Crítica: "127 Horas"

23:50:00 Unknown 5 Comments

(Antes de começar a ler a crítica clique no primeiro vídeo que se encontra abaixo com a soundtrack do filme.Obrigada!)

Agoniante. Impressionante. Inquietante. Realista. Espirituoso. Perturbante. Emocionante – até ao último minuto. São estes alguns dos adjectivos possíveis, porque, mesmo para mim, parecem insuficientes, para descrever a 1h30 de acontecimentos a que assisti e me conduziram a uma simbiose de sentimentos.
À partida mediante a premissa que o filme nos apresenta pensamos que nos vamos deparar com algo potencialmente monótono e cliché, todavia “127 Horas” escapa desse lugar - comum em que recaem a maioria dos filmes baseados em factos reais, e fá-lo com sobriedade, sem grandes lérias pelo meio, limitando-se a contar a história biográfica de Aron Ralston. Saliento este ponto porque é algo que em outros filmes também recentes como em “The Social Network” não vimos acontecer, ou pelo menos eu não vi. Assistimos aqui a uma personagem que poderia ser qualquer um de nós, que se lembra de um dia acordar e partir rumo ao desconhecido, sem deixar um simples bilhete ou atender mais um telefonema antes de seguir viagem, sem avisar ninguém, sem ter consciência de que algo poderia correr mal. Sem grandes invenções ou fantasias, o filme permite-nos fazer uma viagem intensa e profunda sem sequer sairmos do Grand Canyon.
Sofremos e ansiamos um desfecho juntamente com a personagem Aron. A uma certa altura devo arriscar dizer que quase nos sentimos presos aquela maldita rocha. A uma altura, confesso, que me deparo a mexer no meu próprio braço e a sentir um pouco daquela aflição. A uma dada altura somos quase a personagem de Franco que esperou e desesperou 127 horas por uma segunda chance. A uma dada altura mergulhamos de cabeça e emergimos no filme, como nos habituou Boyle. E a grande rocha passa a representar algo mais do que um material inanimado, representa o peso de uma vida, da sobrevivência, da luta por poder fazer melhor e de uma segunda oportunidade. Quantas vezes não achamos que somos invencíveis, que nada nos derruba e não temos medo da morte. Quantas vezes cometemos erros e não temos a oportunidade de voltar atrás. Quantas?...É assim que esta história nos põe a reflectir sobre nós próprios a uma dada altura. Alguns consideram “Transpotting” ou “Slumdog Millionaire” a obra-prima de Boyle. Eu arrisco a dizer que “127 Hours” será o mais perto de uma grande obra e um filme de culto daqui a alguns anos. E bem merece isso! Numa altura em que o cinema está cada vez menos criativo, Boyle ardilosamente passa para o ecrã a receita perfeita para uma boa história que prende o público até ao fim e o faz sentir parte do filme ou alguém próximo que está a sofrer paralelamente com a personagem principal.
Sem sair do espaço que tem menos de um metro quadrado, o realizador consegue concentrar tanta matéria que deixa qualquer um estonteado com o que assiste. Desde uma performance incrível de James Franco (que provavelmente será o papel da sua vida e assenta como uma luva - cujo valor nunca duvidei mas também nunca tinha comprovado por falta de hipóteses), a uma banda sonora agradável e bem pensada, a um ritmo intenso, ofegante e cativante, assim como um cenário absolutamente belo, mas que se torna sinistro, o filme de Boyle reúne isto e muito mais que acaba por ser indescritível e apenas possível de compreender empiricamente, vendo o filme do cineasta.
And the Oscar goes to… James Franco. Isto se fosse eu a decidir quem seria o vencedor da categoria para Melhor Actor. Mas a realidade é que não sou. E, possivelmente, a academia não será da mesma opinião a menos que este ano, além da aposta numa gala menos antiquada, também apostem em vencedores menos previsíveis e até lhes dê jeito dar a vitória ao actor que dá corpo ao filme do realizador galardoado em 2009 com “Slumdog Millionaire”. A verdade é que sem James Franco o filme não teria a mesma magnitude, Boyle não seria tão eficaz sozinho.
Provavelmente, não será um dos grandes vencedores das estatuetas douradas, mas tenho a esperança que a seu tempo o seu valor seja reconhecido. A fotografia é também aprazível o qb, os planos paralelos funcionam na perfeição e dão um toque de acção ao filme, assim como a velocidade que este tem inicialmente que acaba por contrastar com a situação posterior em que a personagem se vê metida. Irónico, mas resulta bem. Outro ponto a ressalvar, são os momentos de ironia deliciosos a que somos brindados, de loucura, ao mesmo tempo que sentimos que não aguentamos mais ver a personagem naquela situação e só queremos que consiga resistir, que aguente mais um pouco… os flashbacks também funcionam na perfeição, acabando por ser um jogo entre o público e quem dirigiu o filme, pois dá-nos alguma esperança e confunde-nos por uns minutos, tirando pouco depois o tapete sem aviso prévio ao espectador, tal como acontece com o personagem ao longo de todo o filme.

Soundtrack:


Trailer:


Nota:★★★★
(Filme passado no Fantasporto)

5 comentários:

  1. Concordo plenamente contigo. Um dos maiores underdogs dos óscares.
    Permite-me acrescentar: Para além de emocionalmente arrebatador, o filme é das coisas mais inspiradoras desde Into The Wild. A força de vontade, brilhantemente exprimida pelo Franco, mexe mesmo com o espectador.
    E a montagem é simplesmente genial, e ajuda e muito a dar a volta a um filme que podia ter sido muito monotóno e repetitivo.
    Se o Colin Firth não estivesse nomeado para o óscar, o Franco ganhava! Tem um papel digno do seu potencial :P

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  2. Excelente critica, tb gostei do filme, do Franco e do Boyle. A realização do filme e que se estranha mas depois entranha-se :)

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  3. Excelente crítica!

    Eu também adorei o filme e faz-me imensa pena achar que não vai ganhar nada hoje à noite. A história é boa, a realização é boa, tem uma prestação (James Franco) óptima, tem uma boa fotografia e uma banda sonora divinal. No entanto, não vai servir de nada.

    Felizmente, parece que não vai ser só na minha memória que o filme vai ficar. :)

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  4. ADORO a música "Never Surf Again", é cá de uma genialidade... Nem sei explicar porque é que adoro tanto. O certo é que vi o filme num dia particularmente mau, e aquela musica tocou-me! Gostei mesmo imenso do filme, acho que Franco está brilhante. Excelente crítica.

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

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  5. Obrigada a todos x)... sara, amanhã leio a tua com atenção também, mas concerteza também deve estar muito bem, o "depoisdocinema" tem feito um óptimo trabalho.Parabéns!

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May the force be with you!