Pensamentos de um Cinéfilo #1
Certamente, muitas vezes, já viram algum "intelectual" desprezar quem fala de um blockbuster/filme comercial e diz gostar dele como bom exemplo de cinema. No meio dos cinéfilos, ou pelo menos de alguns, é o momento onde aprovam o grau de conhecimento e legitimidade da pessoa com quem têm a conversa. Mas o que me causa uma grande confusão no meio disto tudo - porque esta é a sociedade em que vivemos e já me começo a habituar a estas andanças ao fim de 23 anos - , não é um blockbuster/filme comercial poder ser admirado, mas, sim, o facto de a maioria desses "intelectuais" não se lembrar ( pois penso que não tinham um cinema em casa em miúdos quando descobriram os filmes ou desde sempre acesso a filmes aos quais hoje chegamos através da Internet) de que foi através desses filmes, que nos chegavam em VHS ou directamente pela TV, que tiveram os primeiros contactos com o cinema. E, sem o qual, não teriam esta grande paixão que hoje os acompanha diariamente. E, por isso, deveriam ser igualmente respeitados como um exemplo fidedigno, e liberto de gargalhadas, quando é apontado como bom cinema ou simplesmente cinema. Em vez de tantas vezes serem apontados como filmes menores, pois, por experiência, não acredito que haja alguém que não goste de ver alguns entre as várias "obras-primas" com nomes e realizadores difíceis de pronunciar. Isso incomoda-me de certa forma, devido à hipocrisia implícita, naqueles que subitamente começaram a catalogar e procurar o cinema mais insólito, não por gostarem, mas por "ficar bem". Algo que sou completamente contra, pois gosto de todo o tipo de filmes. Há sempre algo a apreender, algo que nos é acrescentado: uma música, uma ideia, uma memória, um actor, etc. Nunca ficamos a perder. Acho que, tal como numa paixão não se vêem defeitos, também no cinema há um bocado essa desculpa quando vemos um filme. Claro, que não é exactamente assim sempre, caso contrário não teria este espaço de crítica e análise de cinema. Porém, acho que nos podemos agarrar um bocadinho a essa desculpa quando sabemos que gostamos de um certo filme e nem conseguimos explicar o porquê. Agora, existe a moda de lhes chamar "guilty pleasures", mas serão eles assim tão culpados, uma vez que já os confessamos ao mundo e dá-mos orgulhosamente um título? Pensem nisso. Pensem naquilo que vos impede de dizer: Eu vi, eu gosto deste filme. Pensem se é apenas pelo facto das "pressões" causadas pelo mundo das "intelectualidades", que nunca serão críticos ou realizadores, e que insiste em desprezar estas obras que nos deram a conhecer o nosso primeiro "cinema". Mas lembrem-se sobretudo que qualquer tipo de cinema, mais do que uma arte, é um meio de massas, criado para entreter, criado para nos fazer sonhar e esquecer que estamos onde realmente estamos - seja numa sala de cinema, quarto ou mesmo no mundo real.
Eu nunca percebi bem esta coisa dos "intelectuais gostarem de um certo tipo de cinema".
ResponderEliminarEu provavelmente sou uma dessas pessoas que estás a falar, mas será que por ver um certo tipo de filmes sou intelectual? Eu tenho apenas o 12º ano, nem sequer tentei entrar no ensino superior, e nunca tive grandes notas.
A questão é que cada qual vê os filmes que quiser, e ninguém é obrigado a gostar de nada. Quem não concordar com uma pessoa que acha que é intelectual, simplesmente não a lê e não liga à sua opinião.
Kiss.
Eu nunca percebi bem esta coisa dos "intelectuais gostarem de um certo tipo de cinema".
ResponderEliminarEu provavelmente sou uma dessas pessoas que estás a falar, mas será que por ver um certo tipo de filmes sou intelectual? Eu tenho apenas o 12º ano, nem sequer tentei entrar no ensino superior, e nunca tive grandes notas.
A questão é que cada qual vê os filmes que quiser, e ninguém é obrigado a gostar de nada. Quem não concordar com uma pessoa que acha que é intelectual, simplesmente não a lê e não liga à sua opinião.
Kiss.
Eu nunca percebi bem esta coisa dos "intelectuais gostarem de um certo tipo de cinema".
ResponderEliminarEu provavelmente sou uma dessas pessoas que estás a falar, mas será que por ver um certo tipo de filmes sou intelectual? Eu tenho apenas o 12º ano, nem sequer tentei entrar no ensino superior, e nunca tive grandes notas.
A questão é que cada qual vê os filmes que quiser, e ninguém é obrigado a gostar de nada. Quem não concordar com uma pessoa que acha que é intelectual, simplesmente não a lê e não liga à sua opinião.
Kiss.
Quando me refiro a "intelectualoides/intelectualidades" refiro-me aquelas personagens que afirmam que para eles é apenas cinema aquele cinema extremamente erudito, como se não vissem cinema mais comercial ou como se este fosse sinónimo de mau cinema apenas por ser acessivel a todos. Ou como se nas suas discussões o cinema mais mainstream não se enquadra-se por ser, aos seus olhos, menor...é mais por aí que me prendo no meu texto, porque para mim, cinéfila declarada, gosto de todos os tipos de cinema sem descriminação.E não é por ver filmes de x tipo que deixarei de ver o de Y...E de qualquer das formas é um texto explicitamente de opinião, tal como o teu comentário, não pretende se dirigir a ninguém em especial. Apenas ao facto de as pessoas que descriminam determinados tipos de cinema e defendem apenas um dado tipo parecerem se ter esquecido que foi com aquele cinema que aprenderam a gostar de cinema...A mim isso causa-me confusão daí o texto. Do mesmo modo que incomoda a pessoal ver algumas coisas no Y ou outros lugares. Mas concordo contigo nesta frase: "A questão é que cada qual vê os filmes que quiser, e ninguém é obrigado a gostar de nada. Quem não concordar com uma pessoa que acha que é intelectual, simplesmente não a lê e não liga à sua opinião." - aliás de um certo modo, espero que tenhas lido o texto na integral, aponto isto também. Obrigada pelo teu comentário, mesmo que ache que não tenhas percebido o intuito do meu texto.
ResponderEliminaru pessoalmente agora se calhar entro na categoria do "intelectual", mas é porque às tantas, já estamos fartos do cinema pipoca da SIC fim de semana à tarde, e queremos ver os primeiros filmes, as obras que imortalizaram cineastas e actores e os grandes clássicos. E acho que não tem nada de errado lol
ResponderEliminarE também é verdade que às vezes vemos um ou outro desses filmes intelectuais e não gostamos assim tanto, assim como é verdade que de vez em quando gostamos de amochar e ver uma comédia ou um filme de acção. Vai depender dos filmes em si ou do estado de espiríto.
E quando dizes que os "intelectuais" não se lembram que foi através dos blockbusters que entraram neste mundo, eu, na minha perspectiva, discordo. Ainda me lembro bem de um ou outro filme que vi mais novo e que me deliciaram (os 007 do Brosnan, por exemplo...), mas a questão é que à medida que envelhecemos, os gostos mudam, e é provável até, que perante outras outras que vamos conhecendo, aquele filme já não seja assim tão bom e vamos alterando os ratings dos filmes, iterativamente e comparativamente
Mas uma coisa que acontece muito mais, (e os números são astronómicos) e que já foi referida acima nos comentários, é o contrário. A quantidade de pessoas que só vê blockbusters e ignora o cinema antigo é impressionante e irritante. 90% dos meus amigos e colegas recusam-se a ver qualquer filme anterior a 1990, chamam-lhes "velhos", "antigos", "lentos", "a preto e branco" lol
Portanto acho muito mais perigoso aqueles que só querem ver blockbusters, tal burro com palas, do que aqueles que já viram esse tipo de filme, e de vez em quando o revisitam, mas que agora foram "conhecer o mundo".
Eu pessoalmente, não tenho problemas nenhuns em dizer que adoro Casablanca, Citizen Kane e Ben-Hur, e que em termos de acção, Taken, The Transporter são bons e que vejo sempre que possível, um James Bond e em termos de séries, adovava 24 e Chuck (porque já acabaram, senão continuava a ver - agora vejo How I Met Your Mother, Big Bang Theory e 30 Rock).
Concordo plenamente com o texto.
ResponderEliminarPessoalmente, acho extremamente ridículo o que a humanidade faz a si própria, como indivíduos, para se sentir especial. Infelizmente, a arte não foge à regra. Catalogasse tudo para haver separações, neste caso, para haver uma diferença entre o intelectual e o resto do mundo. O cinema não deveria criar separações, já basta nos separarmos por raças, sexos, continentes, países, cidades, bairros, casas e, dentro destas casas, em quartos. O cinema gera diferentes opiniões, mas não deveria gerar separações discriminatórias. Isto acontece porque existe aquela necessidade de nos sentirmos valorizados em algo e porque também existe aquele amor, natural, ao umbigo. Num mundo menos egoísta o cinema era visto como algo prazeroso sem definição de intelectualismos. É interessante como estes "intelectuais", hoje em dia, respeitam Charles Chaplin e adoram Chaplin, mas não se recordam ou não querem falar no assunto, que Chaplin fazia cinema para todo o mundo. O que hoje em dia se chama "cinema comercial". Será que apontariam o dedo a Chaplin como muitos fizeram naquela altura? É assim a historia da humanidade. Neste caso, abraça-se algo para se separar do restante, acabando por se criar elites. Quando aparece algum outsider (como já aconteceu comigo) é observado com desconfiança e preconceito.
Felizmente, tenho o prazer de amar a 7ª arte e saber que não consigo viver sem ela. Tenho sempre um enorme respeito pelo cinema que me despertou este amor.
Já agora, isto que catalogaram por "guilty pleasure" faz-me alguma confusão. Será que existe alguma culpa em sentir-se prazer? Esta expressão até acaba por parecer que foi criada por alguma ceita religiosa para limitar o prazer humano.
Acabo este longo comentário agradecendo este texto, muito esclarecedor, que me deliciou e me levou a devorar até à ultima palavra. Continua!
É sempre pertinente falar sobre este assunto, até porque o Cinema é uma arte complexa e de difícil "gestão", digamos. Será sempre muito complicado tentar unir dois lados de uma mesma moeda com o mesmo propósito. Isto de agradar tanto a massas como a elites é terrivelmente difícil assim como frustante. Temos na história mundial vários exemplos...o Cinema será hoje, oportunamente, o maior de todos, aquele que abrange talvez demasiado terreno e que se situa entre dois pólos que inerentemente se retraem um do outro - a arte e o entretenimento.
ResponderEliminarÉ inevitável depois esse confronto daqueles que vêm o Cinema como entretenimento, como escape à vida, e daqueles que o vêm como Arte, como factor que influencia, dinamiza e desenvolve o ser-humano, nunca o estupidificando e por isso nunca o retraindo no seu constante progresso para a suprema inteligência.
Eu diria que se começamos por esse estado mais básico (o do deslumbramento/entretenimento) às tantas e se formos curiosos evoluímos e vamos à procura do que este instrumento (o Cinema) nos pode ensinar, nos pode cultivar para sermos melhores intelectualmente e socialmente. É claro que nem toda a gente terá tempo e disponibilidade para tal, a vida é muita curta, daí que se chegarmos a tal ponto no Cinema devemos ter a humildade de perceber quem não chegou, ou porque não quis ou porque simplesmente não podemos nos dedicar a tudo. Talvez seria mais proveitoso (ao contrário do que muitos fazem) tentar influenciar e abrir os olhos aos outros, àqueles que não tiveram a sorte (curiosidade) de explorar esta arte. Isto sempre de forma estimulante e correcta como é óbvio.
Por outro lado, e para quem se dedica a estas lides regularmente, acho que nunca se deve renunciar a qualquer tipo de Cinema (quanto muito reduzir o seu impacto), porque de vez em quando haverá sempre filmes que rompem categorizações, atingindo massas e elites de tal forma que se tornam objectos muito referenciados, daí o seu valor e a estima que lhe deve ser atribuída, na minha opinião.
É sempre um excelente debate este, e só para terminar digo apenas que não concordo muito quando se diz que se não nos identificamos com determinada opinião simplesmente devemos não a ler ou não ligar a semelhante sujeito. Com as devidas excepções, acho que qualquer um de nós (especialmente os que se consideram cinéfilos) deve olhar para essas opiniões de forma crítica e tentar perceber porque não se identifica...porventura chegará a um ponto de retorno em que perceberá as razões de tal discordância, inclusive poderá no final mudar de opinião (e não será este o maior prazer desta arte - a de sentirmos que evoluímos e que aprendemos qualquer coisa, aprendemos muitas vezes a "olhar" melhor).
Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo