Crítica a TDKR: O Adeus ao Morcego.

19:53:00 Unknown 1 Comments

(Esta crítica contem alguns spoilers)
Pode não ser um filme perfeito e nem de perto se igualar ao segundo da trilogia do morcego, realizado por Nolan, mas certamente The Dark Knight Rises não deixou nenhum dos seus espectadores indiferente. A premissa segue os pontos fulcrais de uma intriga de super-heróis, como já havia acontecido nos anteriores, porém apresenta um conjunto de reflexões dignas de serem relembradas. Temos várias problemáticas em análise: a dificuldade de se ultrapassar um desgosto; de seguir em frente com a vida, de deixar o passado e encarar o presente; de tomarmos “ideias” como realidades e adiarmos um futuro melhor que, por vezes, por culpabilização ou simples tristeza, achamos que não merecemos viver. A luta entre o bem e o mal também faz a sua aparição ao longo do filme. São várias as personagens que lhe dão corpo. No entanto, Selena Kyle é talvez a que melhor a personaliza. Não directamente, porque não se auto-denomina assim, ela é Catwoman. Neste ponto, talvez o excesso de “realismo” dado ao “mundo de Nolan” deixe para trás o passado que tornou esta personagem mítica, e a mostre de um modo mais realista: como uma ladra com bastante agilidade. Talvez seja isso mesmo que o realizador propõe, a sua humanização: que seja apenas alguém que fez as escolhas erradas, mas que espera ter uma segunda oportunidade na vida para ser melhor. É bem possível. Mas a personagem tem uma importância bem maior. É aqui também que o factor confiança e esperança entram. É aqui que vemos Bruce Wayne a renascer das cinzas, após a morte da sua anterior amada e a voltar “a acreditar”. Esta mistura entre o lado obscuro e o lado bom remetem-nos um pouco para a dicotomia pela qual todos passamos: a de tomar a decisão certa. A de vencer obstáculos não físicos, que se alojam na nossa mente e coração. E não é por acaso que cada uma das personagens do filme tem uma função de demonstrar isso mesmo. 

Em TDKR, Christopher Nolan deslumbra-nos, mais uma vez, com um elenco delicioso de actores: desde a presença óbvia de Christian Bale (Bruce Wayne), a Marion Cottilard (Miranda), a Tom Hardy (Bane) e ainda ao talentoso Joseph Gordon-Levitt (Blake). Temos, no entanto, na pele de Selina Kyle, uma outra aquisição feminina, Anne Hathaway, da qual não sou grande fã, mas que confesso ter conseguido apreciar a sua prestação no decorrer do filme. Não conseguirá, pelo menos no meu imaginário, tirar o lugar à merecidíssima Michelle Pfeiffer, todavia não está de todo mal. É de salientar ainda a performance de JGL, que a cada filme parece melhor; é um actor em ascensão!


Contudo, o filme está longe de ter acertado por completo na receita. Mais alguns momentos seriam precisos para intensificar a química entre algumas personagens. Como a relação entre Wayne e Selina. Do mesmo modo que acredito, que ainda fosse mais essencial, esse tempo, para o romance que acaba por ser rápido demais, entre Wayne e Miranda.  Existem também algumas pontas soltas. Mas o filme é tão envolvente que apenas após ultrapassar a porta da sala é que consegui pensar nelas. No entanto, realmente existem, pois ficamos sem uma justificação para a força e tamanho de Bane. Sem saber como é que Selina tem aquela destreza, sem saber como após três meses dos polícias estarem presos debaixo da terra conseguiram sair com um aspecto tão "limpo" e nada devastado.

O que poderá deixar um pouco de decepção é o vilão escolhido. Começa bastante bem, prolonga a sua acção igualmente bem, mas no final não consegue dar aquele abanam, nem nos tirar o chão, como a personagem de Heath Ledger conseguiu com Joker. Não é justo fazer comparações, pois Tom Hardy faz um excelente papel como Bane, contudo o confronto final é esbatido por uma revelação que acaba por ofuscar a missão que achávamos ter primordialmente esta personagem. 

Ao longo do filme, temos muito suspense, acção e caos – como já é hábito. Temos do início ao fim uma simbiose de sentimentos impressa na grande tela, que atravessa o público como uma flecha. Não é uma obra-prima, não é o derradeiro da “trilogia”, não é, talvez, o final que todos esperaram, mas a meu ver consegue cumprir a sua missão: deixar o público de barriga cheia, hipnotizado, a ter uma espécie de avc sempre que surge um momento de tensão na narrativa. Por muito que lhe sejam apontados defeitos, é impossível negar o poder que este realizador tem sobre nós no que toca a contar histórias. E mais ainda: fazer de um blockbuster um filme com este nível artístico. Algo que a maioria dos seus colegas de profissão não consegue fazer com os filmes do mesmo género. A adaptação realista da bd ao mundo que conhecemos é um trunfo que desde Batman Begins, Christopher Nolan tem conseguido executar na perfeição e consequentemente revolucionado o conceito usado para dar vida às histórias que vem dos quadradinhos. É um mundo de ficção que ganha um significado inegável aos nossos olhos quando adaptado aquilo que conhecemos, tendo sempre por trás uma moral, que dá muito que pensar. Em suma, por tudo isto e muito mais, que poderão por vocês mesmos vivenciar se virem o filme, temos um trabalho merecedor de ser assinado por Nolan. Há momentos de arrepiar, que fazem com que público subitamente se cale e fique atento, se maravilhe. Sentimos uma aura inegável intrínseca a cada cena. Um jogo entre o espectador e o que virá a seguir. Desde as explosões, aos equipamentos tecnológicos, cidade e lutas, TDKR prende-nos e entretém-nos durante quase três horas sem aborrecer. Com direito ainda a twist e muitas revelações implícitas, mas que dão ao espectador o sentimento de que vale a pena o seu visionamento. 


Duvido que algum dos presentes não se tenha emocionado uma vez que seja. Não tenha abanado a perna com os nervos enquanto esperava pela próxima cena. Não tenha desesperado durante os sete minutos de intervalo para voltar ao filme. Não tenha ficado absorvido pro toda aquela intensidade que marcou a saga de Batman, de Nolan. 

Como disse no início deste texto, pode não ser o final que todos esperavam, todavia no fim de TDKR a vontade de bater palmas aquele espectáculo visual, pelo menos para mim, foi inegavelmente muito grande. O filme em si consegue pôr um ponto final digno à saga: com o fim de um herói e o início de um novo. Portanto, resta-me dizer um adeus ao morcego, que deixará, entre os fãs pelo menos, uma eterna saudade.



Nota: A passagem a negrito foi introduzida posteriormente nesta crítica. Aos que já a leram, fica aqui assinalado, para não estranharem esta nova informação.

1 comentário:

  1. Concordo com praticamente tudo o que foi dito, sobretudo naquilo que concerne à personagem interpretada por Tom Hardy.
    O Bane foi, durante grande parte do filme, a personagem mais poderosa de TDKR, no entanto, como mencionaste, passou de implacável a "servo" de um momento para o outro, sendo completamente "ultrapassado" no papel de vilão pela Talia Al Ghul. No entanto, considero excelente a escolha para o papel de Bane.
    Outra coisa, «A luta entre o bem e o mal também faz a sua aparição ao longo do filme...».
    A determinada altura, dei por mim a pensar sobre em qual dos lados estaria cada um deles, o bem e o mal.
    Anyway, boa review, Andreia! :)

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