"Johnny Guitar": o western pouco convencional

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Amado pelos europeus e alguns realizadores dos Estados Unidos, Nicholas Ray é considerado por muitos como um outsider de Hollywood. Mesmo depois do seu pico de forma, nos anos 50, ele tentou arrancar com alguns projectos mais ousados, mas sempre sem o apoio dos grandes estúdios. Foram os realizadores da Nouvelle Vague e da nova vaga alemã que, mais tarde, chamaram a atenção para Ray e o elevaram a estatuto de culto. Em 1954, fez um western que muitos consideram ser o seu melhor filme, apesar do sucesso de “Fúria de Viver”, com James Dean.

Baseado numa novela de Roy Chanslor, “Johnny Guitar” fala-nos da mudança dos tempos numa comunidade de criadores de gado, no Arizona, no velho Oeste. Apesar de ser considerado um western, e ter sido produzido no período de ouro do género, é uma obra infiel aos filões do género. “Johnny Guitar” é provavelmente o mais estranho de todos os westerns, uma verdadeira ópera de sexualidade reprimida, uma agressão velada sobre a mentalidade da Inquisição do senador Joseph McCarthy e a HUAC (the House of Un-American Activities Committee). Porém, independentemente de como se interpretam os simbolismos que Ray e o argumentista Philip Yordan colocam neste filme, ainda é um dos melhores filmes da década de 50, para não dizer de sempre. Existe até uma espécie de sociedade 'Johnny Guitar', que apresenta clipes e citações de realizadores como Martin Scorsese ou François Truffaut, que juraram uma fidelidade quase religiosa a esta obra.Sterling Hayden, um actor que não era exactamente uma grande estrela, mas tinha uma presença na tela inesquecível, é Johnny Guitar, um pistoleiro que ajuda a sua ex-amante, Vienna (Joan Crawford), a proteger o seu saloon da violenta oposição dos moradores, que temem os planos para a construção de uma estação ferroviária. Liderados por Emma, interpretada por uma brilhante Mercedes McCambridge, que ama o Dancin'Kid de Scott Brady, que por sua vez está obcecado por Vienna, a quem é dado 24 horas para deixar a cidade.

Basicamente a história é esta, todavia é difícil descrever porque é que "Johnny Guitar" é um filme tão fascinante. Em "Johnny Guitar", nenhum homem está disposto, ou, tem medo de lutar, e a acção é dominada por duas mulheres, agressivas, que se odeiam (mas também são estranhamente atraídas uma pela outra). O personagem do título é ao mesmo tempo o amante e o empregado da liderança feminina, que roubam toda a cena e não passa de um mero farrapo nas mãos destas.

Uma obra fascinante, um dos meus filmes preferidos de sempre. Que um dia ainda vai figurar no primeiro lugar do meu top.



Pelo convidado: Francisco Rocha.

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