Entrevista ao realizador Leonardo António

16:46:00 Unknown 0 Comments

Com apenas uma curta-metragem a anteceder o seu primeiro e recente filme, Leonardo António estreia-se no cinema nacional com a longa intitulada "O Frágil Som do Meu Motor". No plano internacional, o "Motor" chegou ao estatuto de 'hot', a nível nacional ainda não se sabe bem até onde chegará, mas, estima-se, que o "O Frágil Som do Meu Motor" consiga chegar bem alto e se faça ouvir junto dos portugueses.

Como surgiu a ideia para o filme? O que o inspirou na sua 'confecção'? 
Comecei a ver cinema desde muito cedo, meados dos anos 80, e consegui apanhar aquilo que seria o último fôlego de Hollywood nos anos 90. Desde 2000 que tenho reparado numa repetição formular nos policiais e thrillers, logo tentei inovar, misturando dois géneros, para dois públicos diferentes: ‘o público de Thrillers’ e ‘o público do Drama’. A combinação foi não só para juntar ambos os públicos num só filme - risco que só o futuro me irá dizer se foi ou não bem pensado -, mas também para trazer algo de novo ao género policial. Sinto que pouco ou nada há a dizer da fórmula hollywoodesca, a não ser que se caracterize melhor o background dos intervenientes a partir de um ponto de vista dramático. 
De que trata o filme? 
Da solidão. Do que nos faz e do que é capaz de nos fazer dentro de um universo em que os nossos pais internos fazem muita falta. Obviamente que isto é só um mote para a narrativa. Essa sim retrata a história de uma enfermeira que fez escolhas erradas na sua vida e que só se apercebeu disso quando é puxada para uma teia de paixão, sedução, repleta de dúvida e terror. O filme é um policial que agarrou fórmulas clássicas de suspense e características, como mencionei a priori, de um filme dramático em que existe claramente uma tensão de paixão proibida entre duas personagens num crescendo emocional patente do princípio ao fim. 

Por quê a escolha deste título tão sugestivo? 
Por duas razões. A primeira, porque os títulos dos filmes, hoje em dia, estão cada vez mais usados e estão precisamente pouco sugestivos. Títulos curtos como "vingança", "conspiração", "fuga", o assalto", etc... São vagos, descaracterizados e confundíveis com outros filmes. Desta forma, trará não só um novo título como uma forma de deixar o espectador em expectativa mesmo antes de se sentarem e começarem a ver o filme. A segunda, para dar um toque mais poético a um filme que se agarra à própria poesia para contar uma história. O narrador é um bebé dentro do ventre. A maneira de interagir com o espectador é obviamente através da metáfora poética, pois os bebés não têm pensamentos complexos como os que são retratados no filme. Logo, o título "embala" o espectador numa viagem emocional do narrador. 
De acordo com o imdb, este é um dos seus primeiros trabalhos, como é ver este desde logo reconhecido, principalmente a nível internacional (o The Guardian classificou-o como 'hot', por exemplo)? 
É uma experiência interessante. Não estava à espera de ser mencionado por jornais internacionais, muito menos pelo The Guardian. Foi um artigo curioso em que definiu três filmes Hot e três filmes Not-so-hot. O "Frágil" foi um dos hot. Valeu pela curiosidade. No entanto, fizemos este filme não para ser reconhecidos internacionalmente, mas, sim, nacionalmente. Espero que seja do agrado dos espectadores pois precisamos urgentemente de dar um "jump-start" ao cinema português, esse sim tem um motor bastante frágil e parece que se está a ir abaixo. 

Já tem projectos futuros? Perante tantas dificuldades a nível nacional no que toca ao cinema, pretende continuar a fazer cinema em português ou tem em vista alargar horizontes para o plano internacional? 
Temos variadíssimos projectos. Uns em português, outros nada portugueses. A Recycled Films está a apostar em várias frentes com vários filmes em preparação. Aquele que gritar alto primeiro é o próximo. Dos vários que estão na linha da frente, não tenho favoritos. Gostava de os fazer todos. Alargar horizontes para o plano internacional é algo que espero fazer com o tempo e, naturalmente, não imediatamente. No entanto, acho que hoje em dia já é possível produzir em Portugal lá para fora. É sempre uma boa hipótese e pessoalmente não seria a primeira vez.

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