Já não me lembro...

14:32:00 Unknown 11 Comments

Já não me lembro do tempo em que esperava pela noitinha de um dia ou de um fim-de-semana para ver um bom filme. Aliás, um bom filme na televisão portuguesa. Hoje em dia, existe de tudo - mil reallity shows, mil novelas, mil séries repetidas, mil programas de apanhados e reposições de programas antigos -, tudo menos bons filmes. Ou mesmo filmes. O que é feito dos filmes que já passaram em tempos nas tv's portuguesas? Estão na arrecadação dos canais de televisão a ganhar humidade e pó? Foram trocados por cassetes de tele-vendas ou de reallity shows?
Tenho saudades de esperar por ver um bom filme. De sentir que é um bom filme, mesmo desconhecendo o título e realizador. Mesmo sem saber o ano e cast. Tenho saudades de ver algo 'novo' já antigo, se é que me percebem.
Na RTP2, de quando a quando, ainda apanhava umas 'pérolas', actualmente nem isso. Acabaram-se com estas iniciativas e espaços que nos davam a oportunidade de vislumbrar uma película não comercial. Mas, mesmo que comercial, já sinto a falta. Não há absolutamente nada de nada antes da uma da manhã à semana relacionado com filmes. E mesmo quando o há, são fracos e desconhecidas estreias na TVI. Quase que apostaria na Asylum com produtora destas 'obras-primas'. Onde o porno, non sense e pseudo terror se cruzam. Mas temo que seja ainda pior que esta produtora.
Uma vez, estava a assistir a um filme, que durou umas duas horas e tal, no fim apareceu no ecrã: 'to be continued'. Fiquei surpresa, mas lá esperei pelo dia seguinte. No dia seguinte, nada de filme. No depois desse, nada também. No fim dessa semana, nada de nada. Puff...Magia. A outra parte do filme tinha sumido. Estaria estragada? Teria o tal canal achado que ninguém estaria a assistir? Ou que a minoria nunca iria reparar ou passar mais uma noite acordada até às tantas para o assistir e o melhor era passar outro 'quando o telefone toca' que renderia mais audiências?! Enfim. Não vos sei responder com precisão. A isto junto outro episódio que me deixou incrédula. Estava eu a ver um filme na tv, o qual até tenho em DVD e vi umas mil vezes, quando reparo em algumas cenas que foram saltadas. Bem, dito assim parece ainda mais confuso e estranho. Basicamente, o canal resolveu encurtar o filme e saltar uns minutos do mesmo depois do intervalo. Para quem nunca viu o filme, é algo que nunca daria conta, para quem viu, é um desatino de: Será que fiz zapping e perdi a cena, será noutro filme, terei eu adormecido sem notar? É um desrespeito pelo público enorme, só consigo dizer isto. Não sei o porquê destas acções. Sei, no entanto, que as televisões esqueceram-se do público cinéfilo, do que gosta de sentir que existem alternativas às 1123522136773626747 novelas diárias, do público que tem a esperança de chegar a casa, depois de um dia de trabalho, estudo ou menos bom e poder sonhar um pouco sem sair de casa ou ligar o leitor de DVD.

11 comentários:

  1. Não podia concordar mais contigo Andreia. Imagina eu, do alto dos meus 36 anos.
    Ainda me lembro disso tudo, mas com o aparecimento da Sic e da TVI as coisas pioraram muito, mas muito :S

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  2. É realmente escandaloso encurtarem os filmes. Para além de ser um desrepeito para os telespectadores, é também para os produtores do filme, que estabeleceram que a duração do mesmo fosse.
    Não vejo filmes na televisão, mas sim, lembro-me perfeitamente quando ainda passavam (algum) cinema de qualidade. Aliás, não vejo televisão - só muito raramente.
    Não abro guerra com os canais de televisão (e recordemos o caso da RTP2, onde seguem debates e petição sobre a organização das projecções dos filmes), já desisti da luta há muito tempo. A TV tem uma forma muito popular e empresarial de se gerir, buscando audiência a todo o custo. E vão ao grupo maior que têm, que normalmente não quer saber de cinema.

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  3. Chico (MOTM): Já falamos disto indirectamente, eu mesmo mais nova sinto e ressinto. E já tive a oportunidade de falar desta crise do 'filme'. O fim da vhs levou os videoclubs, não trouxe mais do que mais cinema em casa, mas afastou-nos um pouco do automatismo do cinema chegar ao público com um simples clic...A é apenas um negócio, os estatutos e tudo mais dos media...são esquecidos, o interesse público e o direito à cultura também, infelizmente :/

    Flávio: É verdade. Fiquei bastante revoltada quando percebi que cortavam os filmes. Relativamente a amigos, é verdade, muitos não querem saber...mas felizmente ainda tenho uns quantos que partilham da minha opinião e percebem este problema cada vez mais gritante...

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  4. Ora aqui está um artigo muito pertinente, pelo qual nutro total afinidade com o texto.

    Eu continuo a ser um apreciador televisivo pois há sempre títulos que nos escapam e que ao serem exibidos se pode dar uma apreciação sem compromisso (se não prestar, usa-se o comando). Agora, é sim verdade e muito pertinente este assunto levantado pela Andreia porque os tempos mudaram imenso.

    Se antes, quando era pequenino e prestava atenção ao que dava na TV (foi no inicio dos anos 80), que a caixa tv era a única fonte. O surgimento do VHS deu outro impacto ao caso mas não o modificou muito. Eu penso sim, que o panorama mudou radicalmente com a evolução dos canais de cabo, a internet com muita largura de banda, os videoclubes on-line das operadoras, os DVDs de ofertas, etc.

    Digamos que os filmes passam a ser um activo de pouco valor nos canais abertos, por ser um investimento ainda por cima já visto nos canais dedicados. Penso eu de que...

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  5. Eu aproveito também para dizer que acho muito mal quando eles passam os créditos em SUPER-FASTFORWAD. Acho que é uma falta de respeito para os intervenientese para todo o Staff do filme. Mais grave do que copiar um filme!!

    Eu sou da geração do Chico, e também me lembro bem de existirem só os dois primeiros canais. Belos tempos, era esperar pela Lotação Esgotada à Quarta e pela Sessão da Meia Noite ao Sabado!!! :)

    Actualmente vejo muito pouca TV, e muito poucos filmes na TV. Talvez 1 em cada dez filmes que veja seja na TV.

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  6. É realmente impressionante como o acervo de cinema da RTP2 está simplesmente a ganhar pó! Qual é a ideia de um canal com audiências não tirar do fundo da gaveta os filmes clássicos e mostra-los a um nicho de cinéfilos, que provavelmente suplantará em número os espectadores habituais.
    Quando eles o fazem simplesmente não o publicitam. Há algum tempo, não sei quanto, o Jorge Mourinha criticava isso mesmo no Público. Foi nessa crítica que li que, ao que parece, estava a decorrer uma maratona de grandes filmes na RTP2. Já não fui a tempo.
    Os outros canais também têm uma gestão que lhes é mais danosa que proveitosa. Eles esquecem-se que ao basearem o grosso da programação num ciclo de entretenimento fácil, que se repete e repete, estão a alienar os jovens no presente, mas também no futuro.
    A televisão como a conhecemos está em crise e, se de vez em quando não aperecer um filmezinho ali, e um documentário acolá, juro que um dia me vingo, e quando encontrar o Francisco Pinto Balsemão ou o Joaquim Pina Moura de chapéu na mão a pedir esmola, lhes vou dar uma cassete dos batanetes e dos malucos do riso, para lhes matar a fome.

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  7. ArmPaulo: Obrigada pelas tuas palavras, mesmo sendo de uma geração mais jovem, também partilho dessa 'indignação'. Digamos que a frustração de num fds se querer ver algo sem ter de usar as tic que temos lá em casa, é algo que já me incomoda e deve incomodar a muitos a alguns anos, infelizmente, mudam-se mesmo os tempos e também as verdades. O dito 'interesse público' é algo que já foi esquecido há bastante tempo pelos media, o consumo e lucro sempre em primeiro lugar nesta sociedade massificada.

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  8. Nuno: Como eu te percebo. Eu já há uns 3 ou 4 anos que mal lhe ponho a vista em cima a não ser à noite, quando não há mesmo o que fazer. Ser obrigado a ver telenovelas, reallity shows ocos e mil genéricos do CSI não é propriamente o sonho de nenhum cinéfilo.

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  9. Luís: Nem mais, boas palavras as tuas!

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  10. Se agora que têm bons filmes a ganhar pó só passam blockbusters, daqui a uns anos não vai haver alternativa nenhuma porque nem são comprados para Portugal.

    Falta um movimento independente de distribuição de filmes, que fuja aos interesses comerciais. Havendo alguém com filmes que não se pagam na primeira semana de bilheteira e precisam de vários anos, as televisões seriam constantemente lembradas desses filmes e teriam boas oportunidades de negócio.

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  11. Concordo em absoluto com as tuas palavras!
    Para além da fraca qualidade do que passam, com algumas excepções claro mas que são cada vez mais raras, insistem escandalosamente em repetir e repetir...é um verdadeiro desconsolo! Isto não falando no desrespeito para com os espectadores, seja pelas horas tardias das exibições, pelas intermináveis intervalos ou por esses cortes, incluindo os créditos..
    Infelizmente, cada vez mais as televisões apostam no populismo e desinformação ao invés da cultura e qualidade!

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May the force be with you!