Crítica:"Man of Steel"

18:47:00 Unknown 0 Comments


O universo da DC e Marvel há muito que foi invadido pelo cinema. São muitos os filmes sobre personagens da BD que encontraram nos últimos anos um novo formato: a película, cada vez mais executada com 'auxílio' do 3D. "Man of Steel", em conjunto com muitos outros, não foge à excepção, e é mais uma delas. 

Temos heróis com passados arrebatadores. Desde o Spiderman (da Marvel, já à acumular duas adaptações diferentes) à Catwoman (da DC e uma das piores adaptações que tenho memória), que agora vêem nas novas adaptações cinematográficas, da sua história, uma forma de chegaram ao público que nunca foi seguidor das histórias fidedignas e mais profundas dos livros aos quadradinhos. Começou em "Batman Begins", de Nolan, uma saga que misturou os problemas de uma personagem altamente existêncialista, cujas marcas do passado criaram alguém incomum, com o mundo fantástico dos super-heróis coberto de caos e muita acção. Isto é, vêmos o mundo, neste caso da DC, dividido em dois: por um lado é gratuito e cheio de onomatopeias explosivas, efeitos especiais e muito entretenimento, por outro assistimos a um lado que nas histórias originais, ao contrário do que muitos pensam, está presente, falo do lado moralista. Aliás, se pensarmos ainda melhor, e retornarmos uns anos atrás, talvez o génio a explorar este potencial das histórias de super-heroís, muito perto e adaptadas ao quotidiano da vida real, não tenha sido primeiro Christopher Nolan, mas, sim, o realizador de "V for Vendeta", James McTeigue. Apesar do filme de McTeigue ter sido descredibilizado por Alan Moore - um dos argumentistas da história em BD, algo explicado por outros filmes da sua autoria terem sido para si uma desilusão após adaptados, como é o caso de "From Hell" e "The League of Extraordinary Gentlemen" -, hoje é uma obra de culto, exemplar dentro do género fantástico de acção. Mas tudo isto apenas para frisar este lado que emergiu com mais alento nos últimos anos: o realismo que invade o mundo das comic, mudando-o para todo o sempre.

A verdade é que por mais críticas que existam, por exemplo daqueles ainda fãs do universo super-heróico do antigo Batman de Tim Burton, ninguém pode negar que a nova receita faz com que haja uma melhoria nos filmes de super-heróis. No entanto, nem todas as apostas podem resultar bem como na saga de Nolan ou do anti-herói com máscara de Guy Fawkes, e penso que seja isso que acontece em "Man of Steel"; uma mistura esquizofrénica, bastante perdida entre um filme altamente comercial e de entretenimento e um filme moralista e introspectivo. Não há um equilibrio, nem um objectivo traçado para o rumo da personagem, há, antes, uma enorme confusão em encontrar um caminho credivel para tudo o que está acontecer. Zack Snyder, o realizador, tenta enaltecer actos usando clichés ou momentos altamente improváveis, tenta 'deja vus', tenta apelar à infância e memórias, a marcas que fizeram daquele ser humano - Clark Kent - alguém diferente mas que optou pelo caminho do bem. "Man of Steel" joga com essa questão dos valores e metafóricamente com uma personagem-tipo que podia ser qualquer órfão deste mundo. O facto de se ser filho de um vilão ou pertencer a um povo cuja conduta é menos boa, não nos restringe ao caminho do mal, é aquilo que o filme acaba por passar, contudo de forma hiperbólica. Há sempre uma opção, nada está escrito, somos nós que determinamos aquilo que somos pelas nossas acções. Mas não será esta moral um pouco batida, mesmo que correctamente agradável de se apreender? A resposta é relativa, fica para cada um de nós a solução para esta pergunta. Para mim, não é novidade nem me levou a uma epifania, mas soube de algum modo a algo, algo que saboreie e me entreteve durante duas horas e meia. Todavia, não posso ver o filme como uma obra-prima ou futura saga de culto como a de Nolan. Por muito que simbolize a esperança da fé nos 'homens', é apenas um bom filme de super-heróis e, infelizmente, desprovido de elementos que o tornem único e bom na categoria de apenas filme.


Podíamos ter três filmes em apenas este: primeiro os primórdios e o mundo de Kripton, segundo a infância e crescimento de Clark e por fim a descoberta da sua origem. Compactarem tudo em apenas um filme foi um erro crasso. Demasiada informação que não é consumida pelo cérebro do espectador que leva com tudo à pressão, sem tempo de pensar muito sobre aquilo. 

Só depois disto tudo, que em duas horas e meia revelou-se pouco tempo para ser contando, é que, a meu ver, se poderia passar para uma sequela. É fácil de prever que existirá uma, como em qualquer filme de super-heróis, por isso apenas nos resta esperar que hajam melhoras que tornem as personagens e história mais coerentes, tornando os fãs de Superman orgulhosos do senhor que veste cuecas vermelhas por cima da capa.

Até agora tentei não entrar pelo 'spoiler world', mas é inevitável. Temos Clark desempenhado pelo actor Henry Cavill, pode ser bonitão, mas é altamente 'teatral', isto é no mau sentido. O esforço para mostrar que está indignado ou feliz é tanto que notamos os gestos e expressões forçadas do mesmo. Já Lois é das piores escolhas para a personagem feminina de todos os tempos. De atractiva tem pouco, parece inclusive bem mais velha que o nosso herói e cansada pelo tempo. Não há ali química entre os dois, nem ela parece possuir aquela ousadia de que nos é familiar de outras andanças. Nem eu me apaixonaria pela mesma, imagino um 'Superhomem', se é que me percebem.

Mais que tudo, temos um momento tão mas tão sem sentido que é a morte do seu pai adoptivo. A sério que alguém espera de braços cruzados que um tornado engula a pessoa que nos criou? E a resposta certa é...(tan tan tan): NÃO! Apenas o nosso Superhomem super dramático. A tentativa de puxar a lágrima é exagerada. Talvez tenha sido uma tentativa de criar um momento como o de quando Peter Parker acaba por 'pagar' por ter deixado fugir um assaltante, vendo o preço ser a morte do seu tio; contudo, se foi o caso, ficou muito longe de conseguir esse resultado comovente e moralista que a história de "Spiderman" tem. Tornou-se antes uma tentativa de, por ser produzido por Nolan, se parecer com o último Batman na forma de contar a história, ficando por terra por se perder entre a demasiada acção e CGI exagerado, com falas cliché e momentos forçados, apenas agradando os mais convictos fãs dos filmes de super-heróis.

Nota: 6/10

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