"In Bruges" à La Lumiére
Embora em Portugal não tenha atingido grande índole de propaganda, “In Bruges” realizado por Martin McDonaghé, é um dos filmes que provavelmente brilhará nos futuros Óscares 2009. Basta evidenciar as três nomeações existentes para os Globos de Ouro, a arrecadação de prémios e mais 11 nomeações em diferentes categorias. Curiosamente, ganhou na categoria “de melhor trailer de 2008”.
Six Shooter foi a primeira obra-prima do realizador, tendo sido premiada com um Óscar. Por isso “In Bruges” apresenta-se corroborado com um “à vontade” por parte do seu autor. A história poderia ser verídica, uma vez que a traição no mundo do crime é sempre inesperada. No entanto, a expectativa não se esbate por completo: o código dos assassinos rege-se por não terem consciência e limitarem-se a fazer o seu trabalho, ou seja, abater o alvo.
O mesmo se passa neste filme. A deontologia fica para trás. Em Bruges, título original, apresenta-se como uma sátira do mundo do crime dos tempos modernos. Dois assassinos, Ken (Brendan Gleeson) e Ray (Colin Farrel) são enviados para as terras distantes de Bruges, na Bélgica, pelo seu patrão, Harry (Ralph Fiennes), que ao longo do filme vai aparecendo, ora nomeado pelos dois em conversas, ora através dos telefonemas em que dá ordens (que não são reveladas ao público até ao fim da trama). As duas personalidades vagueiam pela localidade. Ray mostra-se constantemente atormentado pelo seu passado e repudia cada momento passado na cidade de arquitectura barroca. Ken desfruta das maravilhas turísticas da pequena cidade belga com um tom de calma e semblante que nos faz duvidar da sua verdadeira natureza de criminoso ao longo da película.
Contudo, o enredo do filme é impressionante. A história roda 360 graus. Ao conhecer Chloë Ray deixa para trás os seus fantasmas, resultantes de um golpe falhado do passado em que abateu por erro uma criança em vez de um padre. E Ken passa a ser martirizado a cada dia que passa com o seu novo trabalho, matar o colega a mando do chefe. Bruges, inicialmente vista como um modo de repouso e renascer dos espíritos fragilizados destes dois criminosos, acaba por ser o seu túmulo. Ray, Ken e Harry terminam assim as suas vidas na invulgar e pouco conhecida cidade. E provam o veneno da dura vida do crime.
É difícil contar a história do filme sem divulgar partes importantes do mesmo e que lhe vão dando graça e fascínio a cada frame. O surrealismo inerente é irrefutável. As personagens revelam-se a cada analepse ou confissão. McDonagh usa e abusa das duas personagens como modo de direccionar o desenvolvimento de todo o filme. Ao mesmo tempo explora as vidas destes, divulgando o porquê destes se encontrarem na região. O fio condutor é estonteante e leva-nos a querer mais e mais.
Alguns erros são encontrados, alguma infracção no que concerne á deambulação pela cidade e a sucessão de algumas cenas consideradas indispensáveis. A confusão que algumas acções nos suscitam, embora enriqueçam por um lado o mistério do filme, distraem por outro e levam-nos a não perceber outras cenas como é o caso das saídas do quarto e algumas falhas de record consequente das mesmas, como mudanças de angûlo
Um elemento que ilumina a história é um anão que segue desde o início ao fim algumas cenas, desde o filme em que Ray conhece a sua amada, à cena de droga e orgia, até à cena final em que morrem. O anão, que é alvo de obsessão por Ray torna várias cenas alvo de escárnio para o espectador.
O formato do filme assume-se “á la Lumiére”, pois contrariamente à vertente “Méliesnista”, o seu argumento sustenta-se num realismo conturbado e nada perfeito, tal como filmes anteriormente protagonizados por Colin Farrell, assim como algumas metragens já conhecidas como "Cassandra’s Dreams" e "Macth Point". O realismo tem mechas fortes de surrealismo, ou se preferirem um exagero radical da realidade como é típico no cinema londrino. A película exibe-se como um triller dramático e cómico em prol de um tema tão sério e intemporal.
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