Audrey Hepburn: A diva que partiu cedo demais
Audrey Hepburn é mais do que uma atriz dos filmes clássicos de Hollywood, é um ícone intemporal do cinema que é venerado e relembrado até aos dias de hoje.
Para sempre celebrizada pela sua personagem de Holly Golightly em «Breakfast at Tiffany’s» (1961), foi, no entanto, com «Roman Holiday» (1953), outro grande filme, que lançou a sua carreira propriamente dita, levando para casa um Oscar como Melhor Atriz; antes Audrey apenas tinha feito papéis pouco relevantes em cinema e séries de televisão.
Ao longo da sua carreira, a diva ou musa – ambos os títulos bastante dignos da mesma – Hepburn fez par com diversos atores relevantes do cinema clássico, curiosamente todos mais velhos, entre os quais Cary Grant, Fred Astaire e Humphrey Bogart.
«Sabrina» |
Muitas são as histórias paralelas aos vários filmes que abraçou com papéis inconfundíveis e memoráveis. Das muitas, recordo a ainda hoje lembrada relativa a «My Fair Lady» reconhecida como uma das grandes obras da sua carreira e como uma das grandes injustiças no que concerne à não-nomeação ao Oscar de Hepburn como Melhor Atriz, cuja estatueta nesse ano foi levada para casa por Julie Andrews, devido ao seu papel em «Mary Poppins». Ainda sobre isto, ficou no ar o facto de Audrey ter sido relegada pelo dobragem da sua voz neste filme (algo que deixou a atriz bastante triste e desapontada na altura), bem como da escolha não ter recaído sobre Andrews como seria esperado pela crítica. Também a par das gravações e projetos, neste caso do maravilho filme «Sabrina», ficou a história de romance com o ator norte-americano William Holden que teve um ponto final depois da atriz saber que o mesmo tinha realizado uma vasectomia; para quem não sabe, Audrey era apaixonada por crianças e um dos seus grandes sonhos era ter filhos e uma família numerosa, algo que posteriormente se complicou depois de múltiplos abortos que a levaram a uma depressão combatida por diversos trabalhos consecutivos no set.
«Funny Face» |
Outra curiosidade, é a de que o filme teria a dupla masculina de Cary Grant e William Holden inicialmente, mas Grant acabou por se desligar do projeto e, felizmente, o grande Humphrey Bogart fez um papel sublime e inesquecível que a meu ver deu uma textura ao filme que não teria sido possível com Grant, pois a fisionomia e idade de Bogart destacaram ainda mais o romance improvável, escrito e dirigido pelo talentoso Billy Wilder, entre a jovem Sabrina e o irmão mais velho da família para a qual o seu pai trabalhava. Ainda em plenos anos 50, o filme rendeu-lhe mais uma indicação ao Oscar, depois do primordial trabalho em «Roman Holiday» onde havia passado da nomeação para o vencer. Seguiram-se várias nomeações até ao fim da década de 60: «The Nun’s Story» (1959), «Breakfast at Tiffany’s» (1961) e «Wait Until Dark» (1967). Ainda a não esquecer foi o prémio póstumo entregue pela Academia em 1993 – o Prémio Humanitário Jean Hersholt - ao filho da atriz, por todo o trabalho humanitário realizado em vida por Hepburn que foi e sempre será um exemplo de bondade e talento que ajudou muitas pessoas por todo o mundo, como embaixadora e no campo combatendo a pobreza e miséria.
«Wait Until Dark» |
«Funny Face» é mais uma das obras de excelência onde a atriz brilhou num tom cómico e musical ao lado do hábil Astaire. Neste grande filme, a história narra a procura de um famoso fotógrafo de moda (Fred Astaire), que trabalha para uma conceituada revista feminina, por um “novo rosto” que viria a ser o de uma simples empregada de uma libraria (Audrey Hepburn), porém a história complexifica-se entre os dois e o trabalho dá lugar ao romance… Para além destes filmes já enunciados, «How to Steal a Million» é mais uma película imperdível, onde a própria é de novo protagonista mas desta vez ao lado de Peter O’Toole. Crime, comédia e romance são os ingredientes deste filme que apresenta-nos Nicole Bonnet, a filha de um falsificador de obras de arte que pede a um desconhecido (que invadiu a sua casa para roubar um objeto valioso) para a ajudar a impedir que percebam que o seu pai vende obras falsas...
Sobre «Breakfast at Tiffany’s», obra que marcou para sempre a sua carreira, é importante recordar que foi feito depois do nascimento do seu primeiro filho, que ocorreu depois de uma gravidez de risco, com Mel Ferrer. Aqui temos uma atriz diferente dos outros papéis até ao momento realizados. Temos uma mulher madura num papel que para muitos pode não ser óbvio sem nenhuma introdução, refiro-me ao facto de Holly, a personagem, ser uma acompanhante de luxo que foge do existencialismo inerente à sua verdadeira identidade. Foi um papel polémico e marcante, principalmente da forma que foi abordado, numa Hollywood ainda com muita censura e regras.
Há quem diga que o sucesso nunca anda de mãos dadas com a felicidade. Audrey Hepburn sofreu desse “mal”. Muitas foram as polémicas e problemas que assolaram a vida da atriz. Ao contrário do que se imagina não viveu sempre de privilégios. Ainda jovem, após estourar a Segunda Grande Guerra, e devido à Inglaterra se ter declarado contra a Alemanha a mãe da atriz mudou-se com ela para a Holanda para fugir ao conflito, contudo o pior aconteceu e o país das tulipas foi um dos atacados pelas forças nazis. Audrey passou fome e sofreu várias privações para conseguir sobreviver. Viu muitos dos seus parentes falecerem por essa altura, além de que operou com a Resistência ao colaborar com a troca de mensagens e espetáculos clandestinos de dança e canto para angariar dinheiro e comida para distribuir; curiosamente, diz-se que foi devido a estes episódios que Audrey declinou o convite para dar vida no cinema à personagem de Anne Frank… Anos mais tarde, tendo sobrevivido, ela e a sua mãe voltaram a Inglaterra, onde Hepburn estudou balé até ao momento que uma professora a demoveu de seguir esse sonho. Uma grande desilusão para a mesma, mas provavelmente sem isso nunca viria a ser a estrela que hoje conhecemos. Depois de fechada uma porta, abriu-se uma janela. E Audrey para sustentar a sua família fez trabalhos fotográficos como modelo e performances de dança e canto, até que um certo dia decidiu apostar na representação, tendo sido um documentário o seu primeiro trabalho - «Dutch in Seven Lessons».
«Funny Face» |
Por um mero acaso, em Paris foi encontrada pela escritora Collete que caiu nos encantos de Audrey e a convidou para protagonizar a peça da Broadway «Gigi». A crítica não foi muito recetiva à peça, mas todos ficaram fascinados pela atriz na altura ainda uma estranha para o grande público e intelectuais. Depois disto, Audrey participou no casting para Princesa Ann e o resultado já todos sabemos e pode ser visto em «Roman Holiday», que além de cair nas boas graças do público e críticos, lhe valeu um Oscar e a admiração de William Wyler e Gregory Peck.
«Roman Holiday» |
Voltando ao lado mais negro da sua vida… A atriz britânica sofreu de anorexia nervosa durante grande parte da sua vida, mas foi de cancro que viria a morrer ainda relativamente nova aos 63 anos de idade. Foi também casada duas vezes, uma com Mel Ferrer e outra com Andrea Dotti, teve dois filhos com os quais viveu depois de ambos os divórcios na Suiça até encontrar o seu último companheiro, Robert Wolders, com o qual nunca chegou a casar, talvez já desacreditada no matrimónio, mas com o qual viveu até aos seus últimos dias. Nos últimos anos que antecederam o fatídico acontecimento que tiraria ao mundo uma grande personalidade, Audrey abraçou o papel de Embaixadora da UNICEF, enquanto poliglota, viajou e ajudou pessoas por todo o mundo. No mesmo ano em que nasci, precisamente em 1989, fez o seu último papel (numa prestação especial) como Anjo no filme «Always», de Steven Spielberg.
«Always» |
Audrey Hepburn foi a quinta atriz e a terceira mulher a conseguir vencer os quatro principais prémios de entretenimento norte-americano (EGOT): Emmy, Grammy, Oscar e Tony. E é também uma das três personalidades femininas mais influentes do cinema até aos dias de hoje, juntamente com Katharine Hepburn e Bette Davis. Pelo talento, personalidade, estilo e bondade será para sempre recordada com carinho por todos os fãs, como a estrela que partiu cedo demais!
E por falar em estrela, o texto não está uma, mas está cinco! Muito bom ;)
ResponderEliminarMil obrigadas, Marco :)
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