Crítica: «The Revenant» (2015), de Alejandro Iñárritu

20:45:00 Unknown 0 Comments


O novo filme de Alejandro González Iñárritu, tal como o mesmo nos acostumou em obras passadas, tem uma competente direcção artística que passa tanto pela direcção de atores (com um Leonardo Dicpario a brilhar numa atuação mais física do que psicológica; com um Tom Hardy a vestir na perfeição um vilão multidimensional; com Will Poulter a dar o salto para o cinema de autor; Domhnall Gleeson irreconhecível e com uma performance irrepreensível), pela fotografia incrível que nos envolve num ambiente cru, hóstil, sem regras e selvagem, com uma caracterização magistral, bem como uma montagem exímia, onde os planos nos dão uma percepção 360º, onde por vezes até o espectador é um voyer presente com uma câmara curiosa e próxima que se molha com a chuva e se embacia com o sofrimento. Em «The Revenant» temos um jogo homem vs homem e homem vs natureza, em que a lei do interesse - no caso do urso de defender as suas crias, no dos indígenas de sobreviverem à conquista do homem branco, no caso de John Fitzgerald de defender as suas ambições mesmo que mesquinhas e erradas, e no caso de Hugh Glass de efetivar uma vingança de forma a fazer jus ao mal que lhe fizeram - fala mais alto entre as várias adversidades, malícia e perspectivas de perda que são apresentadas no filme. Baseado em factos reais, já exibidos anteriormente num filme e em outras histórias escritas, não é a primeira vez que a história de Hugh Glass é contada nem alterada. Muitos pontos já foram acrescentados no novo filme em que se mantém intactos alguns como o ataque do urso ao qual Glass sobreviveu e os dois colegas que ficara com ele no seu quase leito de morte (Fitzgerald e Bridge). Desta base, embora a história não seja o ponto mais forte do filme, foi dado um novo foco centrado na vingança e resiliência que concedeu à história uma complexidade mais interessante, mas que não atingiu o patamar de obra-prima pelo menos nesse ponto particular. Todavia, os visuais compensam, com uma experiência sensorial, profunda, ansiosa, que nos faz lutar pela personagem de Dicaprio (muito física como já mencionei, com pouco diálogo mas muito esforço emocional) e nos faz odiar (por dar corpo de uma forma tão realista ao vilão, algo em que o ator consegue ser mesmo bom desde «Bronson») a de Tom Hardy, numa longa mas nada aborrecida jornada (como é hábito nos filmes de Iñarritu, mas que tanto gostamos) que nos faz ir do 8 ao 80, com elementos tão inexoráveis e realistas como por vezes intercalados com cenas surrealistas e oníricas. Embora tenham havido comparações a Malick por parte da crítica, julgo que os mesmos que as fizeram certamente não conheceram o cinema de Iñárritu que não é d'agora que tem estes visuais, duração ou reflexões, o que faz com que custe ainda mais ler sobre isso; Tomemos por exemplo «Amores Perros», «21 Gramas», «Biautiful», «Babel» e/ou mesmo o seu mais recente e oscarizado «Birdman».

«The Revenant» é uma obra-prima das sensações que não é totalmente "prima" por a história não acompanhar o qb a sua grandiosidade técnica e qualitativa de performances que enchem o ecrã e olhos do espectador numa intensa viagem, com tanto de genuíno como exacerbado, onde tanto Hardy como Dicaprio brilham, mas onde irrevogavelmente o cunho de Alejandro Iñárritu está presente em cada take.

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