Crítica: Hitchcock (2013), o rei do suspense

02:47:00 Unknown 2 Comments


A obra homónima sobre Alfred Hitchcock só poderia ser uma tragicomédia, com suspense, e um desvendar - apesar de dramático e hiperbólico, tendo em conta o ponto de vista da personagem - bem sentimental para com o seu cinema e mais que tudo, Alma. São proferidas no fim as palavras que mudam uma história de convivência de 30 anos. Sem notar, Alfred acerta na receita, Alfred sente, Alfred é único, singular, neurótico, mas sincero e um pouco infantil; Alfred é Hitchcock. Aquele que conhecemos dos filmes, seja como o eterno figurante ou como um dos maiores realizadores da história do cinema que mistura vários géneros, de modo irónico, sem se esquecer de uma ou outra morte lá pelo meio. Tal como os pássaros, uma das suas grandes "paixões", que um dia o levaram a fazer The Birds, a biopic que remonta os tempos, nos anos 50, nos quais o cineasta decidiu apostar em Psycho, mostram muito mais que um Hitch genial e louco, mostram um Hitch humano e que reconhece o seu sucesso nos olhos de quem o acompanhou durante uma vida inteira. Mesmo que no fim, tal como nos seus filmes, Alfred nos surpreenda - de uma forma que é inesperada tendo em vista a sua personalidade incomum e quase desumana - tal como a realização independente, na época, de Psycho foi para a sociedade. Era um filme difícil de resultar sem um conjunto de factores: desde a soundtrack na hora da famosa vítima da banheira, à obsessão por morte e estado de espírito de Hitchcock, que marcaram a obra. Helen Mirren está soberba numa papel que lhe assenta que nem uma luva, tem a idade, aspecto, presença certa, sem tirar nem pôr. Hopkins está deliciosamente hitchcockaniano, não tenta copiar o verdadeiro, tenta ser ele, à sua maneira, como se imaginasse o que é vestir um fato dissecado do homem que fez North by Northwest. O que resulta e nos faz crer numa personagem que tem tanto de terno como de irritante e caprichosa; que quer o bolo que não pode ter, num mundo cheio de deixas satíricas, até dizer chega, mas que resulta até ao último minuto. É uma obra, que acredito, fielmente, que o realizador gostaria de ver (é uma homenagem digna, que não é pesada nem nos assombra). Nem que fosse para ficar no negativo apenas. São várias as referências ao cinema, ao seu cinema, ao cinema que fez ou irá fazer, e isso tonar a biopic ainda mais interessante e não limitada. A um ponto que, mesmo para quem já leu sobre a pessoa, espera sempre algo de novo. Fica satisfeito ao ver tudo aquilo e desenvolve quase uma paixão pela eterna silhueta de perfil, que ao contrário do que acontece no filme Lincoln, mesmo que usada várias vezes, não cai no lugar comum, e assenta bem na película. Sente-se uma nostalgia daquele, que pelo menos eu, nunca conheci pessoalmente ou viveu na minha época. Sentimos emoções, identificação, através daquilo que ouvimos falar do cineasta, e que vimos ao longo de anos nos seus filmes. Imaginamos como será a vida de alguém tão controverso, todavia impossível de copiar. Porque é o conjunto que forma um todo que se contraria e nos faz conhecer pouco a pouco as suas fraquezas, frustrações, traumas e paixões. Ele não é mau, apenas foi "desenhado" de uma forma diferente, vê o mundo à sua maneira e foi com o cinema que tentou mostrar essa perspectiva  muitas vezes mal interpretada pelas distribuidoras e pelo grupo de pessoas que na altura dos filmes clássicos, no seu auge, combatiam os escândalos de Hollywood através da censura e de uma lista interminável de proibições e critérios, que aprovavam se o filme era ou não digno de ser exibido numa grande tela. O cinema clássico foi sempre e será belo e tem o seu lugar, mas o que poucos sabem é que o tem devido a um contexto específico, que tentou banir a sexualidade, o choque, as drogas, as mortes, tudo aquilo que era considerado imoral e impróprio a ser distribuído às massas no cinema. Em Hitchcock vemos esse momento histórico, provavelmente poucos perceberam do que se tratava, mas para os que entenderam, foi bonito de se ver que o realizador desta obra teve em conta esses detalhes históricos.
Psycho ficou para a história como um dos filmes de culto mais complexos (e de risco, porque empenhou as suas poupanças) que Alfred Hitchcock realizou na sua longa carreira, que extrapolou os 60 anos de idade. Nunca desistiu de fazer o que gostava, mesmo tendo sido duramente criticado por obras que hoje são adoradas: Vertigo, por exemplo.
O pouco que não consegui apreciar no filme foram duas presenças: Scarlett Johansson e Jessica Biel. Duas actrizes que considero fraquíssimas e que mesmo funcionando nos mínimos no filme, estragaram um pouco a fita que poderia ser bem mais perfeita com uma actriz com mais calibre e classe, pelo menos no caso de Johansson. Scarlett fez dela mesma, meteu impressão ver como é limitada e está sempre no mesmo registo,  desde A Rapariga do Brinco de Pérola (ouvi isto na zona de fumadores depois do filme, e senti quase vontade de felicitar a pessoa em questão) assim como as suas curvas foram usadas para vários planos de corte, sendo ela pouco mais que isso. Biel é apenas o que é, uma actriz conhecida e que foi encaixada no cast, a meu ver poderia ter sido melhor a escolha, mas pronto, o que está feito, está feito, e Hitchcock provavelmente faria o mesmo, pois sempre procurou a loira perfeita, a loira dos seus sonhos, que nunca apareceu, porque na realidade sempre esteve ao seu lado. É verdade, a Alma nunca nos abandona, nem no fim.

2 comentários:

  1. Acredito que alguns aspectos tenham sido exagerados para efeito dramático, li no Ípsilon da semana passada sobre isso, mas quero muito ver na mesma, o Hitchcock é uma figura única.

    Realmente, a Scarlet e a Jessica são muito mono, mas pronto, é engraçado isso de terem escolhido 2 loiras que assentem no papel como Hitchcock faria, não tinha pensado nisso :)

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  2. Acredita que vale mesmo a pena, e o Hitchcoc interpreta-o muito bem. Não nos guiemos pelo Y :).Acredita.

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