«Parks and Recreation»: Primeiro estranha-se, depois...

19:41:00 Unknown 0 Comments


Pelas mentes dos criadores Greg Daniels e Michael Schur, «Parks and Recreation» surgiu em 2009 e presenteou-nos com o género mockumentary. Para quem ainda não está familiarizado com o mesmo, o mockumentary - junção das palavras "simulado" e "documental" - é um tipo de filme ou programa de televisão, como é o caso aqui falado, em que os eventos fictícios são apresentados ao espectador em estilo documental para criar uma paródia. Para além desta série, podemos evidenciar o emprego desta abordagem em «Modern Family», «Party Down», «Death Valey», «Derek» e «The Office». Já agora, para quem não sabe, «Parks and Recreation» é de um dos criadores do «The Office» americano.Também no cinema existem alguns exemplos conhecidos, embora não tão evidentes: «Blair Witch Project», «Borat», «Zelig», «C'est Arrivé Près de Chez Vous» e «Take the Money and Run».

Mas voltemos à série de Daniels-Schur...

«Parks and Recreation» é, sem sombra de dúvida, diferente. Inicialmente parece-nos um alienígena, com o qual não sabemos muito bem comunicar. Porém, a magia acontece cerca de 3 episódios depois. Somos envolvidos numa cidade incomum do Indiana, onde a obesidade e inércia é o pão de cada dia, especialmente na autarquia que dirige a mesma e é representada por um conjunto de personagens bastante peculiares. Pawnee é essa cidade...Fictícia. Que representa tantas outras na América ou mesmo por todo o mundo. Mas, ainda mais à lupa, a série da NBC foca-se num departamento, o mesmo que dá nome ao programa, o de Parques e Recreação (Parks and Recreation).

Mais que a história, que embora tenha continuidade episódio após episódio, são as personagens que  apaixonam-nos e fazem-nos devorar temporadas inteiras! Desde a mais principal à mais secundária, todas têm o seu je ne sais quois, muitas vezes até um pouco cartonescas, contudo extremamente humanas no sentido em que ao longo das sete temporadas vão evoluindo psicologicamente de uma forma bem real. Numa certa altura, sentimos que são nossos colegas, amigos, que crescemos com eles e esperamos nunca os perder. É essa uma das muitas qualidades da série, que diverte-nos de uma forma bizarra, com um humor desmesurado, todavia tão certeiro que inveja-nos não sermos autores daquelas tiradas magnificas.

Para terem uma ideia, aqui fica uma introdução às personagens mais importantes:


Leslie Knope (Amy Poehler) é a Vice diretora do departamento e, acima de tudo, ama a sua cidade. Cresceu com vários sonhos utópicos e pouco comuns. Desde sempre quis trabalhar para o governo e almeja um dia chegar a presidente dos EUA. É extremamente otimista, competitiva e viciada em trabalho. Tem um lado bastante infantil e inicialmente até ridículo-irritante, que ao longo das temporadas vai-se esbatendo e dando origem a alguém digno e admirável; um exemplo para a sua equipa.


Ron Swanson (Nick Offerman) é a melhor personagem da série e, claro, a minha preferida! É o Chefe do departamento, incluindo de Leslie. Ron é completamente contra o governo, para sermos justos estou a empregar um eufemismo, pois na verdade ele odeia-o e acredita que é uma máquina inútil de sugar o dinheiro dos contribuintes. Mediante isto, recusa-se a fazer seja o que for para ajudar a que este esteja ativo. Para além disto, detesta interagir com os seus colegas: um mundo ideal para o Ron seria em silêncio absoluto. Adora marcenaria, comer tudo o que seja pouco saudável, não divulga nenhum dos seus dados pessoais para além do primeiro e último novo, tem um medo de morte das suas duas ex-mulheres - as Tammy's - e é dono da gargalhada mais insólita e esporádica de sempre! Embora raramente se ria, é a personagem que mais nos faz rir! Quando menos esperamos, fisicamente ou verbalmente, o Ron diverte-nos e é uma das personagens mais sinceras e humanas da série.


Ann Perkins (Rashida Jones) inicialmente apenas uma enfermeira do hospital de Pawnee, mas torna-se melhor amiga de Leslie depois de fazer queixa ao Departamento, durante uma das muitas reuniões, do buraco megalómano que encontrava-se no terreno atrás da sua casa e do acidente que o seu namorado sofreu devido ao mesmo. Este é o momento que Leslie decide construir um parque nesse espaço e começa a trama que nos irá divertir nos próximos episódios. Esta personagem passa por diversas fases e enche-nos de tristeza quando acaba por abandonar a série.


Tom Haverford (Aziz Ansari) é a personagem que tenta ser mais do que é. Extravagante e inconveniente, ele é boémio indiano que nunca consegue engatar ninguém, mas gaba-se de tudo, inclusive da sua linda mulher totalmente "out of is league", que posteriormente percebemos que foi o resultado de um negócio para [ela] obter o Green Card. Esta é uma das personagens que tem uma mudança gradual bem interessante, amadurecendo e percebendo o que é importante. Viciado em tecnologias, Tom introduz outra personagem mais secundária e incomum, mas igualmente divertida: o Jean Ralphio. Para além disto, o indiano é uma alegoria dos jovens atuais que querem alcançar a riqueza e fama a custo zero.


Andy Dwyer (Chris Pratt) é outra das personagens deliciosas desta série. Inicialmente, Andy é o tal namorado de Ann que partiu as duas pernas no acidente sofrido no buraco. É o típico homem que aos 30 anos ainda não cresceu, sendo ingénuo, de uma forma querida, mas não muito dotado de inteligência. O seu sonho é ser um rockstar, tendo por isso uma banda à qual muda o nome dia sim, dia não; atualmente chama-se Mouse Rat. Sem trabalho decente, é a preguiça em pessoa e valoriza muito pouco a Ann. Mais tarde, percebemos que o amor muda a sua postura, mesmo que pouco, pois afinal quem ama aceita-nos como somos, e é isso que irá acontecer. É caso para dizer que todos temos a nossa cara metade, e o Andy também!


April Ludgate (Aubrey Plaza) é a minha segunda personagem favorita! April é estagiária do departamento, e não tem problemas em expressar o quanto despreza pessoas. Odeia tudo e todos, menos animais. Nunca faz nada, o que é admirado pelo Ron que vê nisso uma excelente qualidade. Nas primeiras temporadas é do melhor, no entanto começa a afrouxar e a tornar-se mais banal, à medida que vai ganhando sentimentos e ficando adulta.


Donna Meagle (Retta Sirleaf) é uma das personagens que vai ganhando mais relevância nas últimas temporadas. Tem aspectos muito cómicos, mas como intervém poucas vezes acaba por ficar remetida a segundo plano. Tem um Mercedes que ama e defende, bem como outras riquezas inéditas e segredos. Ah, e é viciada no Twitter, de uma forma tão extrema que gera um episódio à volta disso.


Mark Brandanawicz (Paul Schneider) é uma das personagens mais dispensáveis da série, como verão mais adiante. É o arquitecto do departamento. Tem uma ligação muito pouco importante com a Leslie, fruto de uma noite de bebedeira de há vários anos atrás em que se envolveram. Leslie guarda isso no coração, mas Mark nem na cabeça. Supostamente, é um mulherengo, que tem uma epifania e acaba por valorizar o amor e companhia. A personagens esteve apenas por duas temporadas na série, segundo os media, saiu porque o ator queria-se dedicar à carreira no cinema, mas, cá entre nós, terá sido antes por não ser das mais populares e chegar a ser indiferente na história.


Jerry/Larry/Terry/Garry Gergich (Jim O'Heir) é o bode expiatório de todos os percalços do mundo. Apesar de muitos serem sua culpa, pois é extremamente desajeitado, e a cada 5 segundos faz algo estúpido e humilhante sem querer, é uma personagem humilde que de algum modo é abusada pelos colegas de trabalho. No início era uma personagem chata e sem grande interesse, contudo ao longo do desenrolar da história vai adquirindo importância, intrigando-nos por ter uma mulher "toda boa" e uma família perfeita; ninguém percebe. O sonho da personagem é reformar-se e viver felizes dias em casa com a mulher e filhas. O nome, que vai alternando ao longo das temporadas, é fruto de um engano cometido no dia em que entrou no departamento, pois teve medo de corrigir o seu chefe acabado por ser chamado de Jerry em vez do seu nome verdadeiro Garry.


Ben Wyatt (Adam Scott) só surgiu na série no fim da segunda temporada. Confesso que foi estranho ver o elenco ser invadido por caras novas, mas foi essencial para impulsionar a história. Ben é um nerd-geek que tem como profissão auditar cidades, a cargo do Estado, para cortar gastos. Nos primórdios, é odiado pelos colegas de trabalho, especialmente por Leslie, mas acaba por ser adorado por todos e alcança um lugar fixo e de destaque na série. Game of Trones, Batman, Star Trek, entre muitos outros filmes e personagens, são os temas de conversa da personagem que nunca encontra interessados em debater e é acusado de ser chato por todos. Tem também a peculiaridade de odiar pizza e amar calzone, além de ter o olhar para a câmara mais engraçado e chamativo de todos!


Chris Traeger (Rob Lowe) chegou à série com o Ben - era o seu colega de trabalho. Não foi odiado pelos colegas porque era extremamente simpático e otimista, bem como viciado numa vida saudável (de forma pouco saudável), que envolvia exercício físico desmesurado e uma alimentação extremamente saudável! De um certo modo, chega a ser irritante, por ser algo cínico, revelando o seu lado mais depressivo e triste quando tem uma crise de idade. Mais uma vez é um potencial personagem-tipo que personifica uma das tendências dos últimos anos, mais moda do que de preocupação, em que as pessoas passaram a abraçar a alimentação saudável e o exercício como sinal de adesão a uma trend.  Contudo, é dos personagens que não fica até ao fim da série, possivelmente por ter trabalhos na grande tela mais aliciantes economicamente, dado que é mais conhecido pela sua carreira no cinema.

A série estreou em 2009 e estendeu-se até 2015, altura em que terminou a sua 7ª e, infelizmente, última temporada. «Parks and Recreation» vai deixar saudade, no entanto mais vale que a série acabe em grande do que se arraste por anos como «How I Met Your Mother» e se torne numa grande desilusão. Mesmo que a partir da 5ª temporada tenhamos sentido, negativamente, o avançar quase à velocidade da luz do tempo nas histórias das personagens, talvez fruto do "medo" da NBC ter de cancelar repentinamente a série entretanto. Tanto que a última temporada dá um salto gigante. E mais não digo.



E vocês, vêem ou viram esta série e o que acharam dela? Deixem a vossa opinião nos comentários.