Tela Clássica: a idade de ouro do policial francês

17:29:00 Unknown 2 Comments


Em França, o policial é designado por “polar”. Esta mesma designação surgiu no início dos anos cinquenta, fruto da invasão do cinema americano e dos célebres film noir. Ao mesmo tempo, curiosamente, o género policial na literatura renascia das cinzas, através de nomes como Boris Vian e Simonin.
Jean-Pierre Melville será talvez aquele que estabeleceu um romance mais duradouro com o género, enquanto outros o irão visitar de quando em quando, como irá suceder com François Truffaut, um dos grandes apaixonados da “Série Noir”, com o seu “Disparem Sobre o Pianista”, ou essa homenagem feita por Jean-Luc Godard através de “Alphaville”, recuperando a personagem de Lemmy Caution, interpretado por Eddie Constantin.
Este período de ouro do cinema policial francês surgiu em plena década de 50, altura em que o cinema deste país sofria uma certa crise e se preparava para dar o salto para aquela que seria a “Nouvelle Vague”. Alguns destes filmes confundem-se entre o film noir e a NV..

Aqui fica uma lista dos filmes mais importantes, deste período:
“Touchez Paz ao Grisbi” (1953), de Jacques Becker - Jean Gabin é extraordinário no papel de um gangster que deu o seu “último golpe” (o roubo de grande quantidade de barras de ouro), antes de se reformar. Mas um jovem gangster ambicioso tenta apossar-se do produto do assalto. Foi o filme que reconciliou o público com Gabin.
“Du Rififi Chez Les Hommes” (1954), de Jules Dassin – Adaptação do livro mais famoso de Auguste Le Breton. Esta obra, realizada por um realizador americano em fuga da chamada caça ás bruxas (macartismo), conta a história de um um gangster que prepara um meticuloso assalto a uma ourivesaria. Nunca um filme francês esteve tão perto dos film noirs americanos, ou não fosse ele realizado por um especialista do género.
“Bob, Le Flambeur” (1956), de Jean-Pierre Melville – Melville é possivelmente o cineasta francês que mais filmes dedicou ao género policial, oferecendo-nos personagens inesquecíveis através de actores como Lino Ventura e Alain Delon. “Bob le Flambeur” encontra-se retirado do mundo do crime já lá vão vinte anos, depois de um assalto que correu mal, pagou a sua divida à sociedade e regressa às ruas de Paris para se dedicar ao jogo.
“Ascenseur pour L’Échafaud” (1958), de Louis Malle - Uma estreia coroada de sucesso de Louis Malle. Através de uma intriga policial desenvolvida em ambientes “à americana” (para o que muito contribui a música de Miles Davis) Malle deixava aqui a certeza de que o “novo cinema” estava prestes a chegar.
“Pickpocket” (1959), de Robert Bresson - A arte de furtar como aventura espiritual. Com actores sem experiência como actores num registo nada naturalista, este é um filme de detalhes (mãos, olhos, gestos, enquadramentos), que conta a história de um carteirista niilista que encontra o amor e a redenção. A impassividade absoluta ao serviço da emoção absoluta.
“Le Trou” (1959), de Jacques Becker – Mais do que um filme anterior de Bresson ("Un condamné à mort s'est échappé"), este seria o filme sobre as fugas da prisão por excelência. Quando o filme de Bresson é mais um trabalho espiritual, um estudo na fé e na redenção, o filme de Becker é situado na dura realidade. Becker concentra-se totalmente na prova física e mental e oferece-nos uma das experiências mais cruéis do cinema.
"Le Deuxíeme Souffle" (1966), de Jean-Pierre Melville. Uma das maiores obras de Jean-Pierre Melville. Um fabuloso retrato do “milieu”, através da história de um evadido, Gu (Lino Ventura) que se envolve num assalto para arranjar dinheiro para fugir do país. A polícia fá-lo passar por “informador” e Gu vai dar caça ao inspector para o forçar a dizer a verdade e limpar a sua “honra”.
“Le Samouraï” (1967), de Jean-Pierre Melville. O herói, Alain Delon, é impassível. O seu belo rosto, não transparece qualquer emoção, nem mesmo quando ele coloca uma luva de enfermeiro e empunha um revólver. Jef é um assassino profissional. O filme não nos revela quase nada sobre o passado dele, mas compreendemos que ele nunca foi preso, e não tem ficha na polícia, porque toma todos os cuidados possíveis para não ser reconhecido. Um dos melhores filmes franceses de sempre.
"Le Cercle Rouge" (1970), de Jean-Pierre Melville. O penúltimo filme de Jean-Pierre Melville, sem vergonha, e sem tabus. Apesar da simplicidade da sua história e do minimalismo característico do seu estilo, "Le Cercle Rouge" é o filme conceitualmente mais sofisticados de Melville, Muitos o consideram como um dos maiores - senão o maior - policial francês, um género que não só dominou Melville, mas que fez uma forma de arte por direito próprio...

Pelo convidado: Francisco Rocha.

2 comentários:

  1. Para ser sincero, acho que alguns destes filmes quase que não são policiais, mas achei que ficavam bem aqui :)

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  2. destes só vi o Le samourai que é fabuloso.

    A razão porque os assassinos usam luvas no ghost dog do Jarmush é por causa dos filmes do Mellville

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