Crítica: American Pie - The Reunion

08:21:00 Unknown 1 Comments

A última fatia costuma ser a melhor porque temos consciência que é preciso saboreá-la como deve ser e porque nunca mais sentiremos aquele gosto particularmente bom, mesmo que se tente repetir a receita, os ingredientes nunca mais serão exactamente os mesmos e parecendo que não isso faz uma enorme diferença. E é também assim que se comporta a saga que fez rir miúdos, menos miúdos e até graúdos ao longo de 13 anos de existência e que chega, ao que parece, ao fim com o filme "American Pie: The Reunion", que está neste momento nos cinemas de todo o país.

"American Pie" foi o "Porkys" da minha geração, uma geração que foi adolescente ao longo do ano 2000. Uma geração que cresceu com o nascer das novas tecnologias - seja a internet ou o telemóvel - e que conseguiu substituir os bailes dos anos 90 por megafestas épicas acabadas em ' 00, onde as boas-vindas e os adeus eram dados por álcool, drogas e muito sexo frotuito. As próximas gerações hipsters que virem estes filmes vão provávelmente estranhar a falta de "cultura" e de "wanna be", mas a verdade é que estes foram os tempos em que a minha geração cresceu e por muito "parolos" que pareçam, agora, aquilo que começou em 1999, continuo a dar graças a deus por ter crescido neles. Mas deixando a reflexão pessoal, que nos lembra por um lado que envelhecemos e por outro que nunca é tarde demais para nos divertirmos, continuemos a falar do filme. "American Pie: The Reunion" consegue juntar de novo o cast inicial da série. Temos de volta a personagem Oz, que havia desaparecido no terceiro filme, "American Pie: The Wedding", sem nenhuma explicação plausível. Agora retorna e percebemos que a sua vida deu muitas voltas, assim como a das restantes personagens não ficando pontas soltas. Temos todos os ingredientes em cima da mesa para finalizar a tarte mais famosa da América. E mais importante de tudo, cada pista deixada desde o início tem razão de ser. Para não deixar spoilers, não vou revelar quais são as várias conclusões que este filme nos traz, mas aconselho vivamente que o vejam para as perceberem porque realmente vale a pena.
Um dos promenores mais importantes neste teen movie é que cada uma das personagens tem também um psicológico. Normalmente nas comédias de adolescentes isso fica para um segundo plano, só pra decor, nada de muito profundo, em American Pie, no meio da rambóia, mesmo sendo "personagens-tipo", conseguimos perceber que cada personagem tem uma razão de ser.

O Stifler representa o típico gajo cool, cujo seu auge foi os tempos de liceu, mas que nem por isso deixa de ter bom coração e de fazer tudo pelos amigos- vêmos isso ao longo dos 3 filmes que antecedem este último -, possívelmente a falta de um elemento masculino como exemplo fez com que fosse tão destrutivo com as mulheres, mas isso já são outras histórias, ou não existisse a Stifler's Mom - comecei pelo Steve Stifler porque é a minha personagem preferida. Paul Finch tinha de vir logo depois, sim, é uma piada da minha parte, porque como sabem ele e o Stifler têm uma grande ligação, que possibilitou que a palavra MILF entrasse nos nossos vocabulários desde ' 99.

 Finch representa o esquesitóide. O potencial hipster e tipo fixe se a história se passasse hoje e não há mais de uma década. Tem uma grande cultura geral, sabe latim e não se senta em qualquer sanita. É a seguir de Stifler talvez o elemento mais inesquecivel da saga. Que acaba por deixar as manias, cresce, e também encontra o verdadeiro amor, deixando o fetiche Stifler.

O Kevin é o mais baixo e talvez menos emblemático personagem. Mas é devido a este que conhecemos o livro sexual deixado pelo seu irmão e que contribui bastante para o enredo do primeiro e segundo filme. É também a única personagem que surge já com namorada - Vichy -  e que fica posteriormente sem ela, mas que percebe que é importante gostar de quem temos ao lado. Irónicamente, neste último American Pie, é o que prova que estava destinado desde o ínicio a uma relação, meso que o tenha tentado contrariar. É também o tipo que ao longo de todos os filmes da saga faz o discurso-chave dos pactos e das conclusões. É de um certo modo aquele que tece as morais e que dá ao espectador a ideia fundamental de cada filme.

Oz é ao lado de Kevin a personagem menos popular da saga. Talvez por isso ou por outros projectos tenha acabado por ser suprimido do argumento de American Pie: The Wedding. É o tipico desportista, mas que é sensível demais e não tem jeito nenhum com as mulheres porque tenta ser um Stiffler, mas não consegue. Percebe depois que o que precisa é de encontrar a pessoa certa, mas percebemos depois que acabou por a perder, por ambicionar outras coisas materiais. É talvez a personagem com mais dilemas e que acaba no último filme por se tornar o que Stifler sempre quis e por não o querer ser. E quantas pessoas não conhecemos assim? É verdade. Embora mais secundária também tem um propósito este "Casanova". A esta personagem liga-se Heather.

O Jim representa o rapaz desastrado e totó do grupo, que apenas tem jeito para ter amigos rapazes e pouco mais, com as mulheres é o que se sabe e daí a obsessão pelo sexo (não com mulheres mas com tartes, meias, cola ?!...etc) com coisas aleatórias semelhantes a mulheres, e não estas, pela falta de coragem em interagir com as mesmas, mesmo que irónicamente tenha nádia, a supertouraestrangeiraawesome que qualquer gajo desejaria. Mas a personagem de Jim é o protagonista, penso que tudo roda à volta da mesma sempre, representa o gajo que no fim consegue perceber que existem coisas bem mais importantes que sexo, o amor, que pode não ser perfeito, mas que sabe tão bem que vale a pena passar pelos momentos menos bons. Esta é a personagem que liga todas as outras e que faz com que a saga adiquira um sentido quase de "fellows" na busca de algo superior que nem mesmo as personagens sabem bem o que é. A esta personagem temos inerentes o grupo de amigos, Nadia, ainda Michelle e o Jim's Dad ou Noah Levenstein e as novas que veremos no último filme. Essa mesma busca tem tanto significado porque em grande parte foi a mesma que os telespectadores que acompanharam os quatro American Pies fizeram.

A todos os que ainda não viram "American Pie: The Reunion" garanto-vos que vale a pena ver. Durante a cerca de hora e meia consegui rir sem parar, sem a história perder o sentido e sem grandes malabarismos por parte do argumento, apenas a mesma dose de humor que consegue rivalizar com o do primeiro filme. Valeu a pena esperar 10 anos, asseguro-vos, mas também asseguro que depois de tantas vezes ver a saga nem senti pelo tempo passar, porque estas serão sempre personagens que farão parte da minha vida, mesmo que este género de filmes não seja uma obra de arte, é na mesma um importante marco a não esquecer no mundo da comédia teen. E esta sequela final conseguiu corresponder às minhas espectativas e ser tudo o que poderia imaginar para o desfecho de uma história com mais de 10 anos. O que hoje em dia é quase um milagre.


Sobre a saga e o filme existem alguns pontos curiosos a esclarecer. O nome American Pie advem da cena em que Jim tenta ter relações com uma tarte de maça, no primeiro filme, por os amigos descreverem a sobremesa como o mais próximo de uma vagina. A cidade onde se passa o filme é fictícia, no entanto é inspirada na mesma cidade onde cresceu o argumentista Adam Herz, em East Grand Rapids, no Michigan. O termo MILF foi popularizado por todo o mundo com a série. E a personagem do pai do Jim é importante porque na altura os pais pensavam que tentar falar de sexo era realmente uma forma de estabelecer laços com os filhos, no entanto a forma de abordagem nunca era a mais indicada.

1 comentário:

  1. Apesar de não partilharmos os mesmos pontos de vista em relação à saga, quase que me convenceste a gostar do filme com esta crítica :) Não é um grande filme, mas no meio de tanta comédia má que tem estreado ultimamente até acabou por ser uma pequena surpresa regressar a estas personagens. O resultado final podia ter sido bem pior.

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