Listas de cinema?...prefiro as das zebras.

07:23:00 Unknown 4 Comments

Por todo o lado, como já é de praxe, começamos a ver as "listas dos melhores do ano". É um hábito que fui perdendo ao longo dos anos, desde o nascimento deste espaço, que é o Cinema's Challenge. A razão para tal deve-se ao facto de achar essa enumeração demasiado relativa e pouco precisa, principalmente por em Portugal os grandes filmes, aqueles que provavelmente acharei os "melhores" chegarem sempre às nossas salas no ano seguinte ou no fim do respectivo ano a que pertencem. Este ano o processo repete-se. Ou pelo menos quero acreditar que sim. Temos grandes filmes, que parecem promissores, como Django Unchained e The Master, que só nos chegarão lá para Janeiro/Fevereiro. Temos outros como Amour (que ainda não tive a oportunidade de ver) que apenas está a ser exibido numa sala, em determinados dias, pelo menos aqui para os lados do norte; ridículo, portanto um filme de Haneke confinado a um espaço só. Mas no meio de todos, temos os sobrevalorizados, aqueles cuja projecção dantesca, hype, ou lá o que queiram chamar, bateu o limite do tecto e foi directamente em direcção ao espaço, ultrapassando todas as galáxias de encontro ao inócuo, vácuo, vazio. Ou seja, filmes cuja densidade é tão grande como uma música da Britney, mas que no meio de todo o espectáculo, ora visual, ora promocional, são dados numa bandeja ao grande público como se tratassem de verdadeiras refeições groumet. Um exemplo maravilhoso disso é Prometheus, devo/quero arriscar que foi o maior engodo de sci-fi dos últimos anos, mas foi recebido de braços abertos por aqueles que acreditam que na sci-fi vale tudo, só porque é ficção e esta não tem de ser lógica, só pelo 3D, só pelos fogos de artifício e lista imensa de nomes nos efeitos especiais. Aqueles que um dia se esqueceram que Ridley Scott foi o realizador de filmes como Alien e Blade Runner, aqueles que olham para os plot holes como resultado da redução ("injusta", dizem) do filme de 5h para umas 3h. Ups. Sem apontar dedos, porque todos temos as nossas paixões incompreendidas  existem realmente estes casos, cada vez mais gritantes, realmente dizem que o amor nos deixa cegos. Lá está, este é um bom exemplo, mesmo que no cinema e não na vida real.

Não me querendo alongar, nas lamurias  mas já o fazendo, tenho saudades de ver grandes actrizes/actores que preenchiam o grande ecrã, como ainda víamos acontecer na década de 60. A classe, as mensagens não cliché, a originalidade, pouco fazem parte de Hollywood actualmente. Vemos prequelas, sequelas, remakes, "filmes baseados em", vemos de tudo, mas não vemos "o novo": originalidade, criação, reinvenção. Vemos o 3D no seu auge, algo que há uns 20 anos ou mais atrás já existia, mas que não pegou. Pega agora com a sociedade do espectáculo, da imagem, da aparência. Talvez seja uma metáfora que demonstra aquilo em que nos tornamos, uma sociedade com a memória curta, espectadores que aplaudem o produto com mais pompa ou onde mais dinheiro se gastou; público que se engana. 

Antes dizia-se que o cinema inspirava as pessoas, agora, talvez, sejam as pessoas que precisam de começar a inspirar o cinema.

4 comentários:

  1. Concordo com todas essas razões, se calhar sentia-me mais confortável a fazer agora um top10 de há 2 anos.

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  2. Concordo plenamente, especialmente sobre as listas dos melhores do ano. Não tenho algo contra a quem as faz, até muitas vezes acho engraçadas, mas lá no fundo não têm muito valor, devido a filmes que ainda, por alguma razão, não puderam ser visualizados. Na minha opinião, só se poderia fazer uma lista dos melhores do ano quando todos fossem visualizados, coisa que só seria possível depois dos filmes estarem disponíveis, ou seja, no ano seguinte. Não costumo a fazer listas com filmes do ano anterior, se os filmes são de 2011 não entram na lista, mesmo que eles tenham estreado em Portugal em 2012. Por isso prefiro não fazer lista dos melhores do ano no final do ano. No entanto, criei um vídeo em comemoração a este ano cinematográfico, que está a acabar, e ao inicio de um novo. Amanhã colocarei disponível no Burnham's Mind. Continua o bom trabalho!

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  3. Concordo contigo. Aliás, desde que sou um cinéfilo mais atento, tenho-me várias vezes manifestado contra as listas, em grande parte pelo que dizes dos melhores filmes só chegarem nos primeiros meses dos anos seguintes, em parte por esse trabalho não nos caber a nós mas sim aos jornalistas e críticos que têm entrada gratuita em tudo quanto é filme.

    Bjs e bom ano novo.

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  4. Obrigada a todos pelos vossos comentários :)

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May the force be with you!