Crítica: BLUE JASMINE (2013)

14:31:00 Unknown 0 Comments


Cate Blanchete consegue elevar de novo uma obra de Allen a um patamar consideravelmente elevado, do ponto de vistaem que mais que a já cliché tragicomédia que nos poderia brindar, Woody afasta-se da restrição a apenas esse género, para mergulhar de novo no drama com algumas inquestionáveis nuances. Há semelhança de Cassandra's Dreams ou Match Point (sendo que gosto de frisar que este último não é o meu preferido), Blue Jasmine ataca com toda a força, sem dó ou piedade. A neurose volta a ser um dos motes de um filme do autor de Midnight in Paris... Apresenta-nos a realidade de uma personagem que embora se ache exigente e superior, opta ao longo da sua vida pelo caminho mais fácil, vivendo numa primeira parte na comodidade monetária em que ignora o que a rodeia - infidelidade, mentiras e crime - e, numa segunda, na procura dessa mesma confortabilidade, não aprendendo com os erros do passado, pelo meio de mentiras, altivez e humilhação, Jasmine aka Janette vive uma personagem criada pela própria, uma fachada, um logro que a justifica enquanto ser humano. Por outro turno, a irmã da protagonista, Ginger, que se aclama de menor por ter os 'genes menos bons da família', embora ambas as irmãs sejam adoptadas, quase ruma pela mesma vida de Jasmine, em termos 'valorativos', contudo, a vida tem destas coisas e Ginger à terceira aprende a lição, deixa de dar ouvidos à sua irmã, quando conhece a personagem de Louis CK, ironicamente, longe da imagem de comediante que poderíamos esperar e leva com uma dura verdade, voltando a valorizar o pouco e honesto que o mundo lhe dá. Já Jasmine depois de todas as perdas, pela segunda vez, nada aprende e fica embargada na sua bolha de orgulho. Em suma, o novo de Allen tem algo que, tirando as típicas músicas, intrigas familiares/relacionais, e excelentes papéis femininos, vai mais além, a um patamar que transmite o caos emocional em que a sociedade vive, especialmente as mulheres, que se deixam consumir pelas coisas e não pelas pessoas. A negação de que nos estamos a tornar em 'máquinas', de que a vida que temos não é por aí além a que imaginamos ou, ainda melhor, de que não somos nem de perto nem de longe felizes, parecem-me ser algumas propostas a reflectir presentes no filme de Woody Allen. De tudo, o fim, é o mais simbólico. Não em primeira classe, mas talvez num autocarro, Jasmine continua em negação e numa psicose em loop em que em voz alta repete o nome da música que ouviu quando conheceu o ser primeiro marido, afundando-se, como se de areia movediça se tratasse, de novo num mundo que só voltará/continuará a existir na sua mente repleta de neuroses. Allen continua para mim a ser genial, mas Cate desta vez superou tudo e todos e marcou, como Jasmine, na história do cinema mais uma personagem a não esquecer devido à sua extraordinária interpretação: em que a odiamos, repudiamos, julgamos, mas, no meio de tudo isso, trocemos para que tenha uma epifania e se torne em alguém melhor, que controle os seus medos e que consiga ser feliz.

Nota: 8 /10

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