Crítica:"Jeff, Who Lives at Home"

19:25:00 Unknown 0 Comments



É difícil ver uma comédia dramática indie que não goste. Não sei bem explicar a razão, mas talvez seja pela maioria delas assentar em temas tão corriqueiros que nos fazem sentir compreendidos por alguém; mais não seja por quem escreveu o filme. O poder de reflexão deste tipo de películas consegue prender o pública e fazê-lo sentir familiarizado com o que visiona. É quase como uma ida ao psicólogo, só que neste caso é grátis e não precisamos de dizer grande coisa, apenas ver e sentir o que vislumbramos num ecrã.

"Jeff, Who Lives at Home" é mais um bom exemplo do que falei nas linhas acima. É um exercício de introspecção dividido em frames, que no seu conjunto contam uma história com um propósito moral: a ideia de que muitos de nós, mais dados ao pensar, temos constantemente de achar que a maioria das coisas acontece por uma razão, de que não estamos "aqui" só porque sim, de que há uma "missão", um objectivo reservado para a nossa existência. E Jeff (Jason Segel) é a personagem que nos mostra esta visão, visão essa que por muito esperançosa que seja acaba por ser uma espécie de entrave ao seu crescimento, ao seguir um rumo, ao ter "uma vida". O que leva também a um egocentrismo involuntário, pois, muitas vezes, o nosso papel não é esperar por algo que mude a nossa vida, mas, sim, ajudar os outros, o que de algum modo nos dá a conhecer um pouco mais de nós. Nos dá uma resposta para a nossa própria existência. Mas que não deixa de ter um lado também bom, se equilibrado, - o de ter o poder de acreditar e correr atrás do nosso destino. O engolir o orgulho e ver as coisas de um modo mais simplista, deixando de parte todo o sofrimento e complexidade a que nos sujeitamos só por medo, é também uma mensagem passada pela obra dos realizadores Jay Duplass e Mark Duplass. Às vezes, por muito que nos custe e pareça que não vá resultar, basta fazer a coisa certa, pois é a forma mais eficaz de solucionar um problema e reavermos a pessoa que amamos. É isto que o filme nos mostra. Perceber como a vida pode ser simples se tivermos coragem para fazer a coisa certa, antes que seja tarde demais.


Todavia, a película erra um pouco ao se dividir na vida de várias personagens, todas parentes, por acabar por não conseguir desenvolver o lado mais profundo de cada uma delas. O que leva a que apenas uma das histórias (que considero a menos interessante) tenha um desenvolvimento mais profundo, tirando um pouco o foco às restantes. No entanto, não erra por completo, pois no fim percebemos que todas se ligam, que há um propósito, mesmo que o caminho para chegar até lá não tenha sido muito bem desenhado. Sem grandes exageros ou deambulações, "Jeff, Who Lives at Home" acaba por seguir uma linha simples, mesmo que inclua três personagens centrais: Jeff, o seu irmão Pat (Ed Helms ) e a mãe de ambos, Sharon (Susan Sarandon).


A câmara pouco instável e típica do género indie (ou neoindie, que tem surgido nos últimos anos e tem caído na moda) parece também um pouco forçada. Sou bastante fã do género, como nunca escondi, mas neste filme percebemos que existe uma certa insistência, que desconcentra um pouco o espectador, em dar um toque um pouco próximo do documental da observação mais realista junto das personagens. 

Todavia, existem momentos bastante belos nas escolhas das imagens, algo mais fiel e puro ao que gostamos de sentir e ver - o que reforça o valor do filme. Por tudo isto, para aqueles que são fãs do género e gostaram de filmes como "Juno", "It´s a Kind of a Funny Story", "Our Idiot Brother" ou ainda "Win Win" recomendo vivamente a visualização deste filme.

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