CRÍTICA: «Carol» (2015), de Todd Haynes
Do mesmo realizador de «Far from Heaven» e «I'm Not There», chega-nos «Carol», que contrariando os outros dois filmes mencionados tem muito pouco de inspirador ou interessante. Temos no filme de Todd Haynes uma história banal onde duas pessoas, com a única particularidade mais distintiva de serem ambas do sexo feminino, de idades e estatutos sociais diferentes, se conhecem por acaso e desenvolvem uma repentina relação. Esperava-se desta descrição bastante química, carnalidade e/ou pelo menos emoção, mas não «Carol» apresenta-nos uma relação morta desde o primeiro segundo, onde a paixão entre as personagens não se faz sentir no outro lado do ecrã, sem que a descrição exigida pelo tempo (anos 50 em que um escândalo íntimo era algo muito grave para a reputação) em que passa o filme seja a justificação para tal...Prova disso é o salto entre um "Olá, prazer" para um "Anda a minha casa antes do dia de Natal ajudar a fazer rabanadas", que torna fugaz as ações das personagens, diminuindo também a sua multidimensionalidade e a possibilidade de assistirmos ao desenvolver de uma relação entre pessoas do mesmo sexo - algo que pelo que percebemos é o tema central do filme. Supostamente a ideia, pelo menos segundo a sinopse, seria mostrar o desenvolvimento de uma relação íntima de uma aspirante a fotógrafa com uma mulher mais velha, contudo pelas razões já mencionadas o filme faz sentir que há muito pouco de intimo nesta súbita relação que começa do dia para a noite e também assim acaba...Também podíamos falar que «Carol» nos faz pensar na questão de busca de identidade, mas não será isso muito limitador e primário neste contexto? Ou ainda a ideia de que a personagem desempenhada por Rooney, Theresse, apenas se torna uma "mulher" (com opinião crítica, personalidade, senso de moda, determinada, bem sucedida...) quando define a sua sexualidade ou pelo menos tem a sua primeira relação sexual? Sentimos algo entre o 8 e o 80, por tentar contar a história por vezes sem os filtros novelescos de Hollywood e outras vezes por mergulhar nessa romantização pouco natural, com deixas cliché que minimizam o amor entre o mesmo sexo, sem nunca encontrar um equilíbrio.
Para além de Cate Blanchett, que brilha como sempre mesmo com um papel mais plano que o natural mas com uma presença inata indubitável,Rooney Mara aparece apagada e alienada com um visual forçado àAudrey Hepburn cujo número de falas está entre as 5 e 10 linhas das duas horas de filme! De resto, todas as personagens que aparecem e desaparecem em pouco tempo têm um papel muito pouco importante ao longo do filme, quase como se fossem desnecessárias e pudessem ser desempenhadas por extras.
Os pontos mais positivos do filme são, sem sombra de dúvida, o guarda-roupa, a cena final em que Carol diz a Harold durante o processo de divórcio "We are not ugly people, Harge!" por finalmente haver alguma intensidade e pseudoclimax no filme e a forma como é demonstrada a "american way" através da estética, optando por fidedignos e belos cenários.
Em «Mildred Pierce» e «Far from Heaven» temos Haynes a colocar as mulheres num papel superior de quase heroínas, mulher vs sociedade, em momentos que a sociedade achava atos hoje comuns algo de chocante e negativo ao ponto de as penitenciar de algum modo, em «Carol» percebemos a intenção de fazer o mesmo todavia isso não acontece; existe algo de pouco empatizante e distante nas duas personagens e na sua relação, não por uma questão de estigma, mas de ausência de sentimentos (que pelo menos pareçam fortes e autênticos para parecerem minimamente reais)...Com isto quero dizer que não sentirmos estar a assistir a um romance que levasse uma mulher madura a perder a sua filha; há uma certa crueza e ausência de intensidade que no máximo nos faz pensar que o fez por si mesma, apenas, minimizando o teor do drama.
Há também neste filme uma aproximação clara a «My Fair Lady» com a apresentação de uma mulher madura, experiente, requintada e mãe de família e de uma jovem simplória e vislumbrada pela curiosidade de exploração de um "novo mundo" (sentimental, sexual e societal) sem saber dizer nunca "Não" a nada!
«Carol» bem poderia ser como outros filmes do realizador uma bela película a ficar na memória, mas é apenas mais uma bobine para o amontoado de filmes vácuos que adornam a atualidade da indústria americana.
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