Crítica:"Comboio nocturno para Lisboa"

18:11:00 Unknown 2 Comments

Às vezes, é complicado percebermos como a vida nos está a escapar por entre os dedos, mesmo, mesmo, enquanto estamos parados a olhar para ela, a assisti-la como meros espectadores autistas ou inválidos  que parecem há muito ter perdido a capacidade de actuar. Sentir que o planos que nos desenharam parecem um estranho que passa por nós na rua e nos cria apenas uma certa confusão e mínima curiosidade, não é propriamente o mar de rosas com que todos nós sonhamos viver. É, talvez, o mais puros e dolorosos dos prazeres e torturas, que, ao longo da vida, temos de encarar, confrontar ou aceitar. Em "O Caminho Nocturno para Lisboa", Amadeu é uma personagem que deambula na mente de alguém que o quer sentir, por achar que a sua vida é bem mais interessante do que a que a dele alguma vez se potenciou a ser. Um suíço decide seguir as pisadas de uma mulher, cuja única lembrança dela é um casaco vermelho ensopado e os pés tremidos em cima do vão de uma ponte. Essa mulher leva-o a um livro, que, por sua vez, o leva a Amadeu. Um escritor, filósofo, que foi médico, mas quis ser mais... Porém, ironia do destino, nunca o pode vir a ser. A natureza é cruel. Deus é cruel. Ele existe? Ninguém o sabe; alguns acreditam ou juram que o fazem. É complicado, é asfixiante, ser um dos poucos mortais, numa época de ditadura que se tem de dividir em duas facções: por um lado os que lutam contra o regime - a resistência - e por outro aqueles que idolatram o regime salazarista e a sua polícia política. 

Amadeu era filho de pais ricos, mas apaixonou-se por uma ideologia dos pobres, teve como melhor amigo também alguém de poucas posses e, finalizou, apaixonado por alguém longe de vestir ouro. Vi-a mais além e, por isso, escreveu profundos pensamentos numa obra que foi única, com apenas 100 exemplares. Este é um resumo, que carece de muito mais que estas linhas, porque o filme podia ser bem mais, podia ser grande, podia transmitir o que apenas transmitiu em meia dúzia de deixas. Podia ser uma boa participação de Portugal no cinema. Mas não o foi.

A vida é fatalista, e também a de Amadeu foi. E a mensagem que podemos tirar daqui é a de que mais vale viver o agora e aquilo que temos, do que viver à espera de grandes feitos, contra algo, à descoberta de um mundo que não existe ou respostas inexistentes. Mais vale ficar em Lisboa.

2 comentários:

  1. Às vezes, é complicado percebermos como a vida nos está a escapar por entre os dedos, mesmo, mesmo, enquanto estamos parados a olhar para ela, a assisti-la como meros espectadores autistas ou inválidos que parecem há muito ter perdido a capacidade de actuar. Sentir que o planos que nos desenharam parecem um estranho que passa por nós na rua e nos cria apenas uma certa confusão e mínima curiosidade, não é propriamente o mar de rosas com que todos nós sonhamos viver. É, talvez, o mais puros e dolorosos dos prazeres e torturas, que, ao longo da vida, temos de encarar, confrontar ou aceitar.

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  2. Às vezes, é complicado percebermos como a vida nos está a escapar por entre os dedos, mesmo, mesmo, enquanto estamos parados a olhar para ela, a assisti-la como meros espectadores autistas ou inválidos que parecem há muito ter perdido a capacidade de actuar. Sentir que o planos que nos desenharam parecem um estranho que passa por nós na rua e nos cria apenas uma certa confusão e mínima curiosidade, não é propriamente o mar de rosas com que todos nós sonhamos viver. É, talvez, o mais puros e dolorosos dos prazeres e torturas, que, ao longo da vida, temos de encarar, confrontar ou aceitar.

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