«A Última Vez que Vi Macau» chega ao Festival de Locarno
A longa-metragem portuguesa «A Última Vez que Vi Macau», realizada por João Pedro Rodrigues («Morrer como um Homem») e João Rui Guerra da Mata («Alvorada Vermelha»), é este ano um dos títulos presentes no cartaz do Festival de Locarno. Esta passará, segunda-feira (hoje), em estreia mundial, numa das telas do aclamado festival de cinema suíço, e está a competir na secção principal para o Leopardo de Ouro.
«A Última Vez que Vi Macau» é uma longa-metragem que tem uma base biográfica, por ter começado a ganhar contornos graças às memórias de infância, do tempo em que viveu em Macau, de João Rui Guerra da Mata. É descrito como um filme de um amigo (JRGM) a contar uma história a um amigo (João Pedro Rodrigues).
A determinação de rodar em Macau surge depois dos dois portugueses assinarem juntos a curta-metragem «China China». Embora a dupla de realizadores trabalhe em conjunto há vários anos, com este último filme enveredaram por um novo ciclo, longe da ficção tradicional.
«Eu sempre tive muito medo de fazer a mesma coisa e de me tornar um prisioneiro do meu próprio estilo, de ficar muito confortável com ele», explica João Pedro Rodrigues, acrescentando ainda que «o mais importante em “A Última Vez que Vi Macau” é que foi primeiro concebido como um documentário», o que lhe possibilitou «retornar ao modo como fazia filmes no início de carreira», sem um horário de produção tão fixo.
A longa apenas passou para a ficção depois da segunda visita dos dois realizadores a Macau, distanciando-se da primeira versão documental. Nessa altura, perceberam que não era preciso mais um documentário sobre aquele local, mas sim algo novo. O filme é uma espécie de metamorfose do género documental em ficcional, que orgulhosamente a equipa engendrou. Fugindo à «atmosfera hollywoodesca e aproximando-se da realidade», como defende a dupla.
Mesmo não gostando da ideia, e tentando contraria-la com um conceito algo infantil, João Pedro Rodrigues confessa que a obra em competição para o Leopardo de Ouro é «uma espécie de filme conceptual». Tal como num filme noir, a voz dos realizadores contextualiza as imagens como se de uma cena de crime se tratasse, embora os elementos noir não estejam fisicamente lá. Este paralelismo entre sons e imagem confere à pelicula uma maior complexidade, concretizando o propósito dos realizadores de fazer algo pioneiro.
O filme da dupla de realizadores conta a história de uma personagem masculina que, trinta anos mais tarde, retorna a Macau, onde não ia desde criança. Tudo acontece após receber um e-mail, em Lisboa, de Candy, uma amiga da não tinha notícias há anos. Na mensagem, a mesma conta que mais uma vez se envolveu com os homens errados e por isso lhe pede para ir para Macau, onde “coisas estranhas e assustadoras” têm acontecido.
A dimensão da equipa, que possibilitou a existência do filme, foi reduzida. Segundo o realizador de «Morrer como Um Homem», no local de filmagens apenas estiveram presentes cerca de cinco pessoas: os dois realizadores, um assistente de realização (que era também gerente de produção e guionista), uma pessoa para o som e, por vezes, um tradutor. Todas as cenas foram filmadas por João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, excetuando a primeira sequência, onde aparece Candy e os tigres. Esta foi rodada em Portugal por Rui Poças, diretor de fotografia da dupla há anos.
Para além desta longa-metragem, teremos em competição no festival suíço mais dois filmes portugueses. Na secção «Parti diDomani» estão integrados em competição internacional as curtas-metragens «O que Arde Cura», de João Rui Guerra da Mata, que estreou no festival IndieLisboa, e «Zwazo», de Gabriel Abrantes, cuja primeira mostra foi no Curtas de Vila de Conde. Em Locarno, estas foram/serão exibidas respetivamente no domingo e na terça-feira.
Artigo originalmente escrito para o portal C7nema.
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