good hotels, you have enjoyed the city and the surroundings of Oporto during these sunny days. I hope you ate well, you drank better and you have amused yourselves I thank you because you also support our economy, spending your money in the services area, something that proves that culture and tourism must hold hands as both, together, are one of the biggest industry in the world.
Veja-se a Espanha que, em menos de 15 anos apostou nesta ligação cultura e turismo e, esta indústria, a que também se poderá chamar do Lazer, é agora a segunda mais importante desse país, algo que aliás acontece na maioria dos países europeus. Pena é que em Portugal se pense na cultura como “gastar” e não como “investir” atribuindo orçamentos de 0,000000 qq coisa para a cultura. É, por exemplo estranho ver o Estado apoiar uma qq empresa estrangeira para produzir componentes automóvel em Portugal. Mas nada para a Cultura. A razão dada é sempre a mesma: é mais importante apoiar uma indústria tradicional do que promover a imagem de um Portugal culto e turístico que faça crescer rapidamente, por exemplo, a sua área de serviços e logicamente o emprego. Mas, o que tem de se dizer é que a Cultura é também uma Indústria, e muito importante para o país. Gera 0, 6 % do Produto Interno Bruto Nacional, um valor superior às muito subsidiadas indústrias, como a dos têxteis ou a já referida automóvel.

Este não prestar de atenção à Cultura até faz jus à lógica centralista deste minúsculo país chamado Lisboa e que vive à custa daquilo a que denomina de “paisagem”.
Aí Lisboa tem razão. Temos paisagem, património, sabemos receber, criando uma excelente imagem a quem nos visita. Tudo isto é lógico e está testado e provado.
Admito até que já nem se justifica nos tempos que correm a existência de um Ministério da Cultura dado que este deveria ser um departamento do Ministério da Economia e com ele trabalhar em conjunto.
Tudo isto é verdade, lógico, está testado e provado.

Ainda a semana passada li (seguramente que entendi mal) que se vai criar uma região-piloto em Lisboa para testar a regionalização em Portugal. Seria ridículo. Era o exemplo claro de que vivemos num autêntico jardim infantil em que se dizem barbaridades que logicamente não se podem por em prática e não têm qualquer futuro. Ontem já o Primeiro Ministro desceu à terra e afasta, para já, abordar o tema regionalização...

A culpa de toda esta situação em que vivemos é também de todos nós, sobretudo daqueles que vivem na “paisagem”. Quando vemos que perdemos de facto todo o poder politico (deixamos de ter qualquer voz a nível nacional), que deixamos de poder concretizar projectos culturais autónomos (exportamos os criadores normalmente, não para Lisboa mas, e felizmente para o estrangeiro) e que perdemos por completo o poder económico (as sedes das grandes empresas que estavam sediadas a Norte saíram para o tal micro país) , é natural que eventos de grande dimensão, como o Fantasporto, sejam marginalizados pelas agências de publicidade e pelos seus cada vez mais jovens, pouco informados e facilmente manipulados marketeers que controlam as contas de publicidade das grande empresas ou, por aquilo a que se chama comunicação social hoje em dia.

É que, para esta última, mais importante do que um festival de prestígio internacional como o Fantas, é motivo de noticia por exemplo, uma qualquer montra do Palácio Foz retrabalhada por um desconhecido designer ou um qualquer espectáculo de magia no Bairro Alto. Tal é algo que dá direito a entrevista, fotos e reportagens TV, como acontece num evento realizado em Lisboa, a quem o Turismo de Portugal dá umas centenas de milhares de Euros, em detrimento de projectos realizados fora da Grande Lisboa.

E mesmo a Norte é interessante verificar que o Festival de Teatro Amador de Valongo (e não queremos dizer que não é importante) tem direito a meia página de um jornal dito nacional e o Fantasporto é completamente ignorado...falta de espaço dizem-nos...
Pode parecer estranho mas não é contradição dizê-lo: até nem temos razões de queixa da comunicação social em Portugal. Mesmo depois desta se regionalizar e se fechar no seu micro país, em termos relativos à informação que eles dedicam à “paisagem”, nós, Fantas, até nem estamos mal no ranking da informação!
Depois da invenção há uns 10 anos a esta parte das secções Local Porto nos jornais e rádios, registaram-se dois fenómenos - as notícias regionais de Lisboa aparecem no país inteiro, mas as do resto do País, não chegam lá, excepto os crimes violentos ou os acidentes. Assim, a imagem do país, e logicamente de eventos como o Fantasporto, fica “presa”, com poucas excepções, nos tais espaços dedicados ao Porto ou ao Norte e, isso é que é importante, nas mãos dos jornalistas estrangeiros e nos meios Web e Web 2.0, aos quais agradecemos vivamente.
Queremos também pedir desculpa a alguns media, pelo facto de não ter havido incêndios no Rivoli, não ter havido mortes, ambulâncias do INEM à porta, nem sangue a correr pelas ruas do Porto. Ninguém conhecido andou despido nos corredores dos hotéis, não houve sessões públicas de voudou, os feiticeiros não vieram ao Rivoli e, não importamos o caquético jet7 que aparece invariavelmente nas revistas cor-de-rosa...e nas múltiplas páginas que os diários lhes dedicam. Lamentavelmente, não houve assim motivos de noticia que permitisse ser publicada a nível nacional, até porque os filmes e os cerca de 100 realizadores aqui presentes durante este festival só irão ter destaque quando forem ao tal micro pais chamado Lisboa. Aí terão direito a 6 páginas de jornal - como vimos o ano passado com um realizador, de quem temos exibido desde há anos a maioria dos seus filmes e que aparece depois como uma “descoberta” do evento Y...realizado na capital...Afinal os tais midia ditos nacionais...são mesmo regionais ou até mesmo só locais.

Isto é o país que temos. O tal país que é rodeado de paisagem. O país do desemprego, o país dito subsidio dependente, mas que é afinal o país que subsidia largamente a macro centralista Lisboa.

Insistir em fazer cultura no Norte, a região mais pobre da Europa, é uma questão de princípio. É uma questão cultural, de formação...de educação. É o anti-oportunismo politico partidário. É ser independente. É também, num país como este, ser quase masoquista - mas é uma forma de independência total dos lobbys dominantes e de liberdade de expressão, mesmo que essa liberdade seja censurada, como foi por alguns media lisboetas, que bloquearam as noticias relativas ao festival (e temos provas disto que digo), excepto aquelas que eram mesmo obrigados a publicar, ou a transmitir, porque, quer queiram quer não, o FANTAS EXISTE, enquanto o quisermos fazer.

Pena é que...quem se mantém nesta “paisagem” e que tem algum poder utilize sempre a chamada “crise” para justificar tudo, particularmente a sua não intervenção na cultura. Aí o totalmente disperso e inconsequente poder politico existente a Norte também copia o Governo nos seus orçamentos para a Cultura, exceptuando quando é para pagar os vencimentos dos gestores da Capital Cultural de Guimarães que, só em meio ano atingem um total superior à maioria dos orçamentos anuais das autarquias da maioria das Câmaras para a Cultura e são muitíssimo superiores ao orçamento anual do Fantasporto...ou para subsidiar Fundações quase estatais, por muito bom trabalho que elas desenvolvam...recados à parte, só no resta dizer: pensem, discutam, arranjem soluções. Todos nós já damos o que temos e, quase o que não temos, para que este país se mantenha à tona. Cumpram a vossa parte deste acordo que fizemos desde 1974, que é a democracia.
Sorry, my friends and guests of Fantasporto, to speak too much in Portuguese.

I hope when you return home, you can remember Fantasporto and can forget this boring closing cerymony where I decided to take the oportunity to try to send some messages to the ones that have the power and, I think, have a severe hearindg problem.
Thanks again for coming. Take Porto with you and please return with more friends. In a few hours, very near from here, we will have our closing party, the Vampires Ball, a carnival party, at the theatre Sá da bandeira . Please ask our staff for directions. For the ones of you that don´t leave too early, the party goes till dawn...when breakfast will be served!!! Amuse yourselves. A friendly goodbye to you all.
Thanks also to our international Juries...you have make an excelent job
Ao fim de um mês e pouco, amanhã o Rivoli ficará sem a programação da equipa do Fantas, mas há ainda muito cinema para ver.
Vamos sair desta casa de cultura que enchemos com música, humor, artes plásticas, literatura, e muito, muito e bom cinema. Voltaremos para o ano? Tenho confiança que sim...mas temo as palavras “crise”, “centralismo” e, sobretudo a tal ausência da voz do Norte. Mas haja esperança. Connosco e com o apoio de alguns poucos com visão desse do tal micro pais chamado Lisboa...até poderemos chegar longe, isto porque Portugal...será sempre o nosso País, de que muito nos orgulhamos.
Para terminar resta dizer que ultrapassamos o número recorde de espectadores do ano passado. Obrigado a Todos. Thanks to you all.
Um último agradecimento às centenas de voluntários e a toda a equipa do Fantas por colocar de pé mais este Festival. Agora vai ser tempo de cinema e, logo a seguir a grande festa de Máscaras no Sá da Bandeira...esqueçam por uma noite a crise e divirtam-se...Vê-nos...um dia destes...por aí..."

2 comentários:

  1. Mais nada! E quem fala assim não é gago! Fui lá este ano, e espero que tenha sido a primeira vez de muitas :)

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  2. É um festival que vale muito a pena mesmo, por isso fico triste que não tenha oportunidade de ter ido mais vezes este ano.

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May the force be with you!