Tela Clássica: o terror que chega do frio
O seminarista Khoma Brutus, um estudante azarento, perde-se no campo durante as férias e acaba por passar a noite no celeiro de uma velha. A mulher depressa se revela uma feitiçeira, utilizando Khoma como uma vassoura humana. Depois de lhe ter batido até ela ficar inconsciente, Khoma vê-se com uma mistura de culpa e espanto quando a velha se transforma numa linda e jovem senhora. Depois, Khoma é chamado a uma aldeia longínqua, onde foi especialmente seleccionado para presidir ao despertar de uma rapariga numa velha igreja. A cerimónia leva-o a passar três noites sozinho com aquele cadáver fantasmagóricamente familiar, só com a sua frágil fé a protegê-lo.
A trama chega ao auge nessas três noites, onde sozinho, trancado na capela, ela levanta-se do caixão e o vai amaldiçoando, enquanto que ele tenta resistir num círculo de giz desenhado no chão.
Esta adaptação fiel da curta história de Nikolai Gogol, de 1835, é um clássico do terror mundial, merecendo um lugar ao lado da excelência dos filmes da Universal. Como as obras de contemporâneos de Gogol, Viy foi considerado como um conto "estranho" desde a sua publicação original, mas hoje parece ser uma história de fantasmas relativamente simples, demonstrando como o que antes era estranho pode ser incluído no mainstream, passado algum tempo. Ainda é incondicionalmente recomendado, especialmente para os fãs de histórias do horror sobrenatural sublime que se baseiam em atmosferas e pressentimentos ao invés de sangue e tripas.
Viy é uma experiência incomum e exótica para os expectadores ocidentais (foi realizado na antiga União Soviética), para quem as bruxas não são o protótipo vilão sobrenatural, mas a maioria vai se sentir confortável dentro de estrutura reconhecível do conto popular. Os diálogos do filme servem de metáfora contra o poder de igreja sobre os pagãos, ao mesmo tempo que mostram o quanto mágicos são os ritos incorporados por ela. Ambos usam palavras de poder, feitiços, locais sagrados, círculos de força.
Este mesmo conto serviu de inspiração para o famoso filme de Mario Bava, A Máscara do Demónio, e os minutos finais são de puro deleite, um verdadeiro festival de efeitos especiais. Recorde-se que estávamos no ano de 1967.
Pelo convidado, Francisco Rocha.
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May the force be with you!