Crítica: American Pie - The Reunion
A última fatia costuma ser a melhor porque temos consciência que é preciso saboreá-la como deve ser e porque nunca mais sentiremos aquele gosto particularmente bom, mesmo que se tente repetir a receita, os ingredientes nunca mais serão exactamente os mesmos e parecendo que não isso faz uma enorme diferença. E é também assim que se comporta a saga que fez rir miúdos, menos miúdos e até graúdos ao longo de 13 anos de existência e que chega, ao que parece, ao fim com o filme "American Pie: The Reunion", que está neste momento nos cinemas de todo o país.

O Stifler representa o típico gajo cool, cujo seu auge foi os tempos de liceu, mas que nem por isso deixa de ter bom coração e de fazer tudo pelos amigos- vêmos isso ao longo dos 3 filmes que antecedem este último -, possívelmente a falta de um elemento masculino como exemplo fez com que fosse tão destrutivo com as mulheres, mas isso já são outras histórias, ou não existisse a Stifler's Mom - comecei pelo Steve Stifler porque é a minha personagem preferida. Paul Finch tinha de vir logo depois, sim, é uma piada da minha parte, porque como sabem ele e o Stifler têm uma grande ligação, que possibilitou que a palavra MILF entrasse nos nossos vocabulários desde ' 99.
Finch representa o esquesitóide. O potencial hipster e tipo fixe se a história se passasse hoje e não há mais de uma década. Tem uma grande cultura geral, sabe latim e não se senta em qualquer sanita. É a seguir de Stifler talvez o elemento mais inesquecivel da saga. Que acaba por deixar as manias, cresce, e também encontra o verdadeiro amor, deixando o fetiche Stifler.
O Kevin é o mais baixo e talvez menos emblemático personagem. Mas é devido a este que conhecemos o livro sexual deixado pelo seu irmão e que contribui bastante para o enredo do primeiro e segundo filme. É também a única personagem que surge já com namorada - Vichy - e que fica posteriormente sem ela, mas que percebe que é importante gostar de quem temos ao lado. Irónicamente, neste último American Pie, é o que prova que estava destinado desde o ínicio a uma relação, meso que o tenha tentado contrariar. É também o tipo que ao longo de todos os filmes da saga faz o discurso-chave dos pactos e das conclusões. É de um certo modo aquele que tece as morais e que dá ao espectador a ideia fundamental de cada filme.
O Jim representa o rapaz desastrado e totó do grupo, que apenas tem jeito para ter amigos rapazes e pouco mais, com as mulheres é o que se sabe e daí a obsessão pelo sexo (não com mulheres mas com tartes, meias, cola ?!...etc) com coisas aleatórias semelhantes a mulheres, e não estas, pela falta de coragem em interagir com as mesmas, mesmo que irónicamente tenha nádia, a supertouraestrangeiraawesome que qualquer gajo desejaria. Mas a personagem de Jim é o protagonista, penso que tudo roda à volta da mesma sempre, representa o gajo que no fim consegue perceber que existem coisas bem mais importantes que sexo, o amor, que pode não ser perfeito, mas que sabe tão bem que vale a pena passar pelos momentos menos bons. Esta é a personagem que liga todas as outras e que faz com que a saga adiquira um sentido quase de "fellows" na busca de algo superior que nem mesmo as personagens sabem bem o que é. A esta personagem temos inerentes o grupo de amigos, Nadia, ainda Michelle e o Jim's Dad ou Noah Levenstein e as novas que veremos no último filme. Essa mesma busca tem tanto significado porque em grande parte foi a mesma que os telespectadores que acompanharam os quatro American Pies fizeram.
A todos os que ainda não viram "American Pie: The Reunion" garanto-vos que vale a pena ver. Durante a cerca de hora e meia consegui rir sem parar, sem a história perder o sentido e sem grandes malabarismos por parte do argumento, apenas a mesma dose de humor que consegue rivalizar com o do primeiro filme. Valeu a pena esperar 10 anos, asseguro-vos, mas também asseguro que depois de tantas vezes ver a saga nem senti pelo tempo passar, porque estas serão sempre personagens que farão parte da minha vida, mesmo que este género de filmes não seja uma obra de arte, é na mesma um importante marco a não esquecer no mundo da comédia teen. E esta sequela final conseguiu corresponder às minhas espectativas e ser tudo o que poderia imaginar para o desfecho de uma história com mais de 10 anos. O que hoje em dia é quase um milagre.
Sobre a saga e o filme existem alguns pontos curiosos a esclarecer. O nome American Pie advem da cena em que Jim tenta ter relações com uma tarte de maça, no primeiro filme, por os amigos descreverem a sobremesa como o mais próximo de uma vagina. A cidade onde se passa o filme é fictícia, no entanto é inspirada na mesma cidade onde cresceu o argumentista Adam Herz, em East Grand Rapids, no Michigan. O termo MILF foi popularizado por todo o mundo com a série. E a personagem do pai do Jim é importante porque na altura os pais pensavam que tentar falar de sexo era realmente uma forma de estabelecer laços com os filhos, no entanto a forma de abordagem nunca era a mais indicada.
Apesar de não partilharmos os mesmos pontos de vista em relação à saga, quase que me convenceste a gostar do filme com esta crítica :) Não é um grande filme, mas no meio de tanta comédia má que tem estreado ultimamente até acabou por ser uma pequena surpresa regressar a estas personagens. O resultado final podia ter sido bem pior.
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