Entrevista a João Canijo
"Uma nomeação efectiva aos Oscars é sempre uma quimera"
No rescaldo da prenomeação para Melhor Filme Estrangeiro da obra “Sangue do Meu Sangue”, fomos falar com o seu realizador, João Canijo. Sobre a longa-metragem portuguesa, este adiantou que esperava que o filme fosse bem recebido pelo público, tanto pelo talento do elenco, por reunir actrizes de grande calibre, como da proximidade das personagens do filme às pessoas que integram a sociedade portuguesa suburbana, ainda que esta seja escondida e desconhecida por muitos.
1. O que o levou a escrever e realizar “Sangue do Meu Sangue”?
A ideia saiu de um trabalho conjunto com o elenco do filme, a partir de uma ideia de uma história sobre a sobrevivência do amor. A partir do tema do amor incondicional, e da condição de situar o filme num bairro social suburbano, trabalharam-se as personagens, as relações entre eles e foi-se estruturando assim o argumento.
2. Qual a mensagem que queria passar com o filme?
Que o amor pode sobreviver através do sacrifício. Isto é, que mesmo nas circunstâncias mais difíceis os sentimentos profundos podem levar à abdicação de si mesmo e aos sacrifícios mais extremos por alguém que se ama.
3. A recepção do público e crítica, em geral, pode-se dizer que foi “calorosa”. Estava à espera disso?
Quase sempre que se tenta fazer um trabalho profundo, como o dos actores no filme, isso acaba por ser reconhecido. Por isso, estava à espera que o excelente trabalho das actrizes no filme fosse reconhecido, tal como foi.
4. Acha que os espectadores se identificaram com o argumento e por isso o receberam melhor que a maioria dos filmes nacionais em sala?
Acho que os espectadores se identificaram com as personagens e com o trabalho dos actores. O filme mostra um país muito próximo dos espectadores, mesmo que a Lisboa suburbana seja escondida e pouco conhecida. A redescoberta do que se conhece, mas se nega, funciona como uma revelação.
5. O filme tem sido bem recebido também no estrangeiro, prova disso são os diversos prémios em que foi nomeado, acabando por vencer: o prémio FIPRESCI – The International Federation of Film Critics, uma menção especial ao Prémio TVE Otra Mirada no Festival San Sebastián 2011 e ainda o Grande Prémio do Júri do Festival de Miami 2012. Acha que este feedback se vai repetir na selecção dos candidatos finais a Melhor filme estrangeiro?
Nunca se sabe, mas será muito difícil… O filme ganhou outros prémios, mas uma nomeação efectiva aos Oscars é sempre uma quimera.
6. Como foi disputar o lugar de candidato a Melhor Filme Estrangeiro com “Tabu”, de Miguel Gomes?
Se disputa houve, não lhe dou grande importância dado o carácter quimérico da candidatura.
7. Segundo o website Indiewire, “Sangue do Meu Sangue” encontra-se na oitava posição do ranking de filme favorito para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Acredita que é um reforço às esperanças de o filme vir a ser um dos seleccionados e até vencer a categoria?
Digamos que encaro isso apenas como mais um reconhecimento internacional.
8. O cinema português tem vindo a evidenciar o surgimento de mais filmes em sala nos últimos anos. Acha que esta nomeação é um incentivo para a construção de uma indústria cinematografia em Portugal e, consequentemente, de um “cinema em português”?
Na minha perspectiva o cinema português não evidencia desenvolvimento nenhum. Como desde sempre acontecem excepções circunstanciais. Houve outras excepções com o senhor Oliveira, o João César Monteiro e o Pedro Costa. Não há, nem nunca haverá indústria de cinema em Portugal. A dimensão do mercado interno não permite sequer essa possibilidade.
Artigo publicado originalmente no site Arte-Factos.
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