Tela Clássica: O culto de "Arrebato"
“Arrebato”, de Iván Zulueta, é talvez o filme mais obscuro de todos os filmes obscuros que eu conheço, e consegue misturar dois temas tão antagónicos, como drogas e vampirismo. A história envolve José, um cineasta a terminar o seu último filme (sobre vampiros). Envolvido com a sua ex-namorada viciada em heroína, ele tem que lidar com um filme registado em 8 milímetros pelo seu amigo Pedro, um filme caseiro que captura o estado de êxtase, que gradualmente mistura realidade com fantasia. A esta situação chamamos de “arrebato”. Iván Zulueta era um designer gráfico, no cinema e na música, que para além deste trabalho ficou também conhecido como autor dos cartazes dos primeiros filmes de Pedro Almodóvar, para além de ter trabalhado na promoção destas obras. Depois de algumas curtas e uma longa-metragem, conseguiu o apoio financeiro para realizar aquela que seria a sua obra-prima. Um arquitecto espanhol ajudou-o financeiramente, e, com a sua equipa, começaram a rodagem desta obra em casa do próprio realizador e de outros amigos. Grande parte da equipa de produção estava sob o efeito de drogas pesadas, e o resultado só poderia ser um filme tão surrealista como este “Arrebato”. O elevado consumo de drogas aumentou em bastante o orçamento do filme, que levantou problemas entre Zulueta e o produtor. Quando ficou pronto teve graves problemas na distribuição devido ao seu elevado experimentalismo e estilo underground, o que levou o filme a ficar cada vez mais raro e desconhecido. Mas “Arrebato” estava destinado a tornar-se numa obra de culto, e ao longo dos anos foi sendo considerado uma das mais importantes obras do cinema espanhol, assim como uma das suas maiores pérolas. “Arrebato” concorreu na primeira edição do Fantasporto, em 1982. Perdeu por pouco o título de melhor filme para uma obra jugoslava chamada “A Noite da Metamorfose”, porém, mesmo assim, venceu 3 prémios: Melhor Actor, Argumento e Prémio da Crítica. O Trabalho de Zulueta estava intimamente ligado com o de Almodóvar. Diz-se que a voz de uma das actrizes foi dobrada pelo próprio Almodóvar, o que não pôde ser provado porque este não aparecia nos créditos finais. Do elenco fazem parte alguns actores habituais dos filmes do realizador de “Matador”, como o par de protagonistas: Eusébio Poncela e Cecília Roth. Depois de “Arrebato”, Zulueta afastou-se do cinema durante bastante tempo, já que os problemas com a heroína se tornavam cada vez mais graves. Para trás ficava uma das maiores obras do cinema espanhol. Diz quem sabe.
Pelo convidado: Francisco Rocha
Mais uma vez o inconfundivel Francisco Rocha, desencanta da obscuridade mais uma obra de terrenos desconhecidos. Não conheço e ressalvo o valor da contextualização aqui feita, interessante e no fundo enriquecedor em termos cinéfilos. Diz-nos quem sabe realmente e... tá-se bem!
ResponderEliminarEspero nos próximos artigos também incursões por outros clássicos "mais clássicos", talvez também dos menos obscuros (é importante dar a conhecer o "desconhecido" - não me interpretem mal). E mais não sei dizer ou acrescentar...