CRÍTICA‬: «Spotlight» (2015), de Tom McCarthy

18:56:00 Unknown 0 Comments


Este ano temos alguns filmes baseados em factos reais como «Steve Jobs», «The Big Short» e «The Revenant» na corrida aos Oscares 2016. E também a esta lista podemos adicionar «Spotlight», o drama jornalístico que retrata a história verdadeira (que recebeu inclusive um Pulitzer) de como o jornal Boston Globe, mais propriamente a secção dedicada à investigação Spotlight, desvendou e publicou um escândalo de pedofilia massiva que envolvia padres, mexendo assim directamente com a Instituição Católica. A narrativa segue uma linha interessante mas ao mesmo tempo previsível, onde vamos conhecendo e chafurdando no core do problema, ao mesmo tempo que ficamos a saber como funciona a secção Spotlight que trata esse tipo de casos e os membros que a compõe; mais que tudo percebemos o que motiva os jornalistas a agarrar uma potencial história.

As personagens Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams), Matty Carroll (Brian d'Arcy James) e Walter Robinson (Michael Keaton) estão bem entregues, todos os atores cumprem perfeitamente o esperado sem haver nenhum que se destaque particularmente. Embora haja a tentativa de as desenvolver, nunca deixam de ser planas. Falta ao filme um lado mais humano, que deveria advir dos jornalistas. Ficamos pelo ressentimento de uns que não prestaram a devida atenção às informações dadas no passado, ou pela quebra com a ideologia católica ou ainda com o medo de o vizinho do lado ser o inimigo...O problema é que o levantar do véu é interessante, mas nunca chega a ser mais que isso...Ficamos por não saber muito bem que tipo de situação a personagem de Mark Ruffalo tinha com a mulher da qual estava separado (esta nunca aparece, apenas é mencionada), por exemplo. Pouco sabemos das personagens até ao fim. Temos uns momentos de dúvidas, em que o "rato" dentro da redação chega a ser quase real, mas que até ao final da história acaba por não existir, ficando-se por uma espécie de especulação ou falsas pistas.

Há muito em «Spotlight» que se fica pela intenção, mesmo que este seja um filme com uma história que merece sempre a nossa atenção devido à sua seriedade e perigo de fechar os olhos. Existem momentos mais tocantes onde as vítimas são confrontadas com as evidências dos abusos, aí percebemos como afetou o desenvolvimento das mesmas enquanto adultos, marcando-as para sempre. Algumas performances são arrebatadoras com relatos cruéis, de quem não tinha ainda maturidade suficiente para perceber o porquê de serem "os escolhidos", entre a admiração e sentimento de ser especial, entre o nojo e horror de ter deixado acontecer, o drama chega ao coração do público e não o deixa indiferente à realidade descoberta em 2001. Porque não foi só ficção, foi também real.

O filme do realizador Tom McCarthy dispensa qualquer tipo de efeito digital para o tornar apelativo, falando apenas por si enquanto história como nos velhos tempos do cinema. A atenção do público é presa ao longo das duas horas. McCarthy aposta numa abordagem linear, sem grandes truques de montagem ou câmara, sem explosões, sexo explícito ou outro tipo de adereço; e isso é de admirar nos dias de hoje. Principalmente num filme limitado geograficamente à cidade de Boston.

«Spotlight» cumpre aquilo a que se propõe, mas pouco arrisca ou surpreende, numa história regular sobre jornalismo e um grande caso que envolve corrupção que capta a atenção do público e é bem contada. Vale a pena ver, mas na história do cinema será sempre apenas mais um filme de redação, sem nada de inovador ou particularmente memorável.

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