Tela Clássica -O buraco
Duas horas e meia de filme-prisão. Tal como Rififi, de Jules Dassin, utiliza longos shots, com poucos diálogos, para dramatizar a simples história da tentativa de fuga de um grupo de prisioneiros, de uma prisão. "Le Trou" é filmado a preto e branco, e não tem qualquer banda-sonora, até ao fim.
O filme começa com um dos fugitivos, agora fora dos muros da prisão de Santé, introduzindo a história. Mas logo voltamos para a prisão de Paris em 1947. Somos então apresentados a um jovem chamado Claude Gaspard. Ele é colocado numa cela muito pequena, com quatro outros prisioneiros. Lá conhece o encantador e sempre sorrindente Volsselin, apelidado de Monsenhor. Também habita a cela o preso Roland Darbant, o homem que nos introduz o filme, e ainda Geo Cassid e Manu Borelli. Estes homens trabalham nas suas celas a montar caixas de papelão. Gaspard vai-se apercebendo que os homens são todos amigos intímos, o que não percebe é que os quatro homens estão a trabalhar numa fuga.
O filme não utiliza os habituais clichés do filme de prisão. Não há guardas prisionais sádicos e todos os prisioneiros parecem tipos regulares. O realizador Jacques Becker, que morreu logo depois do filme ter sido concluído, usou actores não profissionais, para dar um maior realismo ao filme. A história é vagamente baseada na experiência de José Giovanni (o argumentista desta obra), que se tinha envolvido numa real tentativa de fuga da prisão de Santé. Um dos companheiros de cela envolvidos na fuga, na vida real, Jean Keraudy, tem o papel principal neste filme, o tal narrador.
Becker estava doente durante a produção e a montagem e morreu quando a mistura de som ainda estava inacabada. Le Trou foi concluído de acordo com os desejos do cineasta, mas após a sua estreia inicial numa versão de 140 minutos, o produtor Serge Silberman reduziu-a em 24 minutos para aumentar as suas possibilidades de êxito. Na altura da sua estreia foi saudado (principalmente pelos futuros realizadores da Nouvelle Vague, como François Truffaut ou Godard) como uma obra-prima. Hoje, continua a ser um filme atraente, soberbamente dirigido e fotografado com uma notável atenção aos detalhes. E por isso, possivelmente o maior de todos os filmes-prisão.
Pelo convidado : Francisco Rocha.
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