Crítica: "Deep End", de 1970

16:20:00 Unknown 3 Comments

Nunca um título fez tanto sentido num filme. Mas neste caso apenas quando chegamos ao final do mesmo. "Deep End" conta-nos a história de um jovem um tanto ao quanto incomum, com um comportamento  insólito e bizarro, ora pela apatia, ora pela obsessão, que tem pelas mulheres, no segundo caso apenas por uma, ao longo do filme. O seu nome é Mike, a personagem desempenhada pelo actor John Moulder-Brown, conhecido por "La residencia", que começa aos 15 anos a trabalhar num pavilhão de banhos e natação. Aí, o adolescente conhece Susan, desempenhada por Jane Asher, uma mulher provocadora, com vida dupla e que não se arrepende de nenhum dos seus actos, até um dia...Mike começa a desenvolver uma obsessão por Susan, que não tem um final feliz.

A água é um elemento constante ao longo da película, datada de 70, escrita e realizada por Jerzy Skolimowski. No entanto, as características do final dos anos 60, designadas pelo termo "Swinging London", que remetem para o ecletismo cultural e o modernismo de costumes próprios de Londres, os seus anos de euforia, com a recuperação económica e moral após a II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que os EUA sofriam com a Guerra do Vietnã, ficaram para trás. O filme apresenta-se como um retrato mais obscuro e dramático de Londres, embora misture momentos de humor com algum romance, meio desvirtuado, é certo. 

O filme tem um conjunto de episódios que se destacam nas nossas memórias: as mulheres mais velhas que insistem em assediar Mike; a prostituta engessada; Mike que segura a placa com a foto de Sara no metro até mergulhar com ela na piscina; e o final que mistura a obstinação da primeira paixão com uma quase morbidez. Existem também alguns elementos que fazem do filme uma obra interessante; [Spoiler] como o presságio final - a queda da tinta vermelha da lata para a piscina, que parece anunciar a morte de Susan.

Ao longo do filme, é também possível evidenciar uma certa perversidade das personagens e argumento em si. A comédia parece assim camuflar o desejo humano, o sentimento de posse do corpo, própria da juventude da época, que acaba por ser traduzido pela vontade do jovem de fazer de Sara uma quase prisioneira. "If you can't have the real thing - you do all kinds of unreal things", é uma das taglines mais poderosas do filme.

É uma obra pouco comum, mas que não deixa de ter um quê de apetecível. Tem jeitos que fazem lembrar as longas de Hal Hartley, que chegou anos depois com o conhecido "Trust" entre outros dos seus trabalhos. "Deep End" é uma das muitas obras esquecidas em detrimento de projectos cinematográficos mais populares ou da mente pouco educada dos cinéfilos. Por isso, aconselho que vejam, é uma boa experiência, acompanhada por uma boa soundtrack.


A ideia de uma paixão descontrolada é vislumbrada e acompanhada até a um final trágico e, de algum modo, quase delicioso. [Spoiler] E com isto é caso para se dizer, que no final morreram felizes para sempre e nem a morte os separou, mesmo com um final tão profundo e fatídico...

3 comentários:

  1. Um grande filme, com um ambiente único. Skolimowski é o maior, ainda bem que está de volta!

    ResponderEliminar
  2. Vou assistir hoje à tarde no cinema da faculdade. Procurei uma resenha e encontrei a sua, bastante simpática.

    Tenho um blog sobre cinema que talvez goste

    escritoemluz.blogspot.fr

    ResponderEliminar
  3. Narrador Subjetivo: Sem dúvida!

    Lord Vader: Muito obrigada, verei o teu blogue, logo que possível. Agradeço a visita e espero que voltes cá mais vezes. Já agora, gostaste do filme?

    ResponderEliminar

May the force be with you!