Crítica: “Don Jon”, a estreia como director de Joseph Gordon Levitt
Todos já conhecíamos a
versatilidade de Joseph Gordon-Levitt (JGL) enquanto actor, mas, agora,
chega-nos, do mesmo, outra nova faceta: a de realizador. Com “Don Jon”, JGL
demonstra que evoluiu; Darwin ficaria impressionado se este se tratasse de uma
espécie em análise. Retrocedamos na sua carreira. Ainda miúdo, começou na
televisão com a série “O Terceiro Calhau a Contar do Sol”, depois indagou pelo
mundo das comédias românticas ‘teen’ mainstream (com filmes como “10 Coisas que
Odeio em ti”, onde se cruzou com Heath Ledger), até chegar ao tipo de produção
em que provavelmente se sente, ainda hoje, mais confortável: o indie...
Voltando ao desenvolvimento de
JGL como actor, ainda no indie, deu mostras do seu valor com alguns filmes como
é exemplo “Mysterious Skin” e o neo noir “Brick”, saltando depois para a
ribalta com as grandes produções, blockbusters como “Inception”, “Looper” e “TDKR”,
que se seguiram aos êxitos “500 Dias de Verão” e “50/50”.
Mas foram “500 Dias de Verão” e “Inception”
os verdadeiros pontos de viragem na sua carreira. Com estes filmes, o jovem
actor demonstrou que o género de produção não o inibe de ser ele mesmo: a marca
genuína de JGL, isto é de quem ama cinema continuou lá, intocável no grande
ecrã… E é exactamente isso que vemos em “Don Jon”, a sua primeira grande
metragem, como realizador e argumentista: vemos alguém ansioso por contar
histórias, criar personagens e dar-lhes o máximo de ingredientes possíveis para
as tornar perceptíveis aos olhos e coração do público. Saltando à vista não só
a história - que podia ter adoptado uma abordagem sórdida e sensacionalista,
mas que se mantém longe disso, mesmo que o tema o pudesse fazer resvalar para
esse campo gratuito e minado do cinema -, mas, sim, um conjunto honestamente
cuidado e, no entanto, tão simples: o argumento que tem o cuidado de pegar num
assunto bem universal, mesmo que possa ser pouco levado a sério à primeira
vista; as personagens que são ricas – profundas e peculiares, mas também
bastante humanas e ecuménicas; a montagem bem ritmada e diversificada,
conseguindo transmitir-nos emoções únicas; a escolha do cast, bem especial e
apropriada, excepto no caso da personagem Esther (a de Julianne Moore), entre
outros aspectos difíceis de descortinar por intermédio da escrita.
Para aqueles que tem seguido o
percurso de JGL, a surpresa de o ver tornar-se numa estrela tão respeitável como
outros cineastas não foi assim tão grande. Além de todos os filmes em que foi
actor, o mesmo criou uma espécie de produtora online, a HitRecords, que conta
com já vários projectos realizados graças à colaboração audiovisual e escrita
de vários artistas (menos conhecidos) de todo o mundo. A ideia da mesma não é
criar grandes receitas, mas em vez disso criar histórias e divulgar talentos.
Talvez tenha sido o CV brilhante
de Josef Gordon-Levitt que contribui para que “Don Jon” fosse um primeiro filme
digno de assinar por baixo. Refrescante. Bem-humorado. Unissexo. Sem tabus.
Honesto. Entre outros adjectivos que fazem valer a pena o ver em tela. Assim
como um certo cunho pessoal, no sentido em que a observação tida ao longo da
sua vida foi ali aplicada, mesmo que da forma mais indirecta possível, nota-se
uma certa proximidade entre a personagem e o cineasta.
O filme conta a história de Jon
Martello, um jovem italiano que vive na América e que vive de uma forma
luxuriosa. A vida parece ser composta, para o personagem, apenas de pequenas
rotinas que o confortam, como as idas diárias ao ginásio, o seu apartamento impecavelmente
limpo, a sua família, a sua igreja e confissões, os seus amigos e mulheres. Mas
de todos estes pequenos aspectos que compõe a sua vida, entre saídas nocturnas
com os amigos, a engates de uma noite, nada o sacia a não ser a sua melhor
amiga: a pornografia. Sozinho, em frente ao seu computador, é este o momento
que caracteriza como de maior prazer na sua vida. Mais do que sexo. Mais do que
qualquer coisa que conheça até então. Até ao dia em que…
Tudo muda. Don Jon (JGL), como é
apelidado pelos amigos, conhece aquela loira sensual (Scarlett Johansson), que
todos dariam um braço para poder ter algo. Ofuscado com o facto de esta não se
revelar fácil logo na primeira noite, semana, mês, este embarca numa viagem que
julga ser chamada de amor. Contudo, mais do que uma mulher chega à sua vida.
Mesmo que grande parte do filme a coloque na sombra (Jullianne Moore), a lição
apreendida com a ela revela-se sensata e interessante, mesmo que um pouco
irrealista. A personagem de JGL percebe que o problema não está nas mulheres
que conhece, muito pelo contrário, o problema está na forma como se relaciona
com elas. Este é confrontado com uma viagem quase que espiritual, que falha um
pouco por se apresentar demasiado curta e instantânea comparada com o resto do
filme; pelo menos o momento em que parece ter a tal epifania acaba por revelar-se
um pouco forçado. Outro dos pontos menos conseguidos é a personagem escolhida
para interpretar Esther, não que não seja uma das melhores actrizes conhecidas,
todavia a idade não perdoa e combinação com o jovem actor não parece a mais
acertada, falta alguma química que provavelmente teria sido conseguida com
outro casting. No entanto, a personagem dada a Johansson é totalmente adequada, ninguém faria melhor aquele papel, mesmo que exagerado. Já Levitt está irreconhecível, não no mau sentido, atenção, pois interpreta de corpo e alma a personagem a que se propõe, mais que se safando, está muito bem ao longo de todo o filme.
Felizmente, o filme vai mais
longe do que a maioria das comédias românticas. Pega nos estereótipos italio-americanos
vividos na américa, já conhecidos de reallity shows como Jersey Shore, em que
grande parte dos jovens vive segundo uma cultura bastante superficial. Evidenciamos
isso, principalmente, na primeira parte do filme com a personagem Barbara (Scarlett
Johansson) e a personagem Don Jon (JGL), de maneiras diferentes, mas que se
encontram de alguma forma no culminar de um romance inócuo e cliché. Enquanto Barbara é o estereótipo de americana que faz tudo para parecer bem para os de fora, é convencida, caprichosa, mimada, a verdadeira bimba das discotecas e social, Don Jon é o rapaz de famílias italianas que valoriza o próprio corpo e os engates, mas que não prima muito pela inteligência, nem reflexão emotiva. Já na
segunda parte, em que a actriz ruiva começa a ganhar mais relevo, o filme muda
completamente de abordagem: o que tem algo de bom, por fazer com que o público
não fique saturado, mas, também, algo de mau, por ser demasiado radical.
Passamos de uma narrativa mais divertida e caótica a nível emocional, para uma
história mais introspectiva e reveladora, onde a personagem principal consegue
encontrar finalmente a paz interior e, digamos, ‘crescer’. O final feliz acaba
por acontecer, contudo, a fórmula usada, como acima adiantei, não terá sido a
mais adequada por dar a sensação que a viragem na maneira de pensar de Don Jon
foi tão rápida e simples como a simples acção de carregar dum botão de on/off. Apesar de tudo, a mensagem é de valorizar, por dar a entender que não é preciso uma rótulo para estar bem interiormente, mas encontrar uma forma de nos 'encontrarmos', primeiro sozinhos e depois junto de alguém.
Críticas negativas à parte,
enquanto fã de JGL é impossível não felicitar o mesmo pelo trabalho mais que
razoável que realizou e escreveu na sua estreia como realizador de uma
longa-metragem.
Nota: 7/10.
Nota: 7/10.
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