WOODY ALLEN: O HOMEM DAS MIL ARTES

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Nascido no dia 1 de Dezembro de 1935, antes de adoptar o nome artístico pelo qual é conhecido, Woody Allen chamava-se Allan Stewart Königsberg. Embora o vejamos como um génio e alguém muito culto, curiosamente, Allen nunca se deu bem na escola. Nunca se chegou a formar, mesmo tendo frequentado a universidade de Nova Iorque.

Não foi pelo cinema que começou a ser conhecido, mas pelas piadas que escrevia e expunha nos seus shows de stand up comedy. Tanto que em 1964 foi nomeado pelas mesmas para um Grammy. A película chamava por si. E não durou mais que um ano até enveredar pelo mundo do cinema. Assim, de apenas comediante, passou a argumentista e actor do filme “What’s New Pussycat?”. Mas não tardou muito a sentar-se na cadeira de realizador. Foi em 1969 que dirigiu o seu primeiro filme, “Take the Money and Run”, sendo que desde aí executou e escreveu mais de 30 filmes. Em média o cineasta faz um por ano, cujo esforço quase inigualável o faz ser admirado por muitos colegas e fãs da área. Realizador, argumentista, escritor, comediante, músico e actor são algumas das suas várias facetas artísticas. Mesmo sendo melhor numas – como é o caso da realização e escrita -, do que outras – como a representação -, Allen nunca parou de evoluir.

Mas foi com “Annie Hall” que este brilhou no cinema, pois foi o filme que fez todos os homens apaixonarem-se por Diane Keaton e todas as mulheres quererem ser como ela. É ainda hoje uma obra admirada, bem premiada na altura, recebendo no total quatro Oscares: três para Allen pelo melhor filme, argumento, realização e um para Diane Keaton como melhor actriz. Também em “Hannah and her Sisters” (1986), o polivalente cineasta foi nomeado para o Oscar de melhor argumento original e mais 18 indicações em outras categorias e festivais. Não esquecendo que ao longo dos anos a mesma virtude foi alcançada com outros filmes. No entanto, como o mesmo admite, nunca fez filmes para agradar os parâmetros de Hollywood, tanto que nunca apareceu em nenhuma das galas, à excepção de uma em 2002 para prestar uma homenagem à cidade de Nova Iorque depois dos ataques de 11 de Setembro.

De Nova Iorque, mais propriamente Brooklyn, onde nasceu, para o mundo, é assim, em suma, a trajectória de vida do cineasta Woody Allen. Foi na cidade que nunca dorme que Allen rodou a maioria dos seus filmes, inclusive um dos seus mais famosos clássicos: “Manhattan” (1979). Pela segunda vez, o artista da sétima arte integrou no elenco de um dos seus filmes Diane Keaton e é com a mesma que acabou por ter um relacionamento. Problemático e polémico no que toca aos seus amores, Allen tem uma extensa lista de relações. Mesmo antes de tornar-se conhecido, o astro do cinema já tinha sido casado duas vezes e divorciado consequentemente também duas vezes com as respectivas companheiras. Talvez seja por isso que tem tantas histórias para contar no grande ecrã, que nos parecem ter um fundo tão real e próximo de episódios que já vivemos. Contudo, a verdade é que por muito óbvio que haja em cada filme um toque pessoal e partilha de experiência é difícil deslindar o que é real e ficção. O que foi vivido ou não por Woody e o que este ainda vai vivendo no seu dia-a-dia são um mistério. A sua vida sentimental e laboral sempre andou de mão dada ao longo da sua carreira. O que mais evidencia isso é o facto de todas as actrizes famosas com quem namorou terem sido as protagonistas dos seus filmes. Além de Keaton, podemos falar de outro caso muito conhecido, o de Mia Farrow, que entrou em vários filmes de Allen. E não foi muito longe desta que encontrou o seu actual amor, com quem é ainda casado, a filha adoptiva de Farrow, a jovem Soon Yi.

«Annie Hall» (1977)
Inspirado por grandes cineastas – como Ingmar Bergman, Groucho Marx, Federico Fellini e Cole Porter -, o pai da comédia-romântica inteligente já trabalhou com muitas actrizes e actores de renome. De diferentes idades, nacionalidades e géneros a lista é imensa, mas ficam aqui o nome de alguns deles: Carrie Fisher, Michael Caine, Madonna, Martin Landau, Gene Wilder, Angelica Huston, Meryl Streep, Sydney Pollack, Judy Davis, Liam Neeson, Juliette Lewis, Alan Alda, Goldie Hawn, Christina Ricci, Leonardo di Caprio, Edward Norton, Drew Barrymore, Julia Roberts, Naomi Watts, Tim Roth, Natalie Portman, Scarlett Johanson, Helen Hunt, Charlize Theron, Dan Aykroyd, Danny DeVito, Oewn Wilson, Jesse Einsenberg, entre muitos outros. Todavia, não foi apenas com actrizes já consagradas que trabalhou. É também conhecido por lançar novas caras; Mira Sorvino foi um desses casos em “ Mighty Aphrodite” (1995).

Sobre a sua carreira não é fácil apontar muitos momentos “baixos”, a qualidade foi sempre presente na sua filmografia. Conquanto, é óbvio que teve algumas super-obras que jamais serão igualadas por obras mais actuais também da sua autoria. Sendo que há quem aponte o ano 2000, altura em que firmou contrato com a Dreamworks, como o seu mais decadente. Dessa fase fazem parte filmes como “Small Time Crooks”, “The Curse of Jade Scorpion”, “Hollywood Ending” e “Anything Else”. Este último é reconhecido como um dos seus filmes mais fracos do género cómico-romântico.

Foi depois de deixar para trás a empresa de Spielberg que Allen voltou a brilhar. “Melinda and Melinda” foi a catapulta que o levou a aproximar-se do drama. Mas foi apenas com“Match Point” que conseguiu realizar esse desejo, sendo aplaudido pela crítica. Todavia, é um dos filmes que menos prezo, por se distanciar muito do seu tipo de cinema e não ter, por isso, a sua marca, que eu tanto gosto. Mesmo que não seja um dos meus preferidos, este filme teve um papel importante na cinematografia de Allen. Associou-o a Scarlett pela primeira vez e atirou-o por uma aventura pela Europa. A qual ainda não terminou a julgar pelo seu mais recente filme rodado em Itália – “To Rome with Love”. Depois do drama com Scarlett, seguiram-se vários filmes: “Scoop” e “Cassandra’s Dreams” (muito mal recebido pela crítica), em Inglaterra; “Vicky Cristina Barcelona”, em Espanha; “Whatever Works”, onde volta a cidade natal; “You Will Met a Tall Dark Stranger”, em Londres; e “Midnight in Paris”, em França.

«Melinda and Melinda» (2004)
Intelectual para uns e artística para outros, Woody Allen é na contemporaneidade um dos melhores realizadores ainda vivos. Continua a cumprir com o proposto: um filme por ano. Não deixando, que os títulos de “cineturista” ou “presunçoso” o travem de fazer mais e mais obras fílmicas. Até porque o próprio admite não gostar da maioria dos seus filmes, nem ter o intuito primordial de agradar à crítica ou público. O que por si é bastante intrigante. E incomum nos dias de hoje.

O realizador-argumentista-actor costuma incorporar personagens neuróticas e judias quando entra nos seus filmes; o que acontece bastantes vezes. Porém o que também é comum nas suas películas é o tipo de assuntos tratados, de foro existencialista e sentimental, que embora tomem várias formas para serem contados, acabam por ser sempre semelhantes. Entre o optimismo e pessimismo, o realizador consegue dar-nos a conhecer belas histórias, cuja mensagem no final torna-se sempre bem clara. Apesar de o seu género mais conhecido ser a comédia-romântica, o drama, mistério e estilo noir também são alguns dos diferentes géneros já adaptados ao cinema pelo mesmo no meio de tantos anos de carreira flamantes.

Texto originalmente escrito por mim para o site Arte-Factos.

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