Crítica: "Liebelei", 1933
Uma narrativa simples, sem grandes twists, mas com uma interessante abordagem e história - o amor no momento errado, mas vivido de forma genuína. Com personagens também sem grande profundidade psicológica, porém bem carismáticas, próprias dos anos 30. O filme alemão de Max Ophuls mostra a relação numa idade tenra entre um grupo de quatro jovens, a vida boémia dos comandantes e a procura do amor por uma jovem mulher. O desfecho triste, proporcionado por uma consequência de um actor já fora de tempo, leva a que o filme se torne ainda mais interessante e belo. Digno da vida real. A mescla de drama com romance torna assim este "Liebelei", ou "Namorico" em português, uma obra sensível e tocante.
Este foi o último filme realizado por Ophlus na Alemanha, antes de ser exilado, e por isso no imdb aparece com não creditado, isto é o seu nome foi retirado pelo exercito nazi na altura dos créditos do filme quando este foi distribuído. Este foi também o primeiro a ser realizado em exílio, porque quando regressou a París fez uma versão do mesmo em francês - algo normal naquele tempo, pois no início do período sonoro muitos realizadores desdobravam o seu filme em várias línguas. "Liebelei" é considerado como um dos filmes mais importantes da carreira do realizador por ter sido considerar o seu ponto de perfeição a nível técnico e a sua representação do mundo na película. É uma obra que mistura uma intensidade curiosa em cena, desde os cenários, apesar de aparecerem a preto e branco são belíssimos - exemplo, episódio em que ambos estão de casaco de peles e numa carruagem puxada por cavalos no meio da neve. As deixas são ainda um ponto a favor. São memoráveis, a uma dada altura a personagem feminina Christinne e Fritz têm um diálogo bastante comovente em que ambos discutem o que é amar para sempre, o mesmo responde que é amar para além da vida.
O que mais gostei na obra foi o facto de todo o conjunto ser tão atemporal como intemporal. Há pormenores que nunca encontraríamos em filmes actuais e que são inerentes ao próprio espírito dos anos 30, momentos, personagens, falas, cenários, decoração, indumentária. O filme consegue ser trágico de um modo elegante, a intensidade dos momentos não são exagerados, são ritmados com o que envolve o momento e tudo é acompanhado por muitas sonoridades agradáveis ao ouvido. Em suma, é tudo delicioso de se ver, sem necessitar de recorrer a grandes artifícios, e neste caso o preto neste caso fica-lhe bem.
Um pequeno grande filme, sem dúvida
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