Crítica: "Submarine" (2010)

01:21:00 Unknown 4 Comments


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“O oceano tem 9,65 km de profundidade” e “Submarine” tem isso e muito mais de intensidade. O filme apresentado por Bem Stiller, que devo confessar que não esperava envolvido num projecto destes, conseguiu superar as expectativas que já eram altas desde que vi o seu trailer.

Imaginem uma dimensão onde a gravidade não existe e o devaneio e introspecção passeiam de mãos dadas de encontro à sátira existencial do ser. Imaginem um corpo submerso e que procura uma reposta para tudo aquilo com que se depara ao longo da sua adolescência. E, agora, imaginem tudo isso num filme com 97 minutos. E voilá. Temos a receita de um dos – devo me atrever – mais recentes e estonteantes filmes deste ano, mesmo que seja de 2010, que problematizam o ‘eu’. “Submarine” submerge, assim, no quotidiano de um adolescente, cuja idade certa nunca é explicitamente dada a conhecer, assim como a personalidade que desafia a mente mais proactiva de todas. Entre peripécias, dramatismos e opções, a história leva-nos a três capítulos diferentes da vida do jovem neurótico. Nestes o amor, a doença, a separação e o perdão são temas presentes, mas nunca tratados de um modo regular ou totalmente trágico. Há sempre uma mecha de comicidade ou sátira; um certo humor negro intermitente; um certo drama lancinante. Uma linearidade interrompida pela confusão proporcionada pelo tom aleatório e irónico da vida. Uma amálgama de sensações, sentimentos e ideias, às quais não podemos ficar indiferentes ou dificilmente ficaríamos. Há o tratamento de problemas reais e tristes de uma forma divertida e exemplar.

Há o triunfo do bem, ou do que se deve entender por bem, sobre o mal. Assim chegamos ao indie quase prefeito. A inconstância, a excentricidade, as personagens extremamente profundas estão lá, está tudo lá nas quantidades certas. Nem muito sal, nem pouco.

Os actores, tanto os mais velhos como os mais novos, apresentam uma performance invejável. Vestem na perfeição a pele de cada personagem proposta. A fotografia é sublime, assim como os sets escolhidos. A verdade é que os defeitos neste filme, que sugere algo afundado ironicamente, quase não são identificáveis. “Submarine” cumpre muito bem a missão a que se propôs. Leva na sua bagagem um mundo incrivelmente complexo e completo, digno da vida real.

O filme distancia-se bastante de quase tudo o que vi até hoje. Não é único, certamente, mas reúne um conjunto de predicados bem apetecíveis e soberbos, que deixam o espectador deliciado com o espectáculo exibido perante os seus olhos.

A ideia de fazer um filme que fale da verdadeira essência de cada um de nós resultou por completo. Somos invadidos por uma sensação de auto reflexão quase involuntária, que apenas é possível através do excelente argumento que faz as delícias de qualquer cinéfilo kauffmaniano.

4 comentários:

  1. Obrigada, Chico :)...Desta vez, dou-te eu uma dica, tenta vê-lo. Achei mesmo muito interessante.

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  2. Sem dúvida alguma,um filme espetacular!
    Simples e complexo,bonito e trágico(ás vezes) =)

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